sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Renovar para Inovar...

Tenho frequentado eventos e reuniões, assim como palestras públicas e uma coisa que tem me chamado a atenção sobre maneira é a forma de como as pessoas que dirigem as reuniões conduzem a palestra. Nada contra o conteúdo da mensagem a que estão expondo. Mas simplesmente pela falta de “alegria e entusiasmo”. Estamos no caminho do consolador e sabemos de inúmeros problemas com suas respectivas respostas, sabemos que a vida não acaba com a morte do corpo, que somos imortais, que teremos inúmeras oportunidades para evoluir e crescer e que o nosso destino é a suprema perfeição e a eterna felicidade. Então por que tanta frieza na palavra, quando falamos dos exemplos de Jesus, quando falamos de Deus? Afinal acreditamos ou não no ideal? Estamos servindo o Cristo e a Deus ou não? E se estamos onde está a nossa energia, a nossa alegria e felicidade de estarmos no caminho da redenção? Vejo algumas pessoas nas palestras que dormem por sua vez, pela “animação” do expositor. E elas que deveriam sair dali renovadas, fortificadas e com bom animo, saem sem terem ouvido sequer o tema da palestra. E devemos nos perguntar como será que está sendo feita a recepção da mensagem pelo público? Será que entendem o conteúdo da mensagem? Será que os recursos que estamos nos utilizando é eficaz? Será que estamos conseguindo fazer com que pelo menos reflitam sobre o tema? Se não estamos conseguindo, devemos considerar que ou as pessoas estão com grandes problemas ou nossos métodos não estão sendo eficazes. Uma outra pergunta é onde estão os jovens do Centro Espírita? Com métodos tradicionalistas e na sua grande maioria ultrapassados, sem alegria e sem entusiasmo, nós estamos espantando os jovens de nossas instituições. Onde estão os eventos para atender a classe juvenil? Que recursos temos em mãos para “prender” a atenção deles naquilo que queremos transmitir? Que ferramentas possuímos? Junte tudo isso com falta de alegria e veremos um centro com uma boa estrutura para receber muitas pessoas, que estará cheio de “frequentadores turistas” aparecem apenas para conhecer e nunca mais voltar. Depois ficamos a pensar, mas por que que o centro não atrai as pessoas? Ou entramos no conformismo como pessoalmente já ouvi algumas pessoas dizerem:_ ah, isso é normal! Trabalho aqui já faz um tempão e a frequência das pessoas nunca passou disso. Se você assisti a um trailer de um filme e esperava tanto ver o filme todo, mas ao se deparar com a realidade do filme você percebe que foi uma coisa morta e sem graça, você nunca mais vai querer assistir a este filme de novo. Com as nossas reuniões a mesma coisa. Devemos ter elementos dinâmicos e interatividade com o público. Onde está a participação da música, das artes, dos filmes e da literatura? Como estamos incentivando os nossos trabalhadores e frequentadores a participação nas atividades de nossas instituições? Precisamos nos atualizar, buscar novos métodos, novos recursos e dinamizar para alegrar as nossas reuniões. Se não reconhecermos que tudo no mundo muda e se atualiza constantemente correremos o risco de ser pedra de tropeço e transformar as nossas instituições espíritas em “museus” pelas ferramentas e métodos tão tradicionais e fundamentalistas. É preciso espírito de equipe e fraternidade para elaborar projetos inovadores para a participação da criança, do jovem e do adulto, respeitar as diferenças e principalmente aprender a ouvir as pessoas que possam somar com suas ideias e sua participação. É preciso renovar para inovar! Que Deus nos ilumine sempre, paz e luz a todos! 

Bruno Miranda

Transição Planetária e a Visão Espírita (vídeo)


