quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Reforma íntima


 Quanto puderes, posterga a prática do mal até o momento que possas vencer essa força doentia que te empurra para o abismo. Provocado pela perversidade, que campeia a solta, age em silêncio, mediante a oração que te resguarda na tranqüilidade. Espicaçado pelos desejos inferiores, que grassam, estimulados pela onde crescente do erotismo e da vulgaridade, gasta as tuas energias excedentes na atividade fraternal. Empurrado para o campeonato da competição, na área da violência, estuga o passo e reflexiona, assumindo a postura da resistência passiva. Desconsiderado nos anseios nobres do teu sentimento, cultiva a paciência e aguarda a bênção do tempo que tudo vence. Acoimado pela injustiça ou sitiado pela calúnia, prossegue no compromisso abraçado, sem desânimo, confiando no valor do bem. Aturdido pela compulsão do desforço cruel, considera o teu agressor como infeliz amigo que se compraz na perturbação. Desestimulado no lar, e sensibilizado por outros afetos, renova a paisagem familiar e tenta salvar a construção moral doméstica abalada.   É muito fácil desistir do esforço nobre, comprazer-se por um momento, tornar-se igual aos demais, nas suas manifestações inferiores. Todavia, os estímulos e gozos de hoje, no campo das paixões desgovernadas, caracterizam-se pelo sabor dos temperos que se convertem em ácido e fel, a requeimarem por dentro, passados os primeiros momentos. Ninguém foge aos desafios da vida, que são técnicas de avaliação moral para os candidatos à felicidade. O homem revela sabedoria e prudência, no momento do exame, quando está convidado à demonstração das conquistas realizadas. Parentes difíceis, amigos ingratos, companheiros inescrupulosos, co-idealistas insensíveis, conhecidos descuidados, não são acontecimentos fortuitos, no teu episódio reencarnacionista. Cada um se movimenta, no mundo, no campo onde as possibilidades melhores estão colocadas para o seu crescimento. Nem sempre se recebe o que se merece. Antes, são propiciados os recursos para mais amplas e graves conquistas, que darão resultados mais valiosos. Assim, aprende a controlar as tuas más inclinações e adia o teu momento infeliz. Lograrás vencer a violência interior que te propele para o mal, se perseverares na luta.  Sempre que surja oportunidade, faze o bem, por mais insignificante que te pareça. Gera o momento de ser útil e aproveita-o. Não aguardes pelas realizações retumbantes, nem te detenhas esperando as horas de glorificação. Para quem está honestamente interessado na reforma íntima, cada instante lhe faculta conquistas que investe no futuro, lapidando-se e melhorando-se sem cansaço. Toda ascensão exige esforço, adaptação e sacrifício. Toda queda resulta em prejuízo, desencanto e recomeço. Trabalha-te interiormente, vencendo limite e obstáculo, não considerando os terrenos vencidos, porém, fitando as paisagens ainda a percorrer. A tua reforma íntima te concederá a paz por que anelas e a felicidade que desejas. 

Divaldo Franco. Da obra: Vigilância. 
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Caminhos do coração

