terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A Evolução Perispiritual


 As relações seculares entre os Espíritos e os homens, confirmadas, explicadas pelas recentes experiências do Espiritismo, demonstram a sobrevivência do ser sob uma forma fluídica mais perfeita. 
Essa forma indestrutível, companheira e serva da alma, testemunho de suas lutas e de seus sofrimentos, participa de suas peregrinações, eleva-se e purifica-se com ela. 
Gerado nos últimos degraus da animalidade, o ser perispiritual sobe lentamente a escala das espécies, impregnando-se dos instintos das feras, das astúcias dos felinos, e também das qualidades, das tendências generosas dos animais superiores. Até então mais não é que um ser rudimentar, um esboço incompleto. 
Chegando à Humanidade, começa a ter sentimentos mais elevados; o espírito irradia com maior vigor e o perispírito ilumina-se com claridades novas. De vidas em vidas, à proporção que as faculdades se dilatam, que as aspirações se depuram, que o campo dos conhecimentos se alarga, ele se enriquece com sentidos novos. 
Como a borboleta que sai da crisálida, assim também o corpo espiritual desprende-se de seus andrajos de carne, sempre que uma encarnação termina. 
A alma, inteira e livre, retoma posse de si mesma e, considerando, em seu aspecto esplêndido ou miserável, o manto fluídico que a cobre, verifica seu próprio estado de adiantamento. Como o carvalho que guarda em si os sinais de seus desenvolvimentos anuais, assim também o perispírito conserva, sob suas aparências presentes, os vestígios das vidas anteriores, dos estados sucessivamente percorridos. Esses vestígios repousam em nós muitas vezes esquecidos; porém, desde que a alma os evoca desperta a sua recordação, eles reaparecem, com outras tantas testemunhas, balizando o caminho longa e penosamente percorrido. 
Os Espíritos atrasados têm envoltórios Impregnados de fluídos materiais. Sentem ainda depois da morte as impressões e as necessidades da vida terrestre. A fome, o frio e a dor subsistem entre aqueles que são mais grosseiros. Seu organismo fluídico, obscurecido pelas paixões, só pode vibrar fracamente, e, portanto, suas percepções são mais restritas. Nada sabem da vida do espaço. Em si e ao seu redor tudo são trevas. A alma pura, livre das atrações bestiais, conforma um perispírito semelhante a si própria. 
Quanto mais sutil for esse perispírito, tanto maior força expenderá, tanto mais se dilatarão suas percepções. Participa de meios de existência de que apenas podemos fazer uma idéia; Inebria-se dos gozos da vida superior, das magníficas harmonias do infinito. Tal é a tarefa e a recompensa do Espírito humano. Por seus longos trabalhos, ele deve criar para si novos sentidos, de uma delicadeza e de uma força sem limites; domar as paixões brutais, transformar esse espesso invólucro numa forma diáfana, resplandecente de luz; eis a obra destinada a todos em geral, e em que todos necessitam prosseguir, através de degraus inumeráveis, na perspectiva maravilhosa que os mundos oferecem. 

Léon Denis – Depois da Morte 

Reencarnação (Palestra Espírita)


