segunda-feira, 30 de março de 2015

Prática do bem: Fonte única da felicidade

 Irmãos queridos, paz em nome de Jesus. 
A vida não é um mal, como ainda muitos supõem. Ela só se torna insuportável, para as criaturas que ainda não têm a compreensão do bem. 
Fazer o bem, em todas as situações da vida, quaisquer que elas sejam, deve ser a divisa de todos. 
O bem que se pratica é uma parcela mínima do bem que se deveria praticar. Infelizmente, o viver dos meus irmãos da Terra é mais propício para o cultivo do ódio e para o exercício de vingança do que para o bem. 
Preciso é, pois, que todos empreguem os maiores esforços para que esses ódios se apaguem, para que não mais os corações se deixem invadir pelo sentimento de vingança. Meus queridos, todos, para gozarem de paz, têm de procurar a luz que jorra do Evangelho santo. Foi lendo, meditando e esforçando-me por colocar em prática as lições do Evangelho, que pude obter as graças do Senhor. 
Procurando sempre despreocupar-me de mim mesmo, o que vale dizer: procurando renunciar ao mundo, que nada oferece de belo, nem de justo, consumindo grande parte daquela minha etapa planetária em buscar o Senhor, foi que, afinal, verifiquei estar Ele bem perto de mim. Cuidei, então, de tudo fazer, para que não mais de mim se apartasse. 
Ora, isso, meus queridos irmãos, está ao alcance de todos vós, bastando, para que o consigais, um pequeno esforço, mas contínuo, da vossa vontade, se a tiverdes firme. E, para vos dardes firmeza, uma só coisa se vos faz necessária: praticar todo o bem possível. Tratai, irmãos meus, de renunciar ao mundo e dedicai-vos ao bem. Amai e perseverai no bem; tomai o bordão da fé e, apoiados nele, penosa não será a vossa peregrinação. Paz a todos os meus queridos irmãos. 

Espírito Antonio de Pádua Fonte: Pág. 349 Ano 1933 Reformador (FEB)

Conselhos


Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá. 
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
 Curta o sol, deixe-se acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos. 
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu. 
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde. 
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu. 
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu. 
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
 O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o! 
Quem você ama? Guarde dentro de um porta joias, tranque, perca a chave! Quem você ama é a maior joia que você possui, a mais valiosa. 
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.
 Abra todas as janelas que encontrar e as portas também. Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho. 
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho. Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas. 
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for. 
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso. Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam. Olhe para o lado, alguém precisa de você. 
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os. Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura. 
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão! Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. 
Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-a. Se perder um amor, não se perca! Se achá-lo, segure-o! "Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada".

Escolhendo o futuro (vídeo)