Nossa relação com os Espíritos

A crença na vida após a morte acompanha a humanidade há milênios. Provavelmente, ela já existia antes mesmo dos nossos registros históricos, mas não podemos dizer que os antigos tinham o mesmo entendimento, sobre o destino da alma, que temos hoje. O pesquisador Fustel de Coulanges, em seu livro A Cidade Antiga, reúne registros demonstrando que, muito antes do culto aos deuses, na cultura greco-romana era realizado o culto aos antepassados. Tinha-se a certeza de que os mortos continuavam a viver debaixo da terra e necessitavam de comida e rituais. Se não fossem realizados, a família sofreria punições doenças, miséria, calamidades... de seus ancestrais, que poderiam deixar temporariamente o submundo terreno para protegê-la ou castigá-la, caso não cumprisse com suas obrigações. Era assim que se explicava uma série de fenômenos naturais numa realidade envolvida em mistérios. Alguns antepassados eram reconhecidos como grandes heróis civilizadores, passando a ser considerados, com o tempo, como deuses ou semideuses, tendo o seu culto permanecido por diversas gerações, pela tribo inteira ou até mesmo por toda uma urbe. Com o passar dos séculos, a crença na sobrevivência da alma passa por diversas modificações. Práticas antigas começam a se tornar obsoletas ou simples crendices, caindo em desuso. Mas, ainda assim, relatos de aparições permanecem, seja em casos considerados verídicos ou em obras de ficção mundialmente famosas, como em Hamlet, de Shakespeare, cuja trama se desenvolve a partir da aparição do rei morto, que revela o seu assassino. No século XIX, surgem inúmeros casos de aparições e outros tipos de manifestação do “Além”, no mundo todo, conforme afirmou Allan Kardec. O interessante é que a hipótese dessas manifestações terem como causa os espíritos não foi preestabelecida. Foi o próprio fenômeno que revelou sua causa. A partir daí, com a codificação da doutrina espírita, surge uma nova proposta de relação com os “mortos”, cujo ponto de partida é a análise e a experimentação metodológica. A Ciência ainda não aceita as pesquisas espíritas, porém, cada vez mais aumenta o número de cientistas realizando experimentos que, se não comprovam cientificamente a vida após a morte, pelo menos demonstram a existência de fenômenos que a Ciência, por sua vez, é incapaz de explicar satisfatoriamente sem aceitar a manifestação dos espíritos como causa. O Espiritismo é uma doutrina que ainda está em construção. Cada vez mais novos conhecimentos vão sendo somados. Aos poucos vamos interagindo com os espíritos de forma cada vez mais consciente e livre de superstições. Isso irá preparando as futuras gerações para um convívio mais natural e responsável com os espíritos, num intercâmbio que nos dará a certeza de que a vida continua.

Escrito por Victor Rebelo 

Como é feito contato com o Mundo Espiritual? (vídeo)


As Leis Morais

LEIS MORAIS A LEI DIVINA OU NATURAL Do ponto de vista científico, uma lei é uma regra que descreve um fenômeno que ocorre com certa regularidade, não tendo o poder de determinar que um fato qualquer deva ou não ocorrer. Ela apenas verifica a sua ocorrência, analisando as causas e os efeitos relacionados com o evento. Ainda do ponto de vista científico, uma lei natural é um enunciado de uma verdade científica, assim compreendida no âmbito de um paradigma científico. Deve ter certas características de generalidade e abrangência, a fim de poder ter um aspecto prático. Por outro lado, deve também ser falseável, no sentido em que possa ser refutada, tanto lógica como experimentalmente. Caso contrário, poderia ser enquadrada como religião, filosofia, arte ou qualquer outra atividade do gênero humano, mas nunca como ciência. Filosoficamente falando, no entanto, a lei natural é a que o homem conhece pela luz natural de sua razão, enquanto implícita na natureza das coisas. É uma participação da lei eterna na criatura racional, uma impressão em nós da luz divina, pela qual podemos discernir o bem e o mal. Para ser considerada como lei natural, deve trazer características de imutabilidade, tanto intrinsecamente como extrinsecamente falando. Assim, a lei natural é imutável em si mesma, e seus princípios não podem desaparecer da consciência, embora possa ser admitida a possibilidade e a realidade de certo progresso do direito natural, no sentido de que, pelo avanço da civilização, pelo desenvolvimento e extensão do saber, possa ser produzido pouco a pouco um aperfeiçoamento das exigências da lei natural. De forma semelhante, a lei natural é também imutável extrinsecamente, no sentido de que é ilícito tanto ab-rogá-la, transgredi-la, mesmo parcialmente, ou dispensá-la, tanto quanto é impossível à criatura humana renunciar, no todo, ou em parte, à sua natureza. 
Em "O LIVRO DOS ESPÍRITOS", na questão 614, está definido que a lei natural é a lei de Deus. Única verdadeira para a felicidade do homem, porque lhe dá a indicação do que deve fazer ou deixar de fazer para ser feliz. A Lei Natural está escrita, portanto, na consciência do homem, facultando-lhe discernir entre o bem e o mal. Na questão 647, está dito que a lei de Deus encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Observe-se, entretanto, que a Lei Natural não envolve só a relação entre os homens, mas uma consciência ética mais abrangente, incluindo tudo que existe em a Natureza. A Lei de Justiça, Amor e Caridade trazida por Jesus Cristo está contida nela e serve como uma precisa regra de conduta. O homem deve, no entanto, ampliar sua percepção para a necessidade de assegurar harmonia, não só nas relações com seus semelhantes, mas também com todas as criaturas da Natureza. 