Em defesa de Allan Kardec

Muito freqüentemente, ouvimos adeptos do Espiritismo declararem, não sabemos baseados em que autoridade, que os códigos firmados por Allan Kardec foram “ultrapassados” por obras espíritas modernas, incluindo também León Denis a par do codificador nesse conceito irreverente.
 Mesmo alguns espíritas de certa circunspecção tem afirmado tal novidade de suas tribunas, incorrendo, portanto, em melindrosa responsabilidade perante a Doutrina. No entanto, bastará pequeno raciocínio para observarmos que nem Allan Kardec nem León Denis foram ultrapassados agora, nem o serão tão cedo, assim como não o foi o Evangelho, que há dois mil anos deu aos homens o mais perfeito código de moral até hoje conhecido, código que, não obstante, ainda não é acatado pelos próprios cristãos, como poucas exceções, visto que a própria Terra, com seus prejuízos de planeta inferior, não comporta, por enquanto, a prática integral de tão elevados princípios. 
E não poderia Allan Kardec estar ultrapassado porque ainda não apareceram, depois dele, no mundo inteiro, obras melhores que as por ele firmadas, sobre o mesmo assunto.
 A humanidade, por sua vez, ainda não foi despertada pelos ensinamentos que os livros deles apresentam, e os próprios espíritas os conhecem tão pouco que o próprio movimento espiritista são eles ainda desconhecidos nas suas mais belas e significativas expressões. 
Conhecemos até mesmo médiuns cuja instrução doutrinaria se limita a uma única leitura de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. E orientadores de sessões que apenas leram (dizemos leram, e não estudaram) uma só vez “O Livro dos Espíritos”, desconhecendo completamente as demais obras clássicas que, com as primeiras acima citadas, formam a estrutura doutrinária espírita; não assimilaram os dois compêndios lidos e por isso consideram superado o grande Codificador, porque se integraram somente nas obras modernas, as quais, conquanto excelente, apenas irradiam detalhes extraídos da base já revelada.
 Isso acontece até mesmo com presidentes de Centros e oradores, o que vem a ser de suma gravidade. Se quisermos raciocinar seriamente, sem paixões nem idéias pessoais, contataremos que os nobres Espíritos, incumbidos da instrução aos humanos, assim não pensam. Consideram antes Allan Kardec o mestre terreno ainda credenciado para tudo quanto voluteie em torno do Espiritismo, tanto assim que tudo quanto escrevem, ou ditam, aos seus médiuns, é baseado nos códigos kardecistas, vazados deles e neles inspirados, sendo todas as teses apontadas a desenvolver em suas produções as mesmas estudadas por Kardec, além daquelas também colhidas no Evangelho Cristão.
 Allan Kardec poderá ter sido ampliado, talvez completando nos seus ensinamentos pela obra ditada do Espaço, visto ele próprio haver afirmado que apenas estabelecia os primeiros passos doutrinários, mas ultrapassados não! Mesmo assim vemos que essa ampliação, esses complementos, são inteiramente assentados em suas obras, porque se não o forem estarão deslocados, serão ilógicos e suspeitos, o próprio raciocínio os repele diante a feitura desconexa que apresentam, como sucede a várias obras que não logram o apoio da maioria dos leitores justamente pela ausência da dita base Kardecista.
Precisamos refletir que Allan Kardec somente será superado no dia em que ele mesmo aparecer na Terra, reencarnado, para prosseguir o assunto, ou outro à altura do mandato insigne, e quando já a maioria dos espíritas, pelo menos, tiver adquirido amplo conhecimento da Revelação por ele obtida dos Espíritos Superiores. 
Os códigos Kardecistas serão sempre surpreendentes novidades para aqueles que os consultarem pela primeira vez, como o nascimento de Jesus Nazareno em Belém de Judá é novidade para aquele que no fato presta tenção pela primeira vez, não obstante o dito fato haver se passado há quase dois mil anos. 
Se os próprios espíritas desconhecem as verdadeiras bases da Doutrina que professam, como ousaremos declarar superada a obra de Kardec? 
Essa obra é imortal como imortal é o Evangelho, uma vez que ambos são revelações divinas e porque sempre existirão cérebros e corações necessitados de renovação e esclarecimentos através deles. Por enquanto é, com efeito, a fonte Kardecista a única habilitada em assuntos de Espiritismo capaz de expandir renovações para o futuro, visto ser o alicerce de quanto existe a respeito, até agora. 
O mais que poderemos aceitar é que, em futuro talvez próximo, a obra de Allan Kardec poderá sofrer uma revisão, uma vez que ele próprio previu esse acontecimento. Para os espíritas, pois Kardec ainda é o grande desconhecido, dado que a minoria é que o conhece planamente.
 Ele tratou de Ciência, de Filosofia e de Moral e tais matérias, de suma grandeza, não podem ser apenas lidas uma ou duas vezes, mas estudadas continuamente, com método analítico, observação acurada, amor e perseverança, a fim de serem bem compreendidas e praticadas, e não mal interpretadas e sofismadas, como vemos acontecer de quando em vez.