Livre arbítrio

Para a Doutrina Espírita não há destino, não há predestinação, não há sorte ou azar. O futuro é construído todos os dias. Através de pensamentos e ações, o espírito e seu grupo cultural escolhem e determinam seus caminhos, exercitando uma característica indissociável do ser inteligente: o livre-arbítrio. 
A evolução é o fundamento da vida e ocorre pela aquisição de conhecimentos em sentido amplo: técnico, afetivo, emocional, moral, filosófico, científico, religioso.
 O espírito adquire conhecimentos novos através das experiências, vivências e convivências acumuladas ao longo de sucessivas situações pelas quais passa, tanto no polissistema espiritual como no material. 
Ao somar conhecimentos novos, o ser modifica a visão que tem de si mesmo, dos outros, do mundo e de Deus, ou seja, amplia a sua consciência, evolui. 
O conhecimento e o comportamento resultantes das situações enfrentadas delimitam um caminho próprio para cada ser inteligente. De acordo com as suas escolhas, ele tem experiências diferentes e, em consequência, conhecimentos diferentes, que desenham uma sequência própria que lhe confere individualidade. 
Na construção do perfil que caracteriza como único cada espírito (inteligência, afeto, sentimento, valor, consciência) a liberdade de escolha, o exercício do livre-arbítrio, é o que permite ao ser inteligente alcançar os objetivos da vida. 
Os segmentos de conhecimento acumulados pelo espírito no decorrer de suas experiências determinam, proporcionalmente, uma capacidade de entendimento, compreensão e construção. O conhecimento que o espírito possui permite que ele solucione várias situações da vida. Dentro do limite do que já é conhecido pelo espírito as situações não se constituem em dificuldade e a sua resolução contribui para que os que convivem com o espírito alcancem, também, o conhecimento que ele domina. Entretanto, como as experiências vividas são limitadas, o que o espírito sabe também é limitado. 
As dificuldades apresentadas na superação de algumas situações indicam as limitações do espírito. 
A solução, o conhecimento capaz de resolver a dificuldade, no entanto, não se encontra pronta; deve ser construída, adaptada às características únicas da situação e das pessoas envolvidas. 
A construção da resposta se faz da própria experiência do espírito ou da experiência acumulada pelo outro, encarnado ou desencarnado, que será adaptada ao edifício de conhecimentos do espírito, de acordo com a sua capacidade de raciocínio, seus sentimentos, seus valores e seu entendimento.
 É a liberdade de escolha que determina quais segmentos de conhecimento, tanto em qualidade como em quantidade, serão assimilados e como serão acomodados e equilibrados em relação aos conhecimentos que já constituem o ser, de forma coerente, para sustentar comportamentos. 
As situações que o espírito enfrenta ao longo de sua trajetória, tanto no polissistema espiritual como no material, podem ser uma consequência direta de suas atitudes anteriores, ou podem ser condicionadas por variáveis além do seu controle. Entretanto, a escolha que o espírito adota diante da situação apresentada é de sua completa responsabilidade. Dentro dos limites de seu entendimento, o espírito é responsável pelas consequências, efeitos, desdobramentos e novas situações geradas a partir de suas decisões. Diante do desafio e de acordo com sua liberdade de escolha, a resposta do espírito poderá estar situada entre o "hediondo" e o "sublime". No entanto, com maior probabilidade, a resposta será compatível, coerente, com as decisões anteriores que a pessoa já tomou. Haverá escolhas mais ou menos adequadas para um certo espírito em um dado momento. Como os caminhos são múltiplos e as situações enfrentadas são diferentes, as respostas deverão ser diversas. O critério para se encontrar a resposta mais adequada será sempre individual. A coerência entre a verdade alcançada e a sua prática deverá nortear a escolha consciente. Quanto maior o cruzamento de experiências que puder ser mobilizado e considerado antes da tomada de decisão, maior a probabilidade dela estar coerente com a história de vida da pessoa até então; maior a chance da decisão preencher a necessidade do espírito naquele momento. O autoconhecimento, portanto, é fundamental, para o exercício pleno do livre-arbítrio. Escolhas que afastem o ser inteligente da coerência com sua história propiciam desdobramentos com menor qualidade ou quantidade de experiências e, consequentemente, reduzem o aproveitamento daquela sequência de experiências. Muitas vezes, no entanto, as consequências de uma atitude ou pensamento podem não ser tão significativas. A escolha pode alterar a ênfase e a direção da trajetória, modificando as possibilidades existentes, mas sem conotação positiva ou negativa. As experiências possíveis, após a decisão, passam a ser diferentes das planejadas, mas igualmente significativas para a evolução do espírito na medida em que segmentos diferentes de conhecimento são explorados. As consequências que se seguem ao exercício de escolha, propiciam experiências que vão contribuir para o crescimento do espírito na medida em que ele, consciente, se empenhe em aproveitá-las. O espírito cresce na medida em que se esforça por preservar ou ampliar as experiências que são favoráveis ou modificar as que não são adequadas. O exercício do livre-arbítrio sofre a influência dos chamados paradigmas da cultura, da inteligência e da contingência, que podem potencializar ou dificultar o seu exercício pleno. As influências sobre o livre-arbítrio são em primeiro lugar relativas ao conhecimento alcançado. Quanto maior o domínio sobre um segmento de conhecimento, tanto maior será o entendimento e a responsabilidade sobre as decisões. As decisões tomadas por uma pessoa, no exercício de seu livre-arbítrio, podem alterar, potencializar ou limitar o exercício do livre-arbítrio de outras pessoas. O exercício do livre-arbítrio é tanto uma atividade individual como do grupo social. As limitações e as capacidades do espírito se relacionam com as do grupo. As limitações e as capacidades do grupo refletem a soma da mentalidade de seus membros, determinando uma massa crítica que sustenta ou inibe algum tipo de comportamento. 
O meio cultural, no qual um espírito está encarnado, determina um quadro dentro do qual ele passa a se mover. Este quadro facilita atitudes e comportamentos na medida em que algumas soluções já experimentadas estão à disposição como exemplo. 
Em contrapartida, pode limitar, ao aceitar apenas comportamentos com características aceitas pelo grupo, dificultando a exteriorização das potencialidades do espírito. Atitudes que atuem contra a mentalidade dominante do meio cultural exigem maior esforço para a sua sustentação, necessitando do apoio de um referencial diferenciado. 
O grupo cultural evolui, muda seu comportamento, na medida em que seus membros evoluem, ou seja, esforçam-se para romper suas limitações, que também são, em parte, as do grupo.
 O grupo, não esquecendo de considerar aqui a família, pode determinar, criticar, inibir, sustentar, reforçar, permitir, propiciar, direcionar, induzir, limitar e estimular pensamentos e atitudes. O meio cultural é a maneira pela qual uma pessoa compartilha suas experiências com os outros. 
A inteligência, como capacidade de resolver problemas, determina uma ou algumas abordagens preferenciais que selecionam o que será considerado como problema, as respostas alcançadas e os caminhos que serão utilizados. Se há facilidade por um lado, por outro limitam-se as opções. A forma pela qual a cultura, associada às características biológicas estruturou a inteligência, direciona a solução de problemas.
 Há ainda, afetando o livre-arbítrio, as chamadas contingências, entendidas como incertezas sobre se uma coisa acontecerá ou não, o que pode ou não suceder, o eventual, o incerto, determinado por variáveis fora do controle da vontade da pessoa ou grupos envolvidos.
 O espírito que reencarna se submete a algumas condições pelo fato de estar na Terra que também afetam o exercício do livre-arbítrio. A alimentação, o sono, o envelhecimento, as limitações do físico, da visão, da audição, as formas de comunicação, as condições do meio ambiente, etc. Dentre os conceitos fundamentais que compõe o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. 
Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Doutrinar sempre