A MORAL SEGUNDO O ESPIRITISMO Na questão 629 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS" encontramos a definição de moral como sendo a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus, fazendo com que o homem só proceda bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus. O bem é, portanto, tudo o que está conforme a lei de Deus; e o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la. 

AS LEIS MORAIS COMO DIVISÃO DA LEI NATURAL De acordo com a questão 648 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, a divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade foi feita por Moisés e tem o propósito de abranger todas as circunstâncias essenciais da vida. Essa divisão nada tem de absoluto, como não o tem nenhum dos outros sistemas de classificação, uma vez que todos dependem do prisma pelo qual se considere o que quer que seja. Dentre essas partes, a Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras. 

A LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, e todo o teu espírito; este é o maior e o primeiro mandamento. Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetam se acham contidos nesses dois mandamentos” (Mateus 22: 37 a 40) JUSTIÇA De acordo com a questão 875 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, a justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais. Esses direitos podem ser naturais ou adquiridos com base nas leis humanas. Os direitos naturais são imutáveis e iguais para todos, independendo de época ou de cultura. São estabelecidos pela Lei Natural e escritos na consciência humana. Entre outros, estão nesta categoria: o direito à vida, o direito ao meio ambiente saudável, o direito à liberdade, o direito ao trabalho e à legítima propriedade como fruto desse trabalho. Na medida em que o homem desenvolve uma consciência ética, os códigos de direitos humanos tendem a se aproximar do direito natural. Na questão 876 está estabelecida a regra da efetiva justiça pelas palavras do Cristo: “Queira um para o outro o que quereria para si mesmo. No coração do homem, imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitado seus direitos...). O direito pessoal é, pois, baseado no direito do próximo. O limite do direito de cada um é aquele que ele reconhece ao seu semelhante, em idênticas circunstâncias e reciprocamente (questão 878). O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, é aquele que pratica a justiça em toda sua pureza, porquanto pratica também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.

AMOR São Vicente de Paulo, respondendo à questão 888 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS orienta: “... Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, lei divina, mediante a qual governa Deus os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. A atração é a lei de amor para matéria inorgânica” O amor, de acordo com a Lei de Deus deve ser incondicional, abrangente, para com todas as criaturas de Deus, incluindo os inimigos. O sentimento do amor incondicional implica misericórdia, perdão, indulgência, e a retribuição do mal com o bem.

CARIDADE de acordo com o Pequeno Dicionário, de Aurélio Buarque de Holanda, caridade é o sentimento que nos leva a poupar alguém a quem deveríamos ou poderíamos castigar, punir; o mesmo que complacência, benevolência, condescendência. No verdadeiro sentido, como entendia Jesus, significa benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. (questão 886 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS”). A caridade envolve as ações destinadas a prover recursos materiais àquele que necessita (caridade material), mas, sobretudo, qualquer ação destinada a proporcionar o bem-estar daqueles que necessitam (caridade moral). A caridade é a manifestação do amor, isto é, é o amor em ação. Enquanto o amor é um sentimento que predispõe ao bem, a caridade é a ação que consubstancia este bem. O amor e a caridade são, pois, o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos. (questão 886 de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”.). São Vicente de Paulo, respondendo à questão 888 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS", orienta: “A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; esta tanto no ato, como na maneira por que é praticado... Lembrai-vos também de que, os olhos de Deus, a ostentação tira o mérito ao benefício. Disse Jesus: Ignore a vossa mão esquerda o que a direita der”. Por essa forma, ele vos ensinou a não tisnardes a caridade com o orgulho” Existe uma dinâmica na relação entre justiça, amor e caridade. A justiça pode ser considerada um valor natural que Deus infunde na consciência humana. O amor pode ser visto como um sentimento que predispõe o homem a querer o bem de seu semelhante, e a caridade pode ser vista como um comportamento que se manifesta pela ação de fazer o bem a seus semelhantes. Assim, caridade implica amor, amor implica justiça, justiça implica caridade e vice-versa. Essa é a dinâmica da Lei.