 Yvone A. Pereira 

Os falsos devotos


Minha lembrança acaba de ser evocada por meu retrato e meus versos; duas vezes tocada na vaidade feminina e em meu amor-próprio de poetisa, venho reconhecer vossa benevolência, esboçando em largos traços a silhueta dos falsos devotos, que são para a religião o que é para a sociedade a mulher falsamente honesta. 
O assunto entra no quadro de meus estudos literários, cuja nuança Lady Tartufe exprimia.
 Os falsos devotos sacrificam a aparência e traem o verdadeiro; têm o coração seco e os olhos úmidos, a bolsa fechada e a mão aberta; falam de boa vontade ao próximo, criticando-lhe as ações de maneira adocicada, que exagera o mal, apequena o mérito. Muito ardentes para a conquista dos bens materiais e mundanos, trepam-se em tesouros imaginários, que a morte dispersa, e negligenciam os verdadeiros bens, que servem ao fim do homem e são a riqueza da eternidade. 
Os hipócritas da devoção são os répteis da natureza moral; vis, baixos, evitam as faltas castigadas pela vindita pública e na sombra cometem atos sinistros. 
Quantas famílias desunidas e espoliadas! quanta confiança traída! quantas lágrimas e, até, quanto sangue!... 
A comédia é o inverso da tragédia. Atrás do celerado marcha o bufão, e os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia dos vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios, troçam por timidez aquilo em que acreditam, exaltam o de que duvidam, comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que à santa hóstia. 
Os falsos devotos são os verdadeiros ateus da virtude, da esperança, da natureza e de Deus; negam o verdadeiro e afirmam o falso. Contudo a morte os levará besuntados de arrebiques e cobertos de ouropéis, que os disfarçam, e os lançará ofegantes em plena luz. 

(Espírito de Delphine de Girardin - R. E. 1863)

Jesus e Vida - Estudo do Sermão da Montanha


A primeira noite

 Morrer. Eis um caminho que todos temos de um dia trilhar. A morte ainda põe medo em todas as criaturas, porque são poucos os que se interessam em conhecê-la profundamente. Grande parte dessa humanidade sofredora, vive distante da morte por acreditar que ela coloca fim a todos os seus sonhos. Pobres criaturas que somos. Quando vivi na matéria, minhas ocupações não me permitiam que tivesse uma religiosidade mais desenvolvida. 
O tempo parecia iludir-me quanto à morte e à época da sua possível chegada.
 Eu jamais havia pensado em vê-la com a seriedade necessária, até que a doença chamou-me à realidade. 
Meu Deus. Como foi difícil enfrentar os primeiros tempos da minha romaria pelos hospitais, os remédios, os exames. 
Tudo me dava esperança, mas como a enfermidade não tinha fim, suspeitei que me escondessem a verdade. Estava certo. Um dia, dormi para o mundo e despertei numa região vizinha ao hospital. Notei que havia muito movimento em torno do meu corpo. Não sabia a razão, mas me encontrava separado dele. Mexiam com meus membros, limpavam-me, como a preparar-me para uma festa. Estranhei as roupas bonitas que me vestiram. Ouvi que havia morrido, quando um dos meus tios balbuciou essas palavras próximo do meu corpo. Notei que algo inesperado viera visitar-me: era a morte. Mas como "morte" se eu ali estava, vivo, pensando, enxergando, ouvindo. Como morto? 
Ei, não estou morto não. Que fazem com meu corpo? 
