quinta-feira, 25 de julho de 2024

A paisagem humana do sofrimento

Para onde direciones o olhar detectarás o sofrimento humano presente, realizando o seu mister de burilamento dos Espíritos. Não que a Terra seja um lôbrego hospital, onde somente se encontram as aflições. Há bênçãos que se manifestam sob muitos aspectos, incluindo, é claro, a dor, que desempenha relevante papel no processo evolutivo dos seres. Na sua condição de escola de aprimoramento moral, a dor realiza um labor de fundamental importância para a educação do Espírito. Face à rebeldia que predomina na natureza humana, as propostas edificantes e iluminativas nem sempre recebem a consideração que lhes deve ser oferecida. E quando isso acontece as Soberanas Leis recorrem aos impositivos disciplinadores, entregando o calceta aos métodos de recuperação com caráter de severidade. Estabelecem-se, então, os programas de sofrimento purificador. Felizmente, o conhecimento da realidade espiritual proporciona os recursos hábeis para os enfrentamentos necessários à transformação moral. Ignorando-se a lógica da evolução, é compreensível que o quadro reeducativo transforme-se em cárcere punitivo ou fenômeno de castigo, levando o rebelde a situações deploráveis que somente as expiações severas logram equilibrar. Desse modo, ninguém surpreenda-se ao considerar grande parte da sociedade como um grupo de excelentes artistas que dissimulam as emoções e ocorrências menos felizes, dando a impressão de que a sua existência transcorre em calmaria e júbilos incessantes. Ninguém, no mundo físico, existe, que se encontre indene ao sofrimento. Enquanto uns iludem-se por algum tempo, dando a impressão de que são invulneráveis à dor, outros estorcegam no desespero, máscara retirada do rosto e marcas profundas de aflição macerando sem cessar... A dor é, sem dúvida, uma educadora sublime e incompreendida, cuja missão é tornar felizes os desventurados, desde que, em razão do fustigar dos seus acúleos, a consciência desperta para as finalidades sublimes da vida. Sob disfarces variados ou desnudado, o sofrimento campeia, conduzindo as mentes distraídas à reflexão inevitável. Este indivíduo trabalha no bem e supõe-se credor somente das bênçãos da saúde e das benesses materiais. Aquele outro, oferece sacrifícios e cumpre promessas na tentativa de subornar a Divindade que o isentaria do sofrimento. Vãos comportamentos esses, porque a ação do bem, sob qualquer aspecto considerada, faz-lhe bem, edifica-o, mas não o impede de vivenciar as experiências aflitivas encarregadas da aferição dos valores morais... Observas, quase com inveja, os outros que galvanizam as massas, que desfilam no pódio da fama, e ignoras os conflitos em que se debatem, a intranquilidade em que passeiam a beleza, o poder, as glórias, todas ilusórias... Os deuses do sexo recebem aplausos em toda parte, exibem os dotes eróticos que desenvolvem, acumulam somas monetárias expressivas, sofrendo em silêncio abandono e abusos de toda ordem, e lamentas a tua ausência de idênticos atrativos... Não sabes, porém, o quanto de solidão os assinala, quanto são explorados por outros que lhes concedem migalhas, o vazio existencial que experienciam... Os astros dos esportes de massas que atingem o máximo e têm tudo, bem jovens ainda, insatisfeitos e aturdidos, mergulham no alcoolismo, na drogadição, nas depressões profundas... Não é tua a dor, que somente a ti pertence... Jesus, que é o Excelente Filho de Deus, sem qualquer débito perante a Consciência Cósmica, elegeu no sofrimento acerbo, que não culminou na crucificação, pois que prossegue até hoje incompreendido, ensinando-nos resignação ante os aparentes infortúnios e proporcionando coragem diante das vicissitudes a que todos são chamados... Não te intoxiques com as queixas e reclamações ante os teus testemunhos. Poupa o teu próximo das tuas lamúrias, porque a dor é tua, mas também é de todos, pois que aqueles que eleges para narrar as dores também carregam pesados fardos, que vão procurando conduzir com elevação. Não creias que aquele que te aconselha viva em privilégio. A sabedoria com que te orienta haure-a no eito da aflição mantida com dignidade. Se conheces a reencarnação, sabes que todo efeito provém de causa equivalente e que, portanto, todas as ocorrências fazem parte do roteiro iluminativo de todos os seres. Consciente e conhecedor das Leis da Vida, alegra-te com o ensejo de crescer e de sublimar-te, avançando com coragem e destemor estrada afora, cantando o hino de louvor e de reconciliação. Agradece a Deus a oportunidade que te é oferecida para a recuperação moral e espiritual, cultivando o sentimento de paz, que tem função terapêutica no teu calvário, menos afligente, às vezes, do que o daquele a quem recorres buscando auxílio. O Espiritismo não é o mensageiro da eliminação do sofrimento. Antes é o consolador que te oferece recursos hábeis para que superes todo e qualquer conflito, amargura, provação, construindo o futuro melhor que te espera... A tempestade que vergasta a floresta é a responsável pelas futuras vergônteas exuberantes que se pejarão de flores e de frutos. O mesmo ocorre contigo. Tem paciência e nunca desistas da luta, nem te consideres perseguido pela Justiça Divina. A paisagem humana é abençoado rincão do processo evolutivo, pelo Pai oferecido ao Espírito que necessita desenvolver a sublime chama que lhe arde no íntimo. Renova-te sempre e sem cessar, fazendo que cardos sejam flores e feridas purulentas convertam-se em condecorações de luz. Bendize as tuas dores e transforma as lágrimas de agora em futuras pérolas de incomparável beleza, com que te coroarás ao término da jornada, vitorioso sobre a noite da aflições... 

Franco, Divaldo Pereira. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em 21 de novembro de 2011

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