Nada é mais necessário fazer no ambiente espírita do que doutrinar, levar a Doutrina à compreensão dos confrades mais humildes, para os quais há conveniência em se adotar linguagem muito simples, que lhes permita rápida assimilação das ideias apresentadas.
 Não se trata, positivamente, de falar bonito, mas de falar eficientemente, com absoluto conhecimento da Doutrina, para esclarecer, ensinando.
 É bem mais importante do que possa à primeira vista parecer, a pregação inteligente da Doutrina de Kardec.
 O número daqueles que perambulam pelo Espiritismo e pouco ou quase nada sabem de Doutrina é muito grande.
 Em virtude da "lei do menor esforço", muitas vezes o adepto do Espiritismo não se mostra exigente, não zela pelo respeito à Doutrina, porque a desconhece em suas minúcias. 
Aceita qualquer "espiritismo" que lhe pareça bom por falar em Jesus, no bem, etc. Evidentemente, isso não basta.
 Seria ótimo que a só menção do nome de Jesus fosse bastante para assegurar a certeza de que os princípios doutrinários do Espiritismo são observados em qualquer parte. Tal não sucede, porém. 
Há necessidade de se martelar a Doutrina, pela palavra falada, nas tribunas e no Rádio, pela palavra escrita, nas conversações, enfim, onde quer que estejam reunidos indivíduos que debatam temas espíritas. 
Todos nós, que nos sentimos com alguma responsabilidade no movimento espírita nacional, devemos ser rigorosos na exemplificação de todos os instantes, porque os olhos dos confrades mais novos ou dos adeptos incipientes convergem justamente para aqueles que eles supõem ser corretos no procedimento moral. 
Doutrina, Doutrina, Doutrina - eis o ponto fundamental de qualquer propaganda espírita kardecista. 
Com a difusão da Doutrina será mais fácil corrigir maus hábitos, superstições, abusões, erradas interpretações dos fatos espíritas e destorcida compreensão do que eles possam ignificar à luz dos preceitos doutrinários.
 Ninguém pode ter "o seu espiritismo". Todos podem ter apenas o Espiritismo fundamentado na Doutrina, que é simples, porém positivo.
 Ele somente sobreviverá através da Doutrina. 
Sua consolidação se deveu à unidade de ação dentro dos princípios doutrinários. 
Mas à medida que se vai ampliando o seu raio de ação, à medida que cresce extraordinariamente o número de adeptos, é mister reforçar e ampliar o trabalho doutrinário. Devemos dizer uma verdade que talvez não seja bem aceita: o Espiritismo teórico não lança raízes profundas no espírito dos adeptos mais esclarecidos. 
É imprescindível que ele seja comprovado pelo trabalho prático, objetivo, ilimitado, com base na assistência social, na caridade respeitosa, no socorro àqueles que, tangidos pelos compromissos do Carma, vivem uma existência de privações dolorosas. 
Isso tem sido feito no Espiritismo, mas precisa de ser multiplicado, desenvolvido e mantido permanentemente, numa atmosfera evangélica de reconstrução moral e espiritual de pobres irmãos em terríveis provas na Terra.
 Dar o pão do espírito sem esquecer o pão do corpo, eis o caminho que tem apresentado resultados mais seguros e mais rápidos.
 A Doutrina tanto pode ser encontrada dentro de um livro como dentro de um pedaço de pão. Nunca o mundo sofreu tanto quanto presentemente; nunca houve tanta dor nem tanta miséria como nos dias que correm.
 Por isto, as responsabilidades dos espíritas multiplicaram-se e eles têm de sustentar galhardamente essa luta, sem o que poderão ser absorvidos ou perturbados em suas tarefas. Doutrinar, Doutrinar, Doutrinar, exemplificando, ajudando, trabalhando praticamente também, para que os obstáculos sejam mais facilmente superados. 