Multiplicam-se os caminhos do processo evolutivo, especialmente durante a marcha que se faz no invólucro carnal. Há caminhos atapetados de facilidades, que conduzem a profundos abismos do sentimento. Apresentam-se caminhos ásperos, coalhadas de pedrouços que ferem, na forma de vícios e derrocadas morais escravizadores. Abrem-se, atraentes, caminhos de vaidade, levando a situações vexatórias, cujo recuo se torna difícil. Repontam caminhos de angústia, marcados por desencantos e aflições desnecessárias, que se percorrem com loucura irrefreável. Desdobram-se caminhos de volúpias culturais, que intoxicam a alma de soberba, exilando-a para as regiões da indiferença pelas dores alheias. Aparecem caminhos de irresponsabilidade, repletos de soluções fáceis para os problemas gerados ao longo do tempo. Caminhos e caminhantes! Existem caminhos de boa aparência, que disfarçam dificuldades de acesso e encobrem feridas graves no percurso. Caminhos curtos e longos, retos e curvos, de ascensão e descida, estão por toda parte, especialmente no campo moral, aguardando ser escolhidos. 
 Todos eles conduzem a algum lugar, ou se interrompem, ou não levam a parte alguma... São, apenas, caminhos: começados, interrompidos, concluídos... 
Tens o direito de escolher o teu caminho, aquele que deves seguir. Ao fazê-lo, repassa pela mente os objetivos que persegues, os recursos que se encontram à tua disposição íntima assinalando o estado evolutivo, a fim de teres condição de seguir. Se possível, opta pelos caminhos do coração. Eles, certamente, levarão os teus anseios e a tua vida ao ponto de luz que brilha à frente esperando por ti. 
 O homem estremunha-se entre os condicionamentos do medo, da ambição, da prepotência e da segurança que raramente discerne com correção. O medo domina-lhe as paisagens íntimas, impedindo-lhe o crescimento, o avanço, retendo-o em situação lamentável, embora todas as possibilidades que lhe sorriem esperança.
 A ambição alucina-o, impulsionando-o para assumir compromissos perturbadores que o intoxicam de vapores venenosos, decorrentes da exagerada ganância. 
 A prepotência anestesia-lhe os sentimentos, enquanto lhe exacerba as paixões inferiores, tornando-o infeliz, na desenfreada situação a que se entrega. 
 A liberdade a que aspira, propõe-lhe licenças que se permite sem respeito aos direitos alheios nem observância dos deveres para com o próximo e a vida; destruindo qualquer possibilidade de segurança, que, aliás, é sempre relativa enquanto se transita na este física. 
 Os caminhos do coração se encontram, porém, enriquecidos da coragem, que se vitaliza com a esperança do bem, da humildade, que reconhece a própria fragilidade, e satisfaz-se com os dons do espírito - ao invés do tresvariado desejo de amealhar coisas de secundário importância - os serviços enobrecedores e a paz, que são a verdadeira segurança em relação às metas a conquistar. 
 Os caminhos do coração encontram-se iluminados pelo conhecimento da razão, que lhes clareia o leito, facilitando o percurso. 
 Jesus escolheu os caminhos do coração para acercar-se das criaturas e chamá-las ao reino dos Céus. Francisco de Assis seguiu-Lhe o exemplo e tornou-se o herói da humildade. 
 Vicente de Paulo optou pelos mesmos e fez-se o campeão da caridade. Gandhi redescobriu-os e comoveu o mundo, revelando-se como o apóstolo da não-violência. Incontáveis criaturas, nos mais diversos períodos da humanidade e mesmo hoje, identificaram esses caminhos do coração e avançam com alegria na direção da plenitude espiritual. Diante dos variados caminhos que se desdobram convidativos, escolhe os caminhos do coração, qual ovelha mansa, e deixa que o Bom Pastor te conduza ao aprisco pelo qual anelas. 

 Divaldo Franco
 Da obra: Momentos de Felicidade. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. 

Prece de Agradecimento (vídeo)


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A evolução da Terra


Na obra de Deus reina a perfeição, nela tudo é útil e harmonioso, o Universo infinito é algo sublimado e transcendental, que jamais poderá ser descrito pela linguagem humana. 
 Já se eclipsou na voragem do tempo, a época em que se supunha ser a Terra o centro do Universo. A teoria geocêntrica foi suplantada pela heliocêntrica e, após Galileu, as teologias terrenas tiveram que rever seus dogmas e seus conceitos, Jesus Cristo definiu esses mundos como sendo outras tantas moradas para o Espírito em sua escalada evolutiva rumo à perfeição. 
 A casa do Pai é o Universo todo, e as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, oferecendo aos Espíritos estações apropriadas ao cumprimento de um prolongado processo evolutivo. 
 Os diversos mundos possuem condições muito diferentes uns dos outros, no tocante ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes, pois nem todos desfrutam do mesmo grau de progresso, existem mundos inferiores à Terra, tanto física como moralmente, outros estão no mesmo nível e outros lhe são mais, ou menos, superiores em todos os aspectos.
 Os Espíritos, ao longo do seu processo evolutivo, habitam as diferentes moradas da Casa do Pai, tendo como ponto inicial o estado de simplicidade e ignorância; caminham através de uma escala bastante prolongada, possuindo como meta a angelitude, nos mundos que já atingiram um grau superior de evolução, as condições da vida moral são muito diferentes daquelas que se verificam na Terra. 
 O corpo nada tem da materialidade terrena e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às enfermidades e às deteriorações oriundas da prevalência da matéria, a menor densidade específica torna mais fácil a locomoção. 
 A Doutrina Espírita propicia aos homens uma visão bem mais clara e ampla do Universo, fazendo com que eles descortinem novos horizontes, animando-os da certeza da imortalidade da alma e do futuro radiante e grandioso que os aguarda. Embora seja tarefa sumamente difícil fazer uma classificação absoluta dos mundos, os Espíritos estabeleceram uma escala com cinco categorias distintas: 

