domingo, 1 de julho de 2018

Obsessões espirituais

A obsessão representa um estado alterado de consciência, causado por emissão externa determinada por entidade espiritual afinizada com o receptor. Tais irradiações resultantes do processo obsessivo, em sua maioria, mostram-se negativas, isto é, doentias pelo que determinam na organização mental. Esta conceituação, diante de imensos e variados acontecimentos, foi bem estudada pela Doutrina Espírita que lhe deu condições de veracidade, embora, desatentos e preconceituosos observadores, desconhecendo as razões espirituais, situam o processo obsessivo como sintomas originários, exclusivamente, na zona física dos tecidos cerebrais. O processo obsessivo vem acompanhando as civilizações e sendo interpretado de acordo com as selagens intelectuais das diversas épocas, quase sempre com coloridos místicos religiosos. Atualmente, a própria ciência vem apreciando tais mecanismos, pelos mais sérios e criteriosos modelos psicológicos, em que salientamos a psicologia transpessoal, mostrando a interferência espiritual e suas inserções nos lastros espirituais do receptor, quando específicas condições se façam presentes. Assim, os casos existentes representam as ações-reações diante de acontecimentos infelizes desencadeados e vividos entre os seres, gravados nos lastros do Espírito, quer no tempo presente ou em etapas encarnatórias pretéritas. Compreende-se que o componente obsessivo, com toda a carga de negatividade, em alcançando determinado indivíduo, visaria, pelo aparecimento do desajuste psicológico e respectivo sofrimento, a drenagem dos campos negativos, propiciando o equilíbrio evolutivo do ser. As variações estariam relacionadas com o biótipo psicológico que o próprio ser carrega, ao lado do teor energético inoculado e absorvido. O processo evolutivo colhe, diante das forças ações-reações de toda natureza, as experiências dolorosas que ocuparão os campos da vontade e dos sentimentos, tendendo ao equilíbrio psicológico. O processo obsessivo pode mostrar-se como um acontecimento individual, familiar ou coletivo, tudo dependendo dos fatores desencadeados dessas reações. Quase sempre a obsessão se daria do desencarnado para o encarnado, entretanto, o inverso pode existir mesmo sem o conhecimento consciente do emissor. Também, pode existir entre encarnados e desencarnados, respectivamente. Na tentativa de explicarmos como o processo se desenvolve, consideremos o tríplice aspecto do ser, constituído de Espírito lastreado em desconhecidas dimensões, apresentaria o centro irradiante de comando self, que se expressa, energeticamente, após adaptações nas diversas camadas até o Perispírito que, por sua vez, devidamente adestrado, vitaliza a organização física com seus 100 trilhões de células na espécie hominal. Acreditamos que, neste grande centro  o self, haveria a ressonância divina proporcionando a sustentação da vida com sua imortalidade. O campo emissor do desencarnado, que não possui o campo físico, se daria através de sua organização mais periférica, o perispírito, a buscar as vibrações afinizadas com o perispírito do receptor, este, por sua vez, naturalmente, se escoará pela zona física do receptor onde se aloja, desencadeando as vibrações sob forma distônica por serem vibrações deletérias. Bem claro que são as células nervosas, os neurônios, o campo receptor. Pensamos que os feixes perispirituais misturados, isto é, emissor e receptor, serão colhidos pelos núcleos celulares, obedecendo orientada trilha. O ponto inicial de chegada do bloco invasor seria o nucléolo de núcleo celular, como se fora um atrator e coletor de energias, a difundi-las pela fita cromossômica “DNA” onde se encontram os genes, os agentes da herança física que já se afirmou no organismo desde a sua formação. Desejamos informar que as correntes perispirituais responsáveis pela embriogênese do ser, consequência de impulsos do Espírito, trazem consigo o conteúdo do nível evolutivo, com o arsenal de nossas potencialidades hereditárias. Daí as tendências com as demarcações de nossas necessidades, grande parte de modo impositivo e outras tantas, oscilantes, atadas ao livre-arbítrio de nossa trilha de encarnados, cujas aquisições estarão diretamente ligadas às nossas atitudes e realizações, crescimento evolutivo e expensas das reencarnações. Implantadas na fita cromossômica, as energias espirituais orientadoras de mistura com a carga de vibração obsessiva, serão dirigidas para o soalho da célula nervosa, onde seu centro de força, o centro celular, faria a devida distribuição, a fim de alcançarem o quimismo dos neuro-transmissores, substâncias que trafegam pelo soalho celular e responsáveis pelo estofo psicológico da zona consciente. Bem claro que um processo dessa natureza deve estar revestido de imensa complexidade bioenergética, cuja estruturação ainda estamos longe de avaliar e compreender. As observações referentes ao campo das obsessões são variáveis e sempre ligadas aos degraus espirituais que cada ser consigo carrega, daí a grande dificuldade de uma classificação, embora Allan Kardec, com seu critério pedagógico, nos desse três variedades básicas: 
1. Obsessão simples, de fácil remoção pela psicoterapia espírita, ao lado da vontade pessoal de realizar um trabalho produtivo, condição de neutralização do processo. 