 Indalício Mendes Reformador (FEB) Agosto 1962 

A grande pergunta

Em lamentável indiferença, muitas pessoas esperam pela morte do corpo, a fim de ouvirem as sublimes palavras do Cristo.
 Não se compreende, porém, o motivo de semelhante propósito.
 O Mestre permanece vivo em seu Evangelho de Amor e Luz. É desnecessário aguardar ocasiões solenes para que lhe ouçamos os ensinamentos sublimes e claros.
 Muitos aprendizes aproximam-se do trabalho santo, mas desejam revelações diretas. 
Teriam mais fé, asseguram displicentes, se ouvissem o Senhor, de modo pessoal, em suas manifestações divinas. Acreditam-se merecedores de dádivas celestes e acabam considerando que o serviço do Evangelho é grande em demasia para o esforço humano e põem-se à espera de milagres imprevistos, sem perceberem que a preguiça sutilmente se lhes mistura à vaidade, anulando-lhes as forças. Tais companheiros não sabem ouvir o Mestre Divino em seu verbo imortal. Ignoram que o serviço deles é aquele a que foram chamados, por mais humildes lhes pareçam as atividades a que se ajustam
 Na qualidade de político ou de varredor, num palácio ou numa choupana, o homem da Terra pode fazer o que lhe ensinou Jesus. 
 É por isso que a oportuna pergunta do Senhor deveria gravar-se de maneira indelével em todos os templos, para que os discípulos, em lhe pronunciando o nome, nunca se esqueçam de atender, sinceramente, às recomendações do seu verbo sublime. 

 Francisco Cândido Xavier. 
Da obra: Caminho, Verdade e Vida. 
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
 17a edição. Lição 47. Rio de Janeiro, RJ: FEB.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Em busca de paz e equilíbrio (vídeo)


Na subida espiritual

"Mas alguém dirá: tu tens a fé e eu tenho as obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé". - (Tiago, 2:18) 

Esmorecer na prática das boas obras será desmerecer-nos diante delas. Acontece o mesmo no trabalho de elevação. 
A planta que hoje reclama extremo cuidado ao cultivador não lhe dá frutos imediatos. 
O aprendiz, de começo, na escola, não responde às argüições do professor na pauta do entendimento e da cultura com que lhe recolhe os ensinamentos.
 Que seria de nós, as criaturas humanas destinas à perfeição Angélica, se o Criador nos exigisse chegar à meta de um dia para outro? 
Em todo empreendimento digno, tanto quanto em qualquer construção, entre o início e o acabamento da tarefa jazem, de permeio, o ideal e o serviço, a persistência e a esperança.
 E quando a empresa em curso se refere ao nosso anseio de melhorar espiritualmente aqueles que mais amamos, é forçoso reconhecer que ninguém consegue modificar alguém, sem que esse alguém se disponha à transfiguração necessária. Compreendamos assim que, se não é lógico alterarem-se, por nossa causa, as leis e as experiências que regem as criaturas e as instituições que nos sejam queridas, podemos perfeitamente mudar a nós mesmos pela força de nossa vontade na oração, na decisão, no serviço e na lealdade aos compromissos assumidos para a sustentação das boas obras, seja no plano externo ou no campo íntimo, em nós ou fora de nós, aprendendo a compreender e a sofrer, a edificar e a servir, a suportar e a esperar.

