Certo cidadão da nossa política escreveu, há tempos, um artiguete, explicando as razões pelas quais não acreditava nos fenômenos espíritas.
Perdera um filho na guerra e um amigo lhe havia informado que, segundo certa comunicação do Além, o rapaz estava ainda encarnado e bem de saúde.
Efetivamente, era uma contradição.
Semelhante fato, porém, não serve de argumento contra o Espiritismo.
Se no mundo físico estamos sujeitos a ser enganados por pessoas brincalhonas ou mentirosas, o mesmo sucede no mundo espiritual, porque o fato de um Espírito deixar o invólucro carnal não lhe confere uma moralidade que ele não possuía antes, assim como também não lhe altera a personalidade.
Lá, como cá, o Espírito está sujeito à educação, que pode dar resultados dentro de pouco ou de muito tempo. Tudo depende, evidentemente, do caráter em jogo.
O referido político, que é médico e já fez muitas vezes profissão de fé ateísta, não poderia mesmo aceitar o Espiritismo, como não aceita nenhuma outra doutrina religiosa.
Portanto, o seu cepticismo já está encruado.
Há muita gente que vai para o Espiritismo à procura do maravilhoso. Quer "milagres", esquecida de que o privilégio milagreiro está com a Igreja. Está ou esteve, porque, hoje, com o progresso, com o avanço da Ciência, com a rapidez das comunicações, a indústria milagreira perdeu sua força e está desaparecida.
Antigamente, qualquer coisa servia para embair a ingenuidade popular. Até um cometa que aparecia no céu era explorado pelos industriais do milagre.
Hoje, entretanto, as coisas estão mudando.
A Igreja, dotada de extraordinária faculdade mimética, vai-se adaptando depressa a situações que, antes, justificavam enérgicas reprimendas dos piedosos bonzos da Inquisição.
Mesmo dentro da seara espírita, o trabalho educativo é cada vez mais necessário.
Todos os dias o Espiritismo recebe novos adeptos e a maioria vem do Catolicismo, decepcionada porque a Igreja só lhes oferece quimeras, preocupando-se com o número dos que frequentam os templos e comparecem a certas exteriorizações festivas.
Alguns chegam ao Espiritismo imbuídos das ideias adquiridas no credo que abandonaram. E intentam fazer reformas nas práticas espíritas.
Querem santos, como se nós adotássemos ídolos em nossa crença. Procuram adaptar ritos que não são aceitos no Espiritismo. Daí o fato de certos confrades pouco esclarecidos pretenderem realizar "batismos", "casamentos", etc., como se o Espiritismo pudesse ser confundido com certas religiões que, para sobreviverem, tiveram de condescender com o paganismo, adotando-lhe métodos e sistemas.
Por isso, é importante que a Doutrina seja cada vez mais disseminada, não só pela palavra escrita como pela palavra falada.
Doutrina, Doutrina, Doutrina e Doutrina.
Os que assim procedem, da maneira a que nos referimos, merecem nossa paciência, mas não podemos com eles concordar, porque, se o fizermos estaremos concorrendo para a deturpação dos princípios e postulados divulgados por Allan Kardec.
Não é a assiduidade a sessões fenomênicas que define o espírita, mas o seu conhecimento da Doutrina e o esforço que realiza por exemplificá-la em cada vinte e quatro horas de sua vida.
Não nos interessam ritos, imagens, cânticos e demonstrações materiais de poder temporal, de pompa e vaidade. O que realmente nos interessa, e a quantos queiram permanecer fiéis à Doutrina Espírita, é a reforma íntima de cada um, a melhoria do homem, o apuramento moral, o estabelecimento da paz interior e exterior, o culto do bem, o combate ao mal pelo exercício da bondade, da caridade e do amor, porque isto, em última análise, é Cristianismo puro.
O espírita verdadeiro não estimula desarmonias, não dá curso à maledicência, não cede a impulsos egoístas, não dá mostras de intolerância, mas é firme em suas convicções, fiel à Doutrina e dotado de sólida determinação no cumprimento de seus deveres para com o Espiritismo.
Estudemos as lições doutrinárias, diariamente, porque encontraremos sempre novos pontos de esclarecimento e de orientação. E, sobretudo, guiemos os novos, aqueles que estão começando a sua jornada espírita, fazendo que se esqueçam totalmente das fantasias que religiões falidas ou em vias de decomposição lhes inculcaram na alma.
Uma das grandes tarefas do Espiritismo é reformar o homem, preparando-o para o Terceiro Milênio, já às nossas portas.
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Maio 1959