2. A fascinação, às vezes de difícil remoção, porquanto o agredido não se considera atingido, achando que seus pensamentos estão certos e normais, apesar de serem distoantes e anárquicos, tudo contribuindo e dificultando o apagamento do processo; 
3. A Submissão, onde os campos da vontade e demais equações psicológicas estão neutralizados e manietados pela agressão. O ser perde integralmente qualquer comando, seus impulsos mentais pessoais ficam inteiramente apagados e substituídos pelo componente agressor. Por aí estamos a sentir a dificuldade de descrever um quadro sintomático que nos forneça uma análise da instalação obsessiva. Ajunte-se a tudo isso, as variações individuais, tornando-se, muitas vezes, difícil uma análise criteriosa. Na tentativa de darmos algumas informações sobre o quadro obsessivo poderemos dizer que o sintoma básico que sempre acompanha a obsessão é a vampirização das energias do obsidiado, causando lenta desvitalização. Com a progressão, mesmo lenta dessa supressão de energias vitais, poder-se-á instalar um quadro depressivo reativo, sempre merecedor de cuidados. Ao lado da desvitalização o quadro patológico vai progredindo, com aparecimento de inquietações, indolência, perda da vontade e, o que é importante de análise, manifesta-se como pano de fundo, o medo, refletindo num complexo de culpa indefinido. Outros sintomas podem aparecer e traduzidos como psicossomáticos, por serem indefinidos, sem posição avaliativa, chegando a ser considerados como sintomas fantasmas. Com o progredir do processo, poderá haver, pela intensidade de inserções negativas, alucinação dos sentidos, com visões esdrúxulas, vozes incoerentes sempre presentes e agressivas, com sensações múltiplas, refletindo ingresso na patologia mental. Pelo visto, podemos dizer que as obsessões, mesmo dentro dos diversos graus de intensidade, variam desde as inquietações mais corriqueiras até as preocupações paralisantes. Podem responder por simples temores ou carregadas de ideias ansiosas e assuntos que envolvem os pensamentos, caminhando para a síndrome de pânico com processos compulsivos. As cargas vibratórias deletérias do agressor, absorvidas pela tela física cerebral, afetam os sistemas respiratórios e circulatório e, mais acentuadamente, a rede hormonal, a se refletirem em todo o sistema de defesa orgânica. Quem sabe, afetando as células-tronco naturais da organização física? Com isso, o sistema imunológico vai se tornando frágil e com defesas, praticamente, nulas. Os surtos obsessivos podem mostrar-se de modo intermitente, às vezes de tal ordem que o agredido acha que teve um inexplicável e passageiro sintoma sem consequências. A característica da intermitência da agressão obsessiva serve de base, a fim de atinarmos com o processo evitando sua progressão. É nesta fase intercrítica que devemos direcionar um adequado trabalho, dentro das possibilidades de cada caso, visando, principalmente, desviar o demarcante pensamento, com sua carga de sentimento de culpa para posições construtivas. Existem casos em que o processo obsessivo é causado exclusivamente pelo próprio indivíduo, com suas atitudes fantasiosas repetitivas e, muitas vezes, com insistentes pensamentos negativos. Referimo-nos ao