 1. Mundo Primitivo: Onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana. 
 2. Mundo de Expiação e Provas: Onde o mal predomina. 
 3. Mundo de Regeneração: Onde as almas que ainda têm algo a expiar adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta. 
 4. Mundos Felizes: Onde o bem predomina sobre o mal. 
 5. Mundos Divinos ou Celestes: Onde moram os Espíritos purificados e o bem reina plenamente. 
 A Terra está situada na faixa dos mundos de expiações e de provas, nela ainda predominando o mal; entretanto, afirmam os Espíritos Benfeitores que, futuramente, ela ascenderá à categoria de mundo de regeneração. 
 Espíritos que habitam os mundos mais adiantados podem reencarnar na Terra para o desempenho de determinadas missões. 
 Os apóstolos de Jesus, sem sombra de dúvida, eram Espíritos de elevada hierarquia, que aqui vieram com a missão grandiosa de acompanhar o Mestre no seu sublime messiado. 
 Espíritos elevados que eram, encarnaram num mundo denso, onde predominava a maldade; eles sentiram-se deslocados e por isso, Jesus lhes disse: "Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim", acrescentando logo a seguir: "Há muitas moradas na Casa de meu Pai, se assim não fosse eu vo-lo teria dito". (João 14:1-2) Como se pressentindo que aqueles homens se sentiriam desprotegidos e desamparados após a sua partida para as regiões celestiais, o Mestre lhes acenou com a afirmativa de que "Ele iria na frente para lhes preparar o lugar". Isso naturalmente, para lhes demonstrar que, dada a elevação de seus Espíritos, eles não eram deste mundo e a eles estavam reservadas moradas nas regiões mais sublimes, este ensinamento de Jesus não era exclusivamente destinado aos apóstolos, mas extensível a todas as criaturas.

Transição Planetária


Estamos no limiar da grande transição, em que o nosso planeta passará da condição de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração. 
Isso já constava no planejamento celestial há muito tempo e não se dará, obviamente, num passe de mágica, pois se trata de um processo de transformação lento e gradual, porém, impostergável. 
 As tragédias naturais, como o tsunami do Oceano Índico, objeto de nossas considerações, fazem parte desse processo, pois elas têm o objetivo de fazer a Humanidade progredir mais depressa, através do expurgo daqueles Espíritos calcetas, refratários à ordem e à evolução moral e espiritual, que já não podem mais ser retardadas.
 Eles passarão algum tempo em outras esferas, aprendendo as leis do Amor e do Bem, até que tenham condições de retornar ao nosso planeta, para dar seu contributo em benefício do progresso da Humanidade. 
  Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Substitui-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. 
A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares.

(A GÊNESE, de Allan Kardec – A geração nova, Cap. XVIII – Itens 27 e 28)

Transição Planetária - Bezerra de Menezes (vídeo)