sábado, 7 de março de 2015

A receita de Santo Agostinho


É raro, no meio espírita, comentar-se sobre autoconhecimento sem fazer referência ao pensamento de Santo Agostinho, exposto na questão 919 de O Livro dos Espíritos.
 Nela o tema foi tratado diretamente em preciosos quatro parágrafos, encerrando uma receita. 
O conhecimento espírita desperta um anseio pelo progresso que nos faz pedir que nos apontem caminhos. 
O Codificador pediu aos espíritos superiores a fórmula da melhoria pessoal, e não pediu para as próximas encarnações, pediu para esta vida e ousou mais: tinha que ser prática e eficaz. 
Respondeu-lhe o Espírito Santo Agostinho, dizendo: “UM SÁBIO DA ANTIGUIDADE VOS DISSE: CONHECE-TE A TI MESMO”. 
Referia-se a Sócrates e apontou a necessidade de focarmos os interesses na busca por e em nós mesmos. Ouve-se muito: “Conheço fulano como a palma da minha mão, ele não me engana.” Ou seja, conheço o outro, conheço para fora, mas quando perguntam “Quem é você?”, dizemos um nome que nem ao menos foi de nossa livre escolha e completamos informando profissão, estado civil e endereço.
 Pronto, qualquer um nos encontra o que não significa um encontro pessoal.
 O Codificador retruca reconhecendo a sabedoria da resposta, mas alegando dificuldades para se atingir o conhecimento interior e insiste no pedido de uma receita. Disse Jesus: “Pedi e obtereis.” Ele obteve a fórmula e a legou àqueles que em si descobrem esse anseio. Ensinou o interrogado: “Fazei o que eu fazia de minha vida sobre a Terra: ao fim da jornada, eu interrogava minha consciência, passava em revista o que fizera, e me perguntava se não faltara algum dever, se ninguém tinha nada a lamentar de mim.”
Estava dada a receita da espiritualidade prática e eficaz para melhorar já nesta vida: conhecer a si mesmo examinando a consciência. 
Mas como se faz um exame de consciência? Será que basta rememorar os acontecimentos do dia e verificar como nos comportamos, se fomos gentis, cordiais, caridosos, se cumprimos nossos deveres profissionais, familiares, se fizemos prece etc.? 
Talvez temeroso de que caíssemos nesta simplificação, ele especificou que o modo de fazer é realizar um interrogatório preciso e diário a si mesmo sob o amparo de Deus e do anjo guardião. 
Ele sugeriu que colocássemos para nossa reflexão ao menos cinco questões, a saber:

1) “PERGUNTAI-VOS O QUE FIZESTE E COM QUAL OBJETIVO AGISTES EM TAL CIRCUNSTÂNCIA”.
 A primeira parte da questão é tranquila, basta recordar as atitudes do dia. A segunda aprofunda- se pedindo para identificarmos os objetivos de nossas ações, os interesses e propósitos que as motivaram, os quais podem estar escondidos muito fundo, num canto sombrio do nosso ser, e ainda se apresentarem mascarados.

 2) “SE FIZESTE ALGUMA COISA QUE CENSURAIS EM OUTREM”. 
A nossa capacidade de olhar para fora é bem desenvolvida, então vamos aproveitar e conhecer o que estamos projetando. É sempre fácil apontar erros, condenar e exigir dos outros esquecendo que só conseguimos reconhecer aquilo que também possuímos. Esse é um procedimento importante da receita que se repetirá.

 3) “SE FIZESTE ALGUMA COISA QUE NÃO OUSARÍEIS CONFESSAR”.
 Um questionamento ético em relação à minha conduta com o próximo e também pessoal, na medida em que devemos responder se tudo o que pensei, senti e fiz pode ficar exposto à luz? Ou falta coragem para assumir opiniões, atitudes, vontades, o “eu” e as motivações reais e profundas das minhas ações, que somente eu e Deus podemos saber quais são. 

 4) “SE APROUVESSE A DEUS ME CHAMAR NESTE MOMENTO (EM QUE ESTOU LENDO ESTA PÁGINA), REENTRANDO NO MUNDO DOS ESPÍRITOS, ONDE NADA É OCULTO, EU TERIA O QUE TEMER DIANTE DE ALGUÉM?”. 
Queremos distância da morte. Não é agradável pensar nela ou falar sobre ela. Aceitá-la não é fácil, trabalhar as perdas é um processo doloroso e delicado. Imagine pensar na própria morte, diariamente. 
Frente a cada decisão, refletir como ficaria a situação se morrêssemos naquele momento. Brigamos com um filho, ou com o marido, ou com um amigo, ficamos magoados, com raiva e morremos num ataque fulminante do coração. 
Que situação! Essa questão nos põe em xeque com um mundo onde as máscaras não enganam senão quem as usa. Se pensarmos sob esse enfoque, mudaremos muitas atitudes. 

5) “EXAMINAI O QUE PODEIS TER FEITO CONTRA DEUS, CONTRA VOSSO PRÓXIMO, E ENFIM, CONTRA VÓS MESMOS”. 
Discutimos muito as nossas relações amorosas, profissionais e familiares, mais ou menos nessa ordem de prioridade. Mas a relação com Deus vai entre tapas e beijos e não paramos para discuti-Ia. 
Começa que Dele nem sempre fazemos um juízo claro, a nossa resposta pessoal é em geral vaga ou politicamente correta. Confundimos repetição mecânica de palavras com falar com Ele. 
Nós o bendizemos quando a vida corre como desejamos, mas é sobre Ele que lançamos nossas incompreensões e ingratidões quando as coisas não são como queríamos. 
Por fim, Ele é o cangaceiro das nossas vinganças, cada vez que vencidos pela ira desejamos o mal ao próximo e não o realizamos com as próprias mãos. Mas, ironicamente, embora o contratemos para nossas desforras, ainda o tememos. E uma relação complicada: nós a vivemos com uma grande dose de irreflexão misturada ao medo, à ira, à ingratidão. 
Temos um comportamento mimado e não apto ao diálogo. Desta tríade, a relação com o outro é a mais debatida, só que em geral sob a ótica de vítima: “O que eles fizeram comigo”. O convite é para largarmos essa postura e assumirmos nossas responsabilidades. 
A relação conosco é outra e apenas em circunstâncias limites começamos a discutir. Falamos muito sobre reencarnação, obsessão, lei de amor, depressão, sentimentos mal resolvidos, doenças, mas pouco nos perguntamos: “Por que sou e estou assim?” Como lido com as alegrias e as tristezas?”, “Cuido bem de mim, como corpo e alma?” O autor da receita mostra conhecimento e compreensão da alma humana antecipando-se ao propor: “Mas, direis, corno se julgar? Não se tem a ilusão do amor próprio que ameniza as faltas e as desculpas?”. Ilusões e justificativas podem comprometer o resultado e para evitar que algo saía errado na execução da receita, ele deixou também os segredinhos. 

 PARA EVITAR AUTOENGANOS, FAÇAMOS O SEGUINTE: 1) “Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais em outrem, ela não pode ser mais legítima em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça.”

2) “Não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular a verdade e, frequentemente, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho para vos advertir com mais franqueza que o faria um amigo.” É o verdadeiro “te enxerga”. 
É uma proposta valiosa para reformularmos comportamento sobre críticas e inimizades, vendo nelas auxiliares divinos para nosso crescimento. Assim, esvazia-se a raiva e a indignação. 
A humildade é o caminho que acaba com a falsa superioridade que nos faz preferir ignorar as críticas e inimizades a aprender com elas. 

 3) “Aquele que tem vontade séria de se melhorar explore, pois, sua consciência, a fim de arrancar dela as más tendências.”.
 O produto da fórmula ê uma visão clara de quem somos e do que precisamos reformar. 
A promessa final é excelente, nada menos que uma felicidade eterna. Vale a pena conferir. 

 Fonte: Revista Literária Espírita Delfos. Catanduva, SP: BOA NOVA. Ano V

Porque sofremos? (vídeo)