ciúme, à inveja, desejo de vinganças e desforços diversos com atitudes agressivas; tudo concorrendo para um autêntico processo de auto-obsessão. Neste patamar, o narcisismo ocupa posição de destaque quando se observa a vaidade sob as mais variadas vertentes. Casos dignos de registro são os excessos de musculação nas academias, a fim de transformar o corpo em perfeição, exigindo exagerados esforços e ocupando muitas horas por dia. Bem claro que exercícios limitados e diários são benéficos e recomendados. Em nossa sociedade moderna como elemento nutridor de auto-obsessão, as plásticas, sem o sentido equilibrado das precisas indicações, representam deploráveis condições de desajuste fisiológico. Os abusos, de corrente observação, visando a composição do corpo físico com fútil finalidade, bem claro que o ser se condiciona a uma posição narcisista, com deformação dos campos da vontade e dos sentimentos, desorganizando a teia evolutiva. Muitas dessas desordens, pelos excessos de atitudes, podem descambar na hipocondria quando o ser, pelos excessos de medicações, sem adequada indicação, está visando à saúde perfeita de imediatos resultados que realmente não existem. Consideremos, de importância, que muitos casos obsessivos pretéritos podem exteriorizar-se em recentes reencarnações, trazendo, com isso, o componente das distonias mentais, em que o desvio de personalidade, as conhecidas reações histéricas, podem ter esta origem. Alguns casos de epilepsia, bem equacionados, podem estar enquadrados nas demarcações obsessivas do passado, daí a necessidade de apuradas pesquisas e cuidadosas observações. Pela nossa síntese descritiva os quadros obsessivos são amplos, resultado de amplas e desregradas atitudes humanas. O campo é vasto, oscilante, muitas vezes em consórcio com os distúrbios mentais, dificultando avaliações precisas. Somos daqueles que acreditam que, futuramente, o componente obsessivo melhor compreendido e bem estudado pela ciência fará parte da nosografia psiquiátrica.

O Evangelho Segundo o Espiritismo


O Evangelho Segundo o Espiritismo é um livro espírita francês. De autoria de Allan Kardec, foi publicado em Paris em 15 de abril de 1864.

Desequilíbrios reais (palestra)


Perseguidores invisíveis

No dia imediato, pela manhã, em companhia de entidades ignorantes e transviadas, dirigimo-nos para confortável residência onde espetáculo inesperado nos surpreenderia. 
O edifício de enormes dimensões denunciava a condição aristocrática dos moradores, não só pela grandeza das linhas, mas também pelos admiráveis jardins que o rodeavam. Paramos junto à ala esquerda, notando-a ocupada por muitas personalidades espirituais de aspecto deprimente. Rostos patibulares, carantonhas sinistras. Sem dúvidas, aquela construção residencial permanecia vigiada por carcereiros frios e impassíveis, a julgar pelas sombras que os cercavam. Transpus o limiar, de alma opressa. 
O ar jazia saturado de elementos intoxicantes. Dissimulei, a custo, o mal-estar, recolhendo impressões aflitivas e dolorosas. Entidades inferiores, em grande cópia, afluíram à sala de entrada, sondando-nos as intenções. De posse, porém, das instruções do nosso orientador, tudo fazíamos para nos assemelharmos a delinquentes vulgares. 