Como vencer a depressão? (visão espírita)


O supremo bem

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo semelhante a este; Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas."  
Mateus 22:37 a 40. 

O amor de Deus é a força misteriosa da vida: cria, conserva, e transforma a vida no Universo. Tudo quanto vive é animado pelo amor divino. Sem ele nada existiria; nenhum Ser viveria. Ele é a energia que engendra, organiza e governa tudo quanto existe, visível ou invisível, mutável ou perpétuo. É o poder universal e eterno que em tudo e todos se manifestam numa variedade infinita de formas. As leis de coesão, atração, gravitação, repulsão, reprodução, são manifestações materiais do amor divino que tudo governa de toda a eternidade e por toda a eternidade. A sede desse amor se manifesta inconscientemente nos seres inferiores e conscientemente nos mais adiantados. Como todas as formas de vida física da Terra recebem e refletem do Sol a luz e o calor vivificante; assim também todos os seres do Universo recebem e refletem o amor divino, que é a vida mesma em toda a sua gloriosa manifestação. A luz e o calor do Sol que se projetam sobre a Terra são os mesmos, mas a recepção e a reflexão podem ser em parte impedidas por obstáculos materiais. Igualmente o amor divino é o mesmo para todos os seres, mas encontra obstáculos morais e intelectuais, em grau maior ou menor, que o forçam a refletir-se de modos diferentes nos seres vivos, sedentos de individualização ilusória e de monopólio da vida. Somente os seres muito avançados em perfeição recebem e refletem em toda a plenitude o amor de Deus, e amam com todas as veras de sua alma o Criador e a todas as suas criaturas, sem distinguir entre bons ou maus, isto é, entre felizes e infelizes, adiantados e atrasados na escala do progresso. Essa capacidade de receber e distribuir em toda a plenitude o amor divino, é a suma felicidade, a bem-aventurança indizível na pobre linguagem humana, incompreensível para nós, retrógrados terrícolas, calcetas do pecado e da ignorância. Só podemos por enquanto gozar as formas muito menos elevadas do amor, formas quase materiais, como o amor materno, o amor conjugal, ainda muito próximos da animalidade; porém, mesmo estas formas elementares já nos permitem imaginar a suprema ventura dos seres que já podem cumprir literalmente o primeiro mandamento; porque amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo, significa viver a vida superior na plenitude do amor divino, haver-se identificado com Deus e realizado o Cristo em seu próprio ser, possuir em si a Eternidade e o Infinito; ter o pleno gozo da força, da bondade, da compreensão, da vida completa e indestrutível; gozar toda a luz que irradia de Deus; estar integrado em tudo que vive; ser uno com O Criador e com todas as Suas criaturas. Tristes calcetas do pecado, ligados à roda dos renascimentos expiatórios em mundos inferiores: ousando julgar, pelas aparências enganosas do curto momento de uma encarnação, as criaturas de Deus; esquecidos do passado e apavorados diante do porvir; preocupados com o que havemos de comer e com o que havemos de vestir; famintos e sedentos de aprovação e simpatia; tentando egoisticamente monopolizar em nosso favor as coisas que nos parecem boas, em detrimento dos nossos companheiros de peregrinação; divididos pelo medo em grupos que se hostilizam; confundindo o cárcere do corpo com ai vida. Contudo isso, somos os beneficiários do amor divino que nos não abandona um momento e nos faz caminhar para a plenitude da vida, para a plenitude do amor, para a Bem-aventurança dos eleitos do Pai; somos as ovelhas do rebanho confiado a Jesus, e nunca seremos abandonados, porque ele é o bom pastor que disse: Dou a minha vida pelas ovelhas , e nos levará um dia ao supremo bem. 

Ismael Gomes Braga 
Reformador (FEB) Junho 1954 

Vá para a Luz (filme)