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Livre Arbítrio

Para a Doutrina Espírita não há destino, não há predestinação, não há sorte ou azar.
 O futuro é construído todos os dias. Através de pensamentos e ações, o espírito e seu grupo cultural escolhem e determinam seus caminhos, exercitando uma característica indissociável do ser inteligente: o livre-arbítrio. A evolução é o fundamento da vida e ocorre pela aquisição de conhecimentos em sentido amplo: técnico, afetivo, emocional, moral, filosófico, científico, religioso. O espírito adquire conhecimentos novos através das experiências, vivências e convivências acumuladas ao longo de sucessivas situações pelas quais passa, tanto no polissistema espiritual como no material. Ao somar conhecimentos novos, o ser modifica a visão que tem de si mesmo, dos outros, do mundo e de Deus, ou seja, amplia a sua consciência, evolui. O conhecimento e o comportamento resultantes das situações enfrentadas delimitam um caminho próprio para cada ser inteligente. De acordo com as suas escolhas, ele tem experiências diferentes e, em consequência, conhecimentos diferentes, que desenham uma sequência própria que lhe confere individualidade. Na construção do perfil que caracteriza como único cada espírito (inteligência, afeto, sentimento, valor, consciência) a liberdade de escolha, o exercício do livre-arbítrio, é o que permite ao ser inteligente alcançar os objetivos da vida. Os segmentos de conhecimento acumulados pelo espírito no decorrer de suas experiências determinam, proporcionalmente, uma capacidade de entendimento, compreensão e construção. O conhecimento que o espírito possui permite que ele solucione várias situações da vida. Dentro do limite do que já é conhecido pelo espírito as situações não se constituem em dificuldade e a sua resolução contribui para que os que convivem com o espírito alcancem, também, o conhecimento que ele domina. Entretanto, como as experiências vividas são limitadas, o que o espírito sabe também é limitado. As dificuldades apresentadas na superação de algumas situações indicam as limitações do espírito. A solução, o conhecimento capaz de resolver a dificuldade, no entanto, não se encontra pronta; deve ser construída, adaptada às características únicas da situação e das pessoas envolvidas. A construção da resposta se faz da própria experiência do espírito ou da experiência acumulada pelo outro, encarnado ou desencarnado, que será adaptada ao edifício de conhecimentos do espírito, de acordo com a sua capacidade de raciocínio, seus sentimentos, seus valores e seu entendimento. É a liberdade de escolha que determina quais segmentos de conhecimento, tanto em qualidade como em quantidade, serão assimilados e como serão acomodados e equilibrados em relação aos conhecimentos que já constituem o ser, de forma coerente, para sustentar comportamentos. As situações que o espírito enfrenta ao longo de sua trajetória, tanto no polissistema espiritual como no material, podem ser uma consequência direta de suas atitudes anteriores, ou podem ser condicionadas por variáveis além do seu controle. Entretanto, a escolha que o espírito adota diante da situação apresentada é de sua completa responsabilidade. Dentro dos limites de seu entendimento, o espírito é responsável pelas consequências, efeitos, desdobramentos e novas situações geradas a partir de suas decisões. Diante do desafio e de acordo com sua liberdade de escolha, a resposta do espírito poderá estar situada entre o "hediondo" e o "sublime". No entanto, com maior probabilidade, a resposta será compatível, coerente, com as decisões anteriores que a pessoa já tomou. Haverá escolhas mais ou menos adequadas para um certo espírito em um dado momento. Como os caminhos são múltiplos e as situações enfrentadas são diferentes, as respostas deverão ser diversas. O critério para se encontrar a resposta mais adequada será sempre individual. A coerência entre a verdade alcançada e a sua prática deverá nortear a escolha consciente. Quanto maior o cruzamento de experiências que puder ser mobilizado e considerado antes da tomada de decisão, maior a probabilidade dela estar coerente com a história de vida da pessoa até