Reparei que o próprio Gúbio se fizera tão escuro, tão opaco na organização perispirítica, que de modo algum se faria reconhecível, à exceção de nós que o seguíamos, atentos, desde a primeira hora. Instado por Sérgio, um gaiato rapaz que nos introduziu com maneiras menos dignas, Saldanha, o diretor da falange operante, veio receber-nos. Pôs-se a fazer gestos hostis, mas, ante a senha com que Gregório nos favorecera, admitiu-nos na condição de companheiros importantes. O chefe deliberou apertar o cerco? Perguntou ao nosso instrutor, confidencialmente. Sim, informou Gúbio, de modo vago, desejaríamos examinar as condições gerais do assunto e auscultar a doente. A jovem senhora vai cedendo, devagarinho, esclareceu a singular personagem, indicando-nos vasto corredor atulhado de substâncias fluídicas detestáveis. Acompanhou-nos, um tanto solícito, mas desconfiado, e, em seguida a breve pausa, deixou-nos livre a entrada da grande câmara de casal. A manhã resplandecia, lá fora, e o sol visitava o quarto, através da vidraça cristalina. Mulher ainda moça, mostrando extrema palidez nas linhas nobres do semblante digno, entregava-se a tormentosa meditação. Compreendi que atingíramos a intimidade de Margarida, a obsidiada que o nosso orientador se propunha socorrer. Dois desencarnados, de horrível aspecto fisionômico, inclinavam-se, confiantes e dominadores, sobre o busto da enferma, submetendo-a a complicada operação magnética. Essa particularidade do quadro ambiente dava para espantar. No entanto, meu assombro foi muito mais longe, quando concentrei todo o meu potencial de atenção na cabeça da jovem singularmente abatida. Interpenetrando a matéria espessa da cabeceira em que descansava, surgiam algumas dezenas de corpos ovóides, de vários tamanhos e de cor plúmbea, assemelhando-se a grandes sementes vivas, atadas ao cérebro da paciente através de fios sutilíssimos, cuidadosamente dispostos na medula alongada. A obra dos perseguidores desencarnados era meticulosa, cruel. Margarida, pelo corpo perispirítico, jazia absolutamente, presa não só aos truculentos perturbadores que a assediavam, mas também à vasta falange de entidades inconscientes, que se caracterizavam pelo veículo mental, a se lhe apropriarem das forças, vampirizando-a em processo intensivo. Em verdade, já observara, por mim, grande quantidade de casos violentos de obsessão, mas sempre dirigidos por paixões fulminatórias. Entretanto, ali verificava o cerco tecnicamente organizado. Evidentemente, as formas ovóides haviam sido trazidas pelos hipnotizadores que senhoreavam o quadro. Com a devida permissão, analisei a zona física hostilizada. Reparei que todos os centros metabólicos da doente apareciam controlados. A própria pressão sanguínea demorava-se sob o comando dos perseguidores. A região torácica apresentava apreciáveis feridas na pele e, examinando-as, cuidadoso, vi que a enferma inalava substâncias escuras que não somente lhe pesavam nos pulmões, mas se refletiam, sobremodo, nas células e fibras conjuntivas, formando ulcerações na epiderme. A vampirização era incessante. As energias usuais do corpo pareciam transportadas às formas ovóides, que se alimentavam delas, automaticamente, num movimento indefinível de sucção. Lastimei a impossibilidade de consulta imediata ao Instrutor, porquanto Gúbio, naturalmente, se estivesse livre, nos forneceria esclarecimentos amplos, mas concluí que a infortunada senhora devia ter sido colhida através do sistema nervoso central, de vez que os propósitos sinistros dos perseguidores se faziam patentes quanto à vagarosa destruição das fibras e células nervosas. Margarida demonstrava-se exausta e amargurada. Dominadas as vias do equilíbrio no cerebelo e envolvidos os nervos óticos pela influência dos hipnotizadores, seus olhos espantados davam idéia dos fenômenos alucinatórios que lhe acometiam a mente, deixando perceber o baixo teor das visões e audições interiores a que se via submetida. Interrompi, no entanto, as observações acuradas, a fim de verificar a atitude psicológica do nosso orientador, que se arriscara à aventura para socorrer aquela senhora doente a quem amava por filha muito querida ao coração. Esforçava-se Gúbio por não trair a imensa piedade que o senhoreava, diante da enferma conduzida para a morte. Dentro de minha condição de humanidade, reconheci que, se a doente me fosse assim tão cara, não teria vacilado um momento. Movimentaria passes de libertação, ao longo do bulbo, retirar-lhe-ia aquela carga pesada e inútil de mentes enfermiças e, em seguida, lutaria contra os perseguidores, um a um. Nosso Instrutor, porém, assim não procedeu. Fixou a paisagem aflitiva com inequívoca