Dor - A grande Educadora

(Balada aos que sofrem) Chama-se Dor. 
Revela-se na desventura do amante, na desolação da orfandade, na angústia da miséria, no alquebramento da saúde, no esquife do ser querido que se foi deixando atrás de si a lágrima e o luto, no opróbrio da desonra, na humilhação do cárcere, no aviltamento dos prostíbulos, na tragédia dos cadafalsos, na insatisfação dos ideais, na tortura das impossibilidades, no acervo das desilusões contra que se contunde e se decepciona o coração da Humanidade. Não obstante, a Dor é a grande amiga a zelar pela espécie humana, junto dela exercendo missão elevada e santa. Estendendo sobre a criatura as suas asas, húmidas sempre do orvalho regenerador das lágrimas, a Dor corrige, educa, aperfeiçoa, exalta, redime e glorifica o sentimento humano a cada vibração que lhe extrai através do sofrimento. O diamante escravizado em sua ganga sofre inimagináveis dilacerações sob o buril do lapidário até poder ostentar toda a real pureza do grande valor que encerra. Assim também será a nossa alma, que precisará provar o amargor das desventuras para se recobrir dos esplendores das virtudes imortais cujos germens o Sempiterno lhe decalcou no ser desde os longínquos dias do seu princípio! A alma humana é o diamante raro que a Natureza - Deus - criou para, por si mesmo, aperfeiçoar-se no desdobrar dos milênios, até atingir a plenitude do inimaginável valor que representa, como imagem e semelhança d' Aquele mesmo Foco que a concebeu. Mas o diamante - Homem - acha-se envolvido nas brutezas das paixões inferiores. É um diamante bruto! Chega o dia, porém, em que os germens da Imortalidade, nele decalcados, se revolucionam nos refolhos da sua consciência, nele palpitando, então, as ânsias por aquela perfeição que o aguarda, num destino glorificador: - Foi criado para as belezas do Espírito e vê-se bruto e inferior! Destinado a fulgir nos mostruários de esferas redimidas, reconhece-se imperfeito e tardo nas sombras da matéria! Sonha com a sublimação das alegrias em pátrias divinais, onde suas ânsias pelo Ideal serão plenamente saciadas, mas se confessa verme, porquanto não aprendeu ainda sequer a dominar os instintos primitivos! Então o diamante - Homem - inicia, por sua vontade própria, a trajetória indispensável ao aperfeiçoamento dos valores que consigo traz em estado ignorado, e entra a sacudir de si a crosta das paixões que o entravam e entenebrecem. E essa marcha para o Melhor, essa trajetória para o Alto denomina-se Evolução! A luta, então, apresenta-se rude! É dolorosa, e lenta, e fatigante, e terrível! Dele requer todas as reservas de energias morais, físicas e mentais. Dilacera-lhe o coração, tortura lhe a alma, e o martirológio quase sempre segue com ele, rondando-lhe os passos! Mas seu destino é imortal e ele prossegue! E prosseguindo vence! ... Então, já não é o bruto de antanho ... O diamante tornou-se joia preciosa e refulge agora, pleno de méritos e satisfações eternas, nos grandes mostruários da Espiritualidade - esferas de luz que bordam o Infinito do Eterno Artista, que é Deus! A Dor, pois, é para o Espírito humano o que o Sol é para as trevas da noite tempestuosa: - Ressurreição! - Porque, se este aclara os horizontes da Terra levantando com seu brilho majestoso o esplendor da Natureza, aquela desenvolve em nosso ego os magnificentes dons que nele jaziam ignorados: - fecunda a inteligência, dela fazendo brotar a razão, depurando o sentimento sob as lições da experiência, educando o caráter, dignificando, elevando, num progredir constante, - todo o ser daquele em quem se faz vibrar, tal como o Sol, que vivifica e benfaz as regiões em que se mostra. A Dor é o Sol da Alma... A criatura que ainda não sofreu convenientemente, carrega em si como que a aridez que desola os polos glaciais, e, como estes, é inacessível às elevadas manifestações do Bem, isto é, às qualidades redentoras que a Dor produz. Nada possuirá para oferecer aos que se lhe aproximarem pelos caminhos da existência senão a indiferença que em seu ser se alastra, pois, que é na desventura que se aprende a comungar com o Bem e não pode saber senti-lo quem não teve ainda as fibras da alma tangidas pela inspiração da Dor! O orgulho e o egoísmo, cancerosas chagas que corrompem as belas tendências do Espírito para os surtos evolutivos que o levarão a redimir-se; as vaidades perturbadoras do senso, as ambições desmedidas, funestas, que não raro arrastam o homem a