Quero-o de volta. Escuta-me. Não estou morto, não, não..... Júnior, chama-me uma voz atrás de mim. Viro-me e vejo um Senhor bem apessoado, vestido com terno cinza. Acalma-te, disse-me. Quero explicar-te algumas coisas, que precisas saber. 
Bem, primeiro, não morrestes, conforme os conceitos do mundo. Estais vivo, mas não vivo como nos conceitos do mundo. 
Como chamas? Perguntei-lhe. Ademar, irmão Ademar para você. Escuta, Senhor, dizes-me que não morri, depois, que não estou vivo. Que é isso? Queres distrair-me? Tirar minha atenção com meu corpo? Não, disse-me irmão Ademar. Quero apenas mostrar-te que existem outros conceitos sobre vida e morte. E, é sobre isso que precisamos conversar. Acompanhe-me. O sol parecia ter acabado de pôr-se, pois o entardecer ainda deixava marcas no céu. Em companhia do meu interlocutor, seguimos por algumas ruas em direção, dizia ele, a uma casa de ensinamentos espirituais. Ensinamentos espirituais? Perguntei-lhe. Sim, disse-me. Acalma-te, pois estamos chegando. Toma teu lugar entre aqueles que se postaram á direita da pequena biblioteca. São irmãos que se encontram nas mesmas condições que tu. Ademar parecia-me agora um tanto diferente do que quando encontrou-me no hospital. Notei que as dores no meu coração ainda incomodavam-me, comprimindo o plexo. Agora, o amigo parecia vestir uma túnica alva, donde desprendia-se diáfana luminosidade. Postou-se à frente de imensa platéia e começou-nos a dizer: "Irmãos, recebamos nesse instante as bênçãos de Deus, o Altíssimo. Aqui estamos, testemunhos vivos de que a morte não existe. Imortais, eis a natureza do qual o Criador dotou seus filhos amados. A vida material nos é concedida como oportunidade para nosso crescimento intelectual e moral. Detemo-nos na matéria por um longo período de tempo, até que, através das muitas encarnações, consigamos nos dotar de asas que nos levarão em vôos eternos pelo infinito. Abençoemos, irmãos reunidos nessa casa de Jesus, a experiência encarnatória, as dores pelas quais somos levados a passar. Elas são produto de ações impensadas na campo do erro e dos desatinos. As dores consciências transformam-se em negativas energias que irradiam-se instintivamente para o mundo exterior da criatura, provocando profundas alterações nos delicados tecidos do corpo espiritual, perispírito, conforme o designou Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Eis a fonte de doenças graves, de enfermidades incuráveis que conduzem a dolorosos processos de purificação. Estão reunidos nessa casa a título de esclarecimento, irmãos de variados níveis de entendimento e a eles voltamos nesse instante, nossas vibrações e amparo. Em especial queremos nos dirigir aos que são recém-chegados a essa dimensão da Vida. Em nome de Jesus, nosso Mestre e guia, damos-lhes as boas-vindas. Sois Espíritos imortais, como este momento testifica. E, como tais, dotados do Dom de compreender a Verdade. Agora, começa uma vida nova aos que chegam,. Vida de compreensão, de conscientização e de refazimento". A casa onde nos encontrávamos também estava cheia de pessoas "vivas", interessadas em saber os segredos da morte. Foi uma noite inesquecível para mim. A primeira noite de um homem novo. Hoje, encontro-me nessa sessão doutrinária de Espiritismo, a convite do irmão Ademar. Alegra-me poder estar em comunhão com esse lado mais denso da Vida, sim, digo Vida, pois ela é uma só. Agora compreendo uma sublime realidade: ninguém morre. Que sejamos abençoados por Deus. 