tristeza, mas, logo após, demorou o olhar bondoso em Saldanha, como a pedir-lhe impressões mais profundas. Secretamente tocado pelo impulso positivo do nosso dirigente, o chefe da tortura se sentiu na obrigação de prestar-lhe informações espontâneas. Estamos em serviço mais ativo, há dez dias precisamente, elucidou, resoluto. A presa foi colhida em cheio e, felizmente, não contamos com qualquer resistência. Se vieram colaborar conosco, saibam que, segundo acredito, não temos maior trabalho a fazer. Mais alguns dias e a solução não se fará esperar. A meu ver, Gúbio conhecia todas as particularidades do assunto, mas, no propósito evidente de captar simpatia, Interrogou: E o marido? Ora, esclareceu Saldanha com escarninho sorriso, o infeliz não tem a menor noção de vida moral. Não é mau homem; todavia, no casamento foi apenas transferido de gozador da vida a homem sério. A paternidade constituir lhe ia um trambolho e filhinhos, se os recebesse, não passariam para ele de curiosos brinquedos. Hoje, conduzirá a esposa à igreja. E, reforçando a inflexão sarcástica, acentuou: Vão à missa, na esperança de melhoras. Mal acabara a informação, tristonho e simpático cavalheiro, em cuja expressão carinhosa identifiquei, de pronto, o esposo da vítima, entrou no aposento, com ela permutando palavras amorosas e confortantes. Amparou-a, prestimoso, e ajudou-a a vestir-se com esmero. Decorridos alguns minutos, notei, apalermado, que os cônjuges, acompanhados por extensa súcia de perseguidores, tomavam um táxi na direção dum templo católico. Seguimo-nos sem detença. O veículo, a meu ver, transformara-se como que num carro de festa carnavalesca. Entidades diversas aboletavam-se dentro e em torno dele, desde os pára-lamas até o teto luzente. Minha curiosidade era enorme. Descendo à porta de elegante santuário, observei estranho espetáculo. A turba de desencarnados, em posição de desequilíbrio, era talvez cinco vezes maior que a assembleia de crentes em carne e osso. Compreendi, logo, que em maior parte ali se achavam com o propósito deliberado de perturbar e iludir. Saldanha encontrava-se excessivamente preocupado com as vítimas, para dispensar-nos maior atenção e, intencionalmente, Gúbio afastou-se um tanto, em nossa companhia, a fim de confiar-nos alguns esclarecimentos. Penetramos o templo onde se comprimiam nada menos de sete a oito centenas de pessoas. A algazarra dos desencarnados ignorantes e perturbadores era de ensurdecer. A atmosfera pesava. A respiração fizera-se me difícil pela condensação dos fluidos semi-carnais ali reinantes; todavia, ao fixar os altares, confortante surpresa aliviou-me o coração. Dos adornos e objetos do culto emanava doce luz que se espraiava pelos cimos da nave visitada de sol; fazia-se perceptível a nítida linha divisória entre as energias da parte inferior do recinto e as do plano superior. Dividiam-se os fluidos, à maneira de água cristalina e azeite impuro, num grande recipiente. Contemplando a formosa claridade dos nichos, perguntei ao nosso Instrutor: Que vemos? não reza o segundo mandamento, trazido por Moisés, que o homem não deve fazer imagens de escultura para representar a Paternidade Celeste? Sim, concordou o orientador, e determina o Testamento que ninguém se deve curvar diante delas. Efetivamente, pois, André, é um erro criar ídolos de barro ou de pedra para simbolizar a grandeza do Senhor, quando nossa obrigação primordial é a de render-lhe culto na própria consciência; entretanto, a Bondade Divina é infinita e aqui nós achamos perante apreciável quantidade de mentes infantis. E sorrindo, acrescentou: Quantas vezes, meu amigo, a criança acalenta bibelôs, a fim de preparar-se convenientemente para as responsabilidades da vida madura. Ainda existem na Terra tribos primitivas que adoram o Pai na voz do trovão e coletividades vizinhas da taba que fazem de vários animais objeto de idolatria. Nem por isso o Senhor as abandona. A aquisição de fé, por isto mesmo, demanda trabalho individual dos mais persistentes. A confiança no bem e o entusiasmo de viver que a luz religiosa nos infunde modificam-nos a tonalidade vibratória. Lucramos infinitamente com a imersão das forças interiores no sublimado idealismo da crença santificante, a que nos afeiçoamos; todavia, o serviço real que nos cabe não se resume só a palavras. 
A profissão de fé não é tudo. A experiência da alma no corpo denso destina-se, de maneira fundamental, ao aprimoramento do indivíduo. É nos atritos da marcha que o ser se desenvolve, se apura e ilumina. Não obstante, a tendência dos crentes, em geral, é a de fugir aos conflitos da senda. 

Do Livro: Libertação 
André Luiz (espírito) e Francisco Cândido Xavier