irremediáveis, precipitosas situações; as torpes paixões que tudo arrebatam e tudo ferem e tudo esmagam na sua voragem avassaladora, são parasitas que infestam a alma humana inferiorizando-a ao nível da brutalidade, e os quais a Dor, ferindo, cerceia para implantar depois os fachos imortais de virtudes tais como a humildade, a fé, o desinteresse, a tolerância, a paciência, a prudência, a discrição, o senso do dever e da justiça, os dons do amor e da fraternidade e até os impulsos da abnegação e do sacrifício pelo bem alheio, remanescentes daquelas mesmas sublimes virtudes que de um homem - Jesus Nazareno - fizeram o mensageiro do Eterno! Ela, a Dor, é o maior agente do Sempiterno na obra gigantesca da regeneração humana! É a retorta de onde o Sentimento sairá purificado dos vírus maléficos que o infelicitam! Quanto maior o seu jugo, mais benefícios concederá ao nosso ego, tal como o diamante, que mais cintila, alindado, quanto maiores forem os números dos golpes que lhe talharem as facetas! É a incorruptível amiga e protetora da espécie humana: - zelando pela sua elevação espiritual, inspirando nobres e fraternas virtudes! Ela é quem, no Além-túmulo, nos leva a meditar, através da experiência, produzindo em nosso ser a ciência de nós mesmos, o critério indispensável para as conquistas do futuro, de que hauriremos reabilitação para a consciência conturbada. É quem, a par do Amor, impele as criaturas à comiseração pelos demais sofredores, e a comiseração é o sentimento que arrasta à Beneficência. E é ainda ela mesma quem nos enternece o coração fazendo-nos avaliar, pelo nosso, o infortúnio alheio; predispondo-nos aos rasgos de proteção e bondade; e proteger os infelizes é amar o próximo, enquanto que amar o próximo é amar a Deus, pautando-se pela suprema lei recomendada no Decálogo e exemplificada pelo Divino Mestre! Por isso mesmo, o coração que sofre não é desgraçado, mas sim venturoso, porque renasce para as auroras da Perfeição, marcha para o destino glorioso, para a comunhão com o Criador Onipotente! Prisioneiro do atraso, o homem somente se desespera sob os embates da Dor, porque não a pode compreender ainda. Ela, porém, é magnânima e não maléfica. Não é desventura, é necessidade. Não é desgraça, é progresso. Não é castigo, é lição. Não é aniquilamento, é experiência. Nem é martírio, mas prelúdio de redenção! Notai que depois do sacrifício na Cruz do Calvário foi que Jesus se aureolou da glória que converterá os séculos! “- Quando eu for suspenso atrairei todos a mim. ” Ele próprio o confirmou, falando a seus discípulos. Sob o seu ferrete é que nos voltamos para aquele misericordioso Pai que é o nosso último e seguro refúgio, a nossa consolação suprema! As ilusões passageiras da Terra, os prazeres e as alegrias levianas que infestam o mundo, aviltando o sentimento de cada um, nunca fizeram de seus idólatras almas aclaradas pelas chamas do amor de Deus. É que, para levantar na aridez das nossas almas a pira redentora da Fé, só há um elemento capaz, e esse elemento é a Dor! Ela e só ela é bastante poderosa para reconciliar os homens - filhos pródigos - com o seu Criador e Pai! Seu socorro é, portanto, indispensável para nos aperfeiçoar o caráter e inestimável é o seu valor educativo. Serena, vigilante, nobre, heroica, ela é o infalível corretivo às ignomínias do coração humano! Nada há mais belo e respeitável do que uma alma que se conservou serena e comedida em face do Infortúnio. Palpita nessa alma a epopeia de todas as vitórias! Responde por um atestado de redenção! Seu triunfo, conquanto ignorado pelo mundo, repercutiu nas regiões felizes do Invisível, onde o comemoram os santos, os mártires de todos os tempos, os gênios da sabedoria e do bem, as almas redimidas e amigas, que ali habitam, as quais, como todos os homens que viveram e vivem sobre a Terra, também conheceram as correções da Dor, pois ela é lei que aciona a Humanidade nos caminhos para o Melhor e para a Perfeição! Ó almas que sofreis! Enxugai o vosso pranto, calai o vosso desespero! Amai antes a vossa Dor e dela fazei o trono da vossa Imortalidade, pois que, ao findar dessa trajetória de lágrimas a que as existências vos obrigam, é a glorificação eterna que recebereis por prêmio! Salve, ó Dor bendita, nobre e fiel educadora do coração humano! E glória ao Espiritismo, que nos veio demonstrar a redenção das almas através da Dor! 

Léon Denis Por Yvonne A. Pereira 
Reformador (FEB) Abril 1959 

Ansiedade (palestra)