então; maior a chance da decisão preencher a necessidade do espírito naquele momento. O autoconhecimento, portanto, é fundamental, para o exercício pleno do livre-arbítrio. Escolhas que afastem o ser inteligente da coerência com sua história propiciam desdobramentos com menor qualidade ou quantidade de experiências e, consequentemente, reduzem o aproveitamento daquela sequência de experiências. Muitas vezes, no entanto, as consequências de uma atitude ou pensamento podem não ser tão significativas. A escolha pode alterar a ênfase e a direção da trajetória, modificando as possibilidades existentes, mas sem conotação positiva ou negativa. As experiências possíveis, após a decisão, passam a ser diferentes das planejadas, mas igualmente significativas para a evolução do espírito na medida em que segmentos diferentes de conhecimento são explorados. As consequências que se seguem ao exercício de escolha, propiciam experiências que vão contribuir para o crescimento do espírito na medida em que ele, consciente, se empenhe em aproveitá-las. O espírito cresce na medida em que se esforça por preservar ou ampliar as experiências que são favoráveis ou modificar as que não são adequadas. O exercício do livre-arbítrio sofre a influência dos chamados paradigmas da cultura, da inteligência e da contingência, que podem potencializar ou dificultar o seu exercício pleno. As influências sobre o livre-arbítrio são em primeiro lugar relativas ao conhecimento alcançado. Quanto maior o domínio sobre um segmento de conhecimento, tanto maior será o entendimento e a responsabilidade sobre as decisões. As decisões tomadas por uma pessoa, no exercício de seu livre-arbítrio, podem alterar, potencializar ou limitar o exercício do livre-arbítrio de outras pessoas. O exercício do livre-arbítrio é tanto uma atividade individual como do grupo social. As limitações e as capacidades do espírito se relacionam com as do grupo. As limitações e as capacidades do grupo refletem a soma da mentalidade de seus membros, determinando uma massa crítica que sustenta ou inibe algum tipo de comportamento. O meio cultural, no qual um espírito está encarnado, determina um quadro dentro do qual ele passa a se mover. Este quadro facilita atitudes e comportamentos na medida em que algumas soluções já experimentadas estão à disposição como exemplo. Em contrapartida, pode limitar, ao aceitar apenas comportamentos com características aceitas pelo grupo, dificultando a exteriorização das potencialidades do espírito. Atitudes que atuem contra a mentalidade dominante do meio cultural exigem maior esforço para a sua sustentação, necessitando do apoio de um referencial diferenciado. O grupo cultural evolui, muda seu comportamento, na medida em que seus membros evoluem, ou seja, esforçam-se para romper suas limitações, que também são, em parte, as do grupo. O grupo, não esquecendo de considerar aqui a família, pode determinar, criticar, inibir, sustentar, reforçar, permitir, propiciar, direcionar, induzir, limitar e estimular pensamentos e atitudes. O meio cultural é a maneira pela qual uma pessoa compartilha suas experiências com os outros. A inteligência, como capacidade de resolver problemas, determina uma ou algumas abordagens preferenciais que selecionam o que será considerado como problema, as respostas alcançadas e os caminhos que serão utilizados. Se há facilidade por um lado, por outro limitam-se as opções. A forma pela qual a cultura, associada às características biológicas estruturou a inteligência, direciona a solução de problemas. Há ainda, afetando o livre-arbítrio, as chamadas contingências, entendidas como incertezas sobre se uma coisa acontecerá ou não, o que pode ou não suceder, o eventual, o incerto, determinado por variáveis fora do controle da vontade da pessoa ou grupos envolvidos. O espírito que reencarna se submete a algumas condições pelo fato de estar na Terra que também afetam o exercício do livre-arbítrio. A alimentação, o sono, o envelhecimento, as limitações do físico, da visão, da audição, as formas de comunicação, as condições do meio ambiente, etc. Dentre os conceitos fundamentais que compõe o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento.

Mágoa...Você pode superar! Uma visão espírita!


 A sabedoria humana, através dos séculos, nos legou um número significativo de orientações e percepções que são capazes de nos auxiliar e confortar em momentos difíceis. Em primeiro lugar é necessário que nos lembremos de que somos humanos e que a experiência que estamos experimentando de maneira tão dolorosa está sendo e já foi vivida por milhares de pessoas. 
Quando refletimos sobre isso podemos nos perguntar sobre como essas pessoas reagiram a esse sentimento tão devastador que é a mágoa. Será que todos sucumbiram? Tiveram suas vidas destruídas? 
Tiveram que conviver a vida inteira com esse sentimento? A conclusão a que chegamos, com toda a certeza é de que podemos classificar essas pessoas em dois grupos distintos: 

01) Aquelas que não superaram; 
02) Aquelas que superaram totalmente; Não é difícil identificar nos dois grupos sugeridos aquele que mais sofre, aquele a quem o sentimento de mágoa mais maltrata. 

É importante procurarmos saber em que grupo estamos, para então darmos o próximo passo. Em segundo lugar precisamos fazer uma pergunta sincera, que venha de dentro de nosso coração, e buscar de todas as maneiras uma resposta que nos satisfaça: 
É possível superar a mágoa? E se a resposta for sim. 
O que é preciso fazer para superá-la? É possível chegar a uma resposta através da leitura de textos que falem sobre o assunto, da orientação de pessoas que trabalham com aconselhamento, de amigos, de pessoas mais experientes e assim por diante. 
O importante é que nos entreguemos à busca de uma resposta. Caso cheguemos, através de nossos esforços, a uma resposta afirmativa nos habilitamos ao próximo e, talvez, o mais importante passo. 
Se concluirmos que é possível superar a mágoa o passo seguinte, independente de quem tenha nos provocado a mágoa ou do motivo, consiste em fazermos outra pergunta e entregarmo-nos corpo e alma para respondê-la. Não devemos nos justificar, só observarmo-nos e responder. 
A pergunta que precisamos responder é: eu quero superar essa mágoa? quero de verdade? quero acima de tudo? Quero com todas as minhas forças? Quero mais do que qualquer outra coisa? Se não conseguirmos responder essas perguntas com convicção isso pode indicar que estamos querendo, ao menos no momento, alguma coisa diferente daquilo que pode nos fazer superar a mágoa, podemos estar querendo justamente aquilo que faz com que permaneçamos atormentados por esse sentimento tão destrutivo.
 É perfeitamente humano e normal nos sentirmos feridos, desapontados e machucados quando alguém trai a nossa confiança, nos lesa, nos ofende, ainda mais se essa pessoa pertence ao nosso círculo de afetos. Temos o direito de sentir raiva dessa pessoa, mas entendamos, raiva e não mágoa, porque raiva é algo que dá e passa, mágoa não, a mágoa é irmã gêmea do ressentimento e esse é o grande problema, ficar sentindo uma emoção negativa indefinidamente. Com isso sofremos sempre que a situação nos vem à lembrança. Se conseguimos sentir raiva, ainda que seja intensa ela vai passar. Por isso, ela não nos destrói com o passar do tempo. Quando observamos a resposta às perguntas sugeridas e, sem rodeios, com toda a sinceridade possível, admitimos se queremos ou não superar a mágoa, conseguimos ter uma idéia do que precisamos fazer e do quanto teremos que nos dedicar ao processo de superação. Se respondemos que queremos superar a mágoa isso quer dizer que faremos tudo o que for necessário para alcançar esse objetivo. Se respondemos que não queremos superar a mágoa porque o orgulho não deixa, porque não podemos esquecer o prejuízo sofrido, porque não conseguimos nem pensar em quem nos magoou que isso dá dor de barriga, é claro que não estaremos preparados para fazer o que é necessário. Por isso, devemos responder e nos adaptar à realidade de nossa condição atual. Para quem acredita que é possível superar a mágoa e quer realmente superá-la o auxílio vem pela compreensão e adoção sincera dos ensinos contidos no evangelho de Jesus Cristo, que há dois mil anos nos ensina a deixar a cruz pesada de sentimentos e comportamentos incompatíveis com a frequência vibratória de Deus nosso criador. Ele nos respondeu, por exemplo, a quantas vezes devemos perdoar, como devemos tratar nossos inimigos, como devemos amar nosso próximo. Ele nos ensinou que não devemos nos esquecer de que aqui tudo é transitório, pois iremos todos morrer um dia e que tudo o que possuímos deixará de ter importância para nós. Ensinou também que seremos perdoados na medida em que perdoarmos nossos devedores. Por isso, não podemos esquecer que também somos devedores, que temos nossos credores e que gostamos de ser perdoados e compreendidos. Ensinou que existem pessoas enfermas moralmente e que agridem e machucam os outros sem se dar conta de que um dia a semente plantada vai dar frutos amargos que serão colhidos por ela mesma. Não podemos esquecer que nós mesmos somos devedores de nossas ações e devemos saber que estamos aqui no mundo plantando novas sementes e colhendo as sementes que plantamos no passado, seja nesta vida ou em outra. Nada acontece que não esteja explicado na consequência de nossas próprias ações ou falta de cuidado ou prudência. Se estamos sofrendo provas ou atravessamos expiações dolorosas todas elas, sem exceção, são resultado de nossas ações. Se em nossa vida não há motivos que justifiquem aquilo que estamos sofrendo podemos ter a certeza que em encarnações passadas nós nos endividamos e agora nosso passado está cobrando a fatura. Ao ser que nos ofendeu, mal sabe ele que na nessa relação alguém está colhendo e alguém está plantando, quem colhe está saldando débitos, quem planta talvez ainda nem tenha consciência de que está apenas sujando a água que um dia terá que beber. Por isso, talvez a melhor atitude para com quem está contraindo débitos nos auxiliando a saldar nossas dívidas é respeito e compreensão, pois no fundo está nos auxiliando a resgatar nossas dívidas. Jesus nos ensina que devemos orar pelos nossos inimigos. Se eles não existissem de que outra maneira saldaríamos os débitos que temos por aqui, que adquirimos quando, no passado, fizemos mal aos outros. Se não acreditamos que é possível superar as mágoas ou admitimos que não queremos, preparemo-nos, porque tudo o que iremos sofrer terá por objetivo apenas nos fazer entender o que falamos anteriormente. No fundo não iremos sofrer para superar a mágoas, mas tão somente para compreender o que devemos fazer para superá-la. Por isso, uma atitude inteligente é queimar etapas e adotar a Cristo como guia de suas ações em busca de uma vida mais feliz, sem dúvida o caminho indicado por ele nos exige renúncias e sacrifícios mas, seguramente, nos conduz a felicidade. Lembremo-nos que ele nos disse:
“meu jugo é suave e meu fardo é leve”.

A depressão na visão espírita (Vídeo com Divaldo Franco)


A raiva destruidora

O homem aprende à custa de muita dor e sofrimento a cuidar do corpo, após conhecer (ou ignorar) a variedade, podemos afirmar, infinita de vermes, bactérias, vírus e micróbios infelicitadores da sua vestimenta carnal. Desconhece, no entanto, tudo quanto infelicita a alma, os “bacilos” pestilenciais, causadores de tantos males e distúrbios, cuja patogênese se acha nela própria. Nesta oportunidade, iremos deter-nos, um pouco que seja, nesse “bacilo” que é tão nosso conhecido, encontrado com tanta freqüência nas camadas nervosas mais sutis do psiquismo humano. Está alojado lá, e resiste a todos os apelos do bom senso, da medicina terrena e espiritual, malgrado seja a causa de tantas experiências dolorosas que infelicitam a condição somática do ser. Queremos referir--nos à raiva. Antes de prosseguirmos, notemos onde ela, raiva, se estriba para intoxicar todo o cosmo neurológico da criatura. A raiva somente assoma à periferia da criatura porque o orgulho, instalado no seu interior, foi atingido duramente. Fosse ela humilde, a raiva não teria como se plantar e espraiar-se por toda a sua estrutura. A raiva tem a sua raiz na forma de julgar as situações e os fatos. Escolhemos, impomos e também fantasiamos determinado padrão de comportamento, modelando o de acordo com o nosso ponto de vista. Se a pessoa tem ou não conhecimento desse padrão, para nós pouco importa. Não corresponder às expectativas das pessoas é motivo para terem raiva de nós, malgrado sejam as expectativas irreais e irrealizáveis. A mãe de uma menina tinha-lhe raiva por ela não ser loura, e um pai exigia que a filha relatasse, com minúcias, grandes tragédias sem mexer as mãos e sem alterar o tom de voz. Não ser atendido em seu desejo o deixava raivoso. Estes dois casos foram relatados pelo Dr. Brian Weiss no seu livro A Divina Sabedoria dos Mestres, da GMT Editores Ltda. Dois relatos que mostram até onde chega a doença espiritual motivada pela raiva. É bem verdade que os casos acima são mais raros, ou pelo menos somente nos consultórios de psicanalistas, psiquiatras, psicoterapeutas eles chegam ao conhecimento. Os demais motivos de provocação da raiva vividos pelo ser humano são bem conhecidos de todos. A irritação é o estopim. Aceso, fica incontrolável. Voltando ao “relacionamento pais e filhos”, importa que possa existir um reconhecimento recíproco de que alguém incorreu em erro após se agredirem verbalmente. Consertar a atitude errada é próprio de almas enobrecidas pela humildade. Os pais que são cultivadores de motivos para sentir raiva, costumam exigir demasiadamente dos filhos, provocando trauma nestes, mais cedo ou mais tarde. É costume os pais exigirem de seus filhos que sejam produtivos e inteligentes como eles são, ou, em outros casos, gostariam de ter sido. Nessas horas, os pais se realizam em cima dos filhos. É um grande erro porque sabemos, segundo a Doutrina Espírita e a reencarnação, que nossos filhos são herdeiros de si mesmos, trazem para o hoje o que foram ontem. Exigir dos filhos o que eles não possuem traumatiza-os, torna-os insatisfeitos e daí para o conflito no relacionamento é um passo. Conhecemos certo pai que chegou ao absurdo de não ir ao casamento da filha, não ajudou nada nas despesas desse evento, e culminou o seu despreparo paternal quando, ao ser indagado por alguém da família se iria ao casamento, respondeu com outra pergunta: “Mas que casamento”? Outro pai obriga o filho de vinte anos a ser tão diligente e entendido de negócios como ele próprio, chegando ao absurdo de despedir o filho como se ele fora um empregado qualquer, deixando-o desempregado e tendo que se sustentar. O salário que pagava ao filho era um minguado salário mínimo de R$ 130,00. 
Espíritas que somos, é muito importante que olhemos os filhos como Espíritos que na verdade são, estejam em qualquer fase de crescimento. Outro motivo de raiva é a preocupação com o que pensam de nós. Não nos importemos com isso, desde que estejamos fazendo o que nos parece certo, agindo sem prejudicar ninguém. Assim procedendo evitamos a instalação da raiva em nós. Culpar-nos e ficar girando mentalmente em torno da raiva por havermos errado é uma forma trágica de ter raiva de nós mesmos. Nunca nos culpemos, doentiamente. Uma coisa é reconhecer o erro, prometer não incidir nele; outra, bem diferente, é permitir encharcar-se do sentimento de culpa, da monoidéia culposa e cultivá-la. A criatura está sujeitando-se a todas as suas seqüelas; uma delas a obsessão, a participação perniciosa, infecciosa de mentes doentias na casa mental do raivoso. O desapontamento leva à raiva de nós mesmos. Duas atitudes existem para o desapontamento: perseverar ou desistir. Cabe analisar a causa do desapontamento e de forma detalhada, consciente, sem paixão. A raiva, como vamos percebendo, é perniciosa, inútil, destrutiva. Somente pode ser dissolvida pela compreensão e pelo amor. O Dr. Brian Weiss narra outro caso de muita beleza, no livro supracitado, que lhe foi contado por uma avó. A neta de quatro anos era sistematicamente agredida pela outra mais velha. Reagia, no entanto, assim: “Não faz isso comigo, não. Eu sou sua irmãzinha e fico triste com seu modo de me tratar!” Afirmou a avó que, passado algum tempo, a mais velha de suas netas mudou o comportamento diante da reação amorosa da mais nova. Quando sentirmos raiva, perguntemos se ela resolve a questão que nos aborrece. Veremos sempre que não. Pelo contrário, sempre prejudica. Por quê? Ora, a raiva é sintoma de estresse que provoca uma mudança do nosso ritmo cardíaco, da pressão sangüínea e dos níveis de açúcar no sangue, ocasionando desequilíbrio fisiológico. É aconselhável que, ao sentirmos raiva, respiremos profundamente, tentemos descobrir os motivos que a desencadearam e busquemos como resolver a questão. Com toda a certeza desaparecerá o apego à raiva. Isto tem a sua razão de ser porque existem criaturas que são verdadeiras fomentadoras da raiva, cultivam-na, só sabem viver sob a sua influência. Agem e falam sempre com raiva. Nestas criaturas a doença não demora a instalar-se. Quem ama não sente raiva, porque o amor é o seu antídoto. A raiva somente se apropria de quem não ama. O ritmo vibratório de quem ama é eficaz eliminador de qualquer emoção nociva desequilibrante. Dissolve-a, antes dela instalar-se. É difícil um sistema imunológico resistir por muito tempo a quem constantemente se irrita, se enraivece. A desarmonia vibratória logo explode nas paredes do estômago, nos vasos sangüíneos do coração e da cabeça e vai por aí afora destruindo toda reserva de resistência interior do organismo. O ser humano não sabe que é o seu emocional em desequilíbrio que lhe provoca tanta dor e sofrimento, tanta desarmonia para viver em paz. É notório o papel desempenhado pela mídia: o de projetar para o homem modelos de pessoas vencedoras, verdadeiros heróis possuidores da “raiva justa”. São eles os Rambos, os Exterminadores do Futuro, os Ninjas, os Policiais imbatíveis, os Heróis de Ficção e toda uma gama de falsos modelos. São figuras que se vão tornando arquetípicas e forjam cada vez mais a raiva, o ódio, a frieza dos sentimentos diante da dor alheia. São imagens em desserviço para a nossa sociedade, principalmente por impressionarem fortemente a formação das crianças, as quais, em boa maioria, não encontram em seus lares, com raras exceções, os bons exemplos de amor ao próximo. No fundo, a raiva só possui uma função: destruir-nos pelo funcionamento destrambelhado da química do nosso sistema imunológico ou pela bala disparada por quem for alvo de nossa raiva. Compreensão e amor, vamos repetir, destroem a raiva, trazem-nos saúde e bem-estar físico, emocional, psicológico e espiritual. O amor é sempre um alívio para todo e qualquer tipo de dor. Ele vivido, sentido em plenitude imuniza, cria barreiras intransponíveis contra as causas e os efeitos da raiva. Amemo-nos muito, mais um pouco, em nome e por amor a Jesus, Ele que fez do que poderia ser a sua dor, a sua raiva, um hino de Amor para a Humanidade. 

 ADÉSIO ALVES MACHADO