terça-feira, 28 de junho de 2022

Casamento e Divórcio

Divórcio, edificação adiada, resto a pagar no balanço do espírito devedor. Isso geralmente porque um dos cônjuges, sócio na firma do casamento, veio a esquecer que os direitos na instituição doméstica somam deveres iguais. 
A Doutrina Espírita elucida claramente o problema do lar, definindo responsabilidades e entremostrando os remanescentes do trabalho a fazer, segundo os compromissos anteriores em que marido e mulher assinaram contrato de serviço, antes da reencarnação. Dois espíritos sob o aguilhão do remorso ou tangidos pelas exigências da evolução, ambos portando necessidades e débitos, combinam encontro ou reencontro no matrimônio, convencidos de que união esponsalícia é, sobretudo, programa de obrigações regenerativas. Reincorporados, porém, na veste física, se deixam embair pelas ilusões de antigos preconceitos da convenção social humana ou pelas hipnoses do desejo e passam ao território da responsabilidade matrimonial, quais sonâmbulos sorridentes, acreditando em felicidade de fantasia como as crianças admitem a solidez dos pequeninos castelos de papelão. Surgem, no entanto, as realidades que sacodem a consciência. Esposo e esposa reconhecem para logo que não são os donos exclusivos da empresa. Sogro e sogra, cunhados e tutores consangüíneos são também sócios comanditários, cobrando os juros do capital afetivo que emprestaram, e os filhos vão aparecendo na feição de interessados no ajuste, reclamando cotas de sacrifício. 
O tempo que durante o noivado era todo empregado no montante dos sonhos, passa a ser rigorosamente dividido entre deveres e pagamentos, previsões e apreensões, lutas e disciplinas e os cônjuges desprevenidos de conhecimento elevado, começam a experimentar fadiga e desânimo, quanto mais se lhes torna necessária a confiança recíproca para que o estabelecimento doméstico produza rendimento de valores substanciais em favor do mundo e da vida do espírito. Descobrem, por fim, que amar não é apenas fantasiar, mas acima de tudo, construir. E construir pede não somente plano e esperança, mas também suor e por vezes aflição e lágrimas. Auxiliemos, na Terra, a compreensão do casamento como sendo um consórcio de realizações e concessões mútuas, cuja falência é preciso evitar. Divulguemos o princípio da reencarnação e da responsabilidade individual para que os lares formados atendam à missão a que se destinam. Compreendamos os irmãos que não puderem evitar o divórcio porquanto ignoramos qual seria a nossa conduta em lugar deles, nos obstáculos e sofrimentos com que foram defrontados, mas interpretemos o matrimônio por sociedade venerável de interesses da alma perante Deus. 

VIEIRA, Waldo. Sol nas Almas. Pelo Espírito André Luiz. CEC.

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap 19


 

Dádivas Espirituais

"E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem ressuscite dentre os mortos." - (MATEUS, capítulo 17, versículo 9.) 

Se o homem necessita de grande prudência nos atos da vida comum, maior vigilância se exige da criatura, no trato com a esfera espiritual. É o próprio Mestre Divino quem no-lo exemplifica. Tendo conduzido Tiago, Pedro e João às maravilhosas revelações do Tabor, onde se transfigurou ao olhar dos companheiros, junto de gloriosos emissários do plano superior, recomenda solícito: "A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos." O Mestre não determinou a mentira, entretanto, aconselhou se guardasse a verdade para ocasião oportuna. Cada situação reclama certa cota de conhecimento. Sabia Jesus que a narrativa prematura da sublime visão poderia despertar incompreensões e sarcasmos nas conversações vulgares e ociosas. Não esqueçamos que todos nós estamos marchando para Deus, salientando-se, porém, que os caminhos não são os mesmos para todos. Se guardas contigo preciosa experiência espiritual, indubitavelmente poderás usá-la, todos os dias, utilizando-a em doses apropriadas, a fim de auxiliares a cada um dos que te cercam, na posição particularizada em que se encontram; mas não barateies o que a esfera mais alta te concedeu, entregando a dádiva às incompreensões criminosas, porque tudo o que se conquista do Céu é realização intransferivel. 

XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28.ed. Brasília: FEB, 2009. Capítulo 128.

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap 18


 

Aborto sentimental

As estimativas estatísticas, descritas por especialistas sociais e de saúde, da incidência de aborto delituoso em nosso meio, são certamente alarmantes e suas complicações sobre a saúde da mulher indiscutivelmente preocupantes. 
Essa rotina abortiva clandestina em nossa sociedade termina por mascarar falha clamorosa na legislação vigente em nosso país a esse respeito. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve excessos de toda ordem, e inclusive sexuais, da parte dos soldados invasores contra as mulheres dos territórios conquistados, o que, em certo percentual, resultou em gravidez. Por isso mesmo, sob o impacto da emoção e da comoção desse período e em nome do "princípio do estado de necessidade" contra essas dolorosas conseqüências - e respaldados em uma certa "ética" (?) , os legisladores de grande número de nações lutaram por conseguir a legalização ou descriminação do que se passou a denominar de aborto sentimental, ou seja, do aborto instituído como opção materna para os casos de gravidezes conseqüentes a estupros. Sobre o assunto, assim se posiciona o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 128: "Não se pune o aborto praticado pelo médico:  II. se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, do seu representante legal". Mais que palpável serem as bases para essa postura jurídica eminentemente de caráter emocional e totalmente vazia de um estudo da condição ontológica do ser em desenvolvimento embriológico.  
Os Espíritos reveladores em O Livro dos Espíritos, questões 358 e 359, respondendo às indagações formuladas por Allan Kardec sobre a temática do aborto, apenas admitem o aborto terapêutico, isto é, o que tem por móvel preservar a vida da gestante, quando em real perigo. Bem o sabemos, mormente em nosso mundo evolutivo, que se um Espírito enfrenta tal situação, isso não se dá sem motivos, que não os seus próprios débitos nessa área; mas, não é menos verdade o alerta de Jesus para não interferirmos nos mecanismos naturais da Lei, quanto à penalidade imposta por ela, a fim de não nos caracterizarmos como "motivo de escândalo" (Mateus, 17:6 a 11). A vida é o bem maior que nos concede o Criador para o auto-aperfeiçoamento espiritual, e somente o risco desse bem pode tornar admissível o sacrifício de uma vida que se inicia em favor de outra já plenamente adaptada à dimensão material e, por isso mesmo, em plena vigência da assunção dos seus compromissos para com a família e com a sociedade. 

Cajazeiras, Francisco de A. C.. Reformador, nov. 1997. (Transcrição parcial).

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap 17


 

Nova Era

UM ESPÍRITO ISRAELITA Mulhouse

Deus é único, e Moisés o Espírito que Deus enviou com a missão de fazê-lo conhecer, não somente pelos hebreus, mas também pelos povos pagãos. O povo hebreu foi o instrumento de que Deus se serviu para fazer sua revelação, através de Moisés e dos Profetas, e as vicissitudes da vida desse povo foram feitas para chocar os homens e arrancar-lhes dos olhos o véu que lhes ocultava a divindade. Os mandamentos de Deus, dados por Moisés, trazem o germe da mais ampla moral cristã. Os comentários da Bíblia reduziam-lhes o sentido, porque, postos em ação em toda a sua pureza, não seriam então compreendidos. Mas os Dez Mandamentos de Deus nem por isso deixaram de ser o brilhante frontispício da obra, como um farol que devia iluminar para a humanidade o caminho a percorrer. A moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos chamados à regeneração. E esses povos, semi-selvagens quanto ao aperfeiçoamento espiritual, não teriam compreendido a adoração de Deus sem os holocaustos ou sacrifícios, nem que se pudesse perdoar a um inimigo. Sua inteligência, notável no tocante às coisas materiais, e mesmo em relação às artes e às ciências, estava muito atrasada em moralidade, e eles não se submeteriam ao domínio de uma religião inteiramente espiritual. Necessitavam de uma representação semimaterial, como a que então lhes oferecia a religião hebraica. Os sacrifícios, pois, lhes falavam aos sentidos, enquanto a idéia de Deus lhes falava ao espírito. O Cristo foi o iniciador da mais pura moral, a mais sublime: a moral evangélica, cristã, que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los fraternos; que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade e o amor do próximo, e criar entre todos os homens uma solidariedade comum. Uma moral, enfim, que deve transformar a Terra, fazê-la morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. É a lei do progresso, a que a natureza está sujeita, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca de que Deus se serve para elevar a humanidade. São chegados os tempos em que as idéias morais devem desenvolver-se, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Elas devem seguir o mesmo roteiro que as idéias de liberdade seguiram, como suas precursoras. Mas não se pense que esse desenvolvimento se fará sem lutas. Não, porque elas necessitam, para chegar ao amadurecimento, de agitações e discussões, a fim de atraírem a atenção das massas. Uma vez despertada a atenção, a beleza e a santidade da moral tocarão os Espíritos, e eles se dedicarão a uma ciência que lhes traz a chave da vida futura e lhes abre a porta da felicidade eterna. Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá.  Um dia, Deus em sua inesgotável caridade, permitiu ao homem ver a verdade através das trevas. Esse dia foi o do advento de Cristo. Depois do vivo clarão, as trevas se fecharam de novo. O mundo, após alternativas de verdade e obscuridade, novamente se perdia. Então, semelhantes aos profetas do Antigo Testamento, os Espíritos começaram a falar e a vos advertir. O mundo foi abalado nas suas bases: o trovão ribombará; sedes firmes! O Espiritismo é de ordem divina, pois repousa sobre as próprias leis da natureza. E crede que tudo o que é de ordem divina tem um objetivo elevado e útil. Vosso mundo se perdia. A ciência, desenvolvida com o sacrifício dos interesses morais, vos conduzia unicamente ao bem estar material, revertendo-se em proveito do espírito das trevas. Vós o sabeis, cristão; o coração e o amor devem marchar unidos à ciência. O Reino do Cristo, ai de nós! após dezoito séculos, e apesar do sangue de tantos mártires, ainda não chegou. Cristãos, voltai para o Mestre que vos quer salvar. Tudo é fácil para aquele que crê e que ama: o amor o enche de gozo inefável. Sim, meus filhos, o mundo está abalado. Os bons Espíritos vo-lo dizem sempre. Curvai-vos o sopro precursor da tempestade, para não serdes derrubados. Quero dizer: preparai-vos e não vos assemelheis às virgens loucas, que foram apanhadas desprevenidas à chegada do esposo. A revolução que se prepara é mais moral do que material. Os grandes Espíritos, mensageiros divinos, insuflam a fé, para que todos vós, obreiros esclarecidos e ardentes, façais ouvir vossa humilde voz. Porque vós sois o grão de areia, mas sem os grãos de areia não haveria montanhas. Assim, portanto, que estas palavras: “Nós somos pequenos”, não tenha sentido para vós. A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. A formiga não constrói o seu formigueiro, e animaizinhos insignificantes não formam continentes? A nova cruzada começou: apóstolos da paz universal, e não da guerra, modernos São Bernardos, olhai para frente e marchai! A lei dos mundos é a lei do progresso. 

 ERASTO, discípulo de São Paulo Paris, 1863