Espírito: Luiz Desidério Santos Junior 
Grupo Espírita Bezerra de Menezes 

Uma importante opção


 Emília pertencia a uma família de classe média, em um país europeu que sofria crises e carestias, depois de uma prolongada guerra nacional. 
Fome e epidemias ameaçavam a toda a população polonesa. Emília, desde pequena, tinha uma saúde frágil, e não melhorava devido às condições em que vivia. 
Era ainda muito jovem quando se casou com um operário têxtil e se estabeleceram em uma cidadezinha nova, longe de familiares e conhecidos: Wadovice, a 30 km de Cracóvia. Pouco tempo depois nasceu seu primeiro filho, Edmundo, um garoto belo, bom aluno, atleta e de personalidade forte. Chegaria a se formar em Medicina. 
Alguns anos mais tarde, em 1915, Emília deu à luz uma menina, que só sobreviveu poucas semanas, por causa das más condições de vida a que a família estava submetida. Catorze anos depois do nascimento de Edmundo, e quase dez da morte de sua segunda filha, Emília se encontrava em uma situação particularmente difícil. Tinha cerca de 40 anos e sua saúde não havia melhorado: sofria severos problemas renais e seu sistema cardíaco se debilitava, pouco a pouco, devido a uma doença congênita. Além disso, a situação política do seu país era cada vez mais crítica, pois havia sido muito afetado pela recém terminada Primeira Guerra Mundial. Viviam com o indispensável e com a incerteza e o medo de que se instalasse uma nova guerra. Justamente nessas terríveis circunstâncias, Emília percebeu que estava grávida novamente. Apesar de o acesso ao abortamento não ser fácil naquela época, e naquele país tão pobre, existia a opção e não faltou quem se oferecesse para praticá-lo. 
Sua idade e sua saúde faziam da gestação um alto risco para sua vida. Além disso, sua difícil condição de vida lhe fazia perguntar-se: 
Que mundo posso oferecer a este pequeno?
 Uma vida miserável? 
Um povo em guerra? 
Emília desconhecia que só lhe restavam dez anos de vida, por causa de seus problemas de saúde. Tragicamente, também Edmundo, o único irmão do bebê que esperava, viveria só mais dois anos. Alguns anos mais tarde, aconteceria a Segunda Guerra Mundial, e no ano de 1941, o pai da criança que estava por nascer também perderia a vida. Contudo, entre as dificuldades que a assombravam e a vida que nela palpitava, Emília optou por dar à luz seu filho, a quem chamou de Karol. Ele foi o único sobrevivente da família. Aos 21 anos, ficou na Terra sem os pais e sem os irmãos. Este menino se tornou um ancião. Por muitos anos, cada vez que visitava algum país e passava por suas ruas, milhões de gargantas exaltadas lhe gritavam: João Paulo Segundo, nós te amamos. Com vários problemas de saúde, o Papa João Paulo Segundo confessou que somente se sustentava pela força da prece dos que oravam por ele. Pense nisso! 
A jovem Emília podia ter decidido por não permitir o nascimento daquele terceiro filho. Mas, que grande homem teria perdido o Mundo. 
Um homem que utilizou o seu prestígio para falar aos dirigentes das nações sobre as doenças da sociedade e que, esperançoso, afirmava que havia razões para confiar, para esperar, para lutar, para construir. 
Pense nisso e jamais diga não à vida. 
Não importam as situações adversas, nem as nuvens borrascosas que teimam em se apresentar. Se um Espírito lhe bater à porta do coração, pedindo acolhida num minúsculo corpo de carne, receba-o. Ele poderá vir para mudar a face do Mundo. Ele poderá vir, simplesmente, para enrolar seus braços em seu pescoço e sussurrar aos seus ouvidos: Eu te amo, mamãe! 

Redação do Momento Espírita. 

Enfoques sobre a Reencarnação (Palestra com Divaldo Franco)


Conhece-te a ti mesmo

Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?
 “Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado. O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? 
Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? 
O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhosos julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na poderia ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça. 
Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida. Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. 
Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! Que é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos.

SANTO AGOSTINHO. 

Livro dos Espíritos pergunta 919 Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós.

Reflexões de Dezembro


O mês de dezembro é, talvez, o mais propício para uma espécie de balanço de nossas realizações, de nossas aspirações e experiências de todo um período que se finda. 
O último mês do ano é a época preferida para as avaliações das atividades individuais e coletivas, para que se firmem diretrizes ou se busquem novos caminhos. Coincidentemente, é o mês em que se comemora a vinda do Cristo de Deus à Terra, trazendo sua Mensagem de Luz aos homens.
 Seu Natal é um convite à reflexão do que Ele representa para a Humanidade, do que é verdadeiramente essa Mensagem e o que significa para nós. 
Os espíritas, que convivemos com os irmãos de diferentes credos e concepções de vida, aprendemos a respeitá-los, sem, contudo, aderir a usos e costumes que não se coadunam com os princípios da Doutrina Libertadora. 
Somos todos regidos pela lei de evolução. Cada um se encontra em determinado estágio evolutivo. Nesse caso, não podemos desprezar ou condenar nosso companheiro de jornada que ainda se prende a interesses puramente materiais, a representações grosseiras das quais já nos libertamos.
Cumpre-nos entender que o estado de ignorância é transitório para todos, sendo necessariamente um estágio evolutivo em cada criatura, mas não um mal em si mesmo. No mundo de provas e expiações em que vivemos, somos todos imperfeitos, sujeitos a erros, provações e sofrimentos. Sem embargo das próprias imperfeições, compete a todos utilizar a inteligência e a razão no esforço constante para a elevação, através da autoeducação.
 A busca da felicidade de cada um é uma lenta ascensão, já que, por ignorância ou por comodismo, escolhemos os caminhos ilusórios das miragens, só reconhecidos como tais quando aparecem os erros e as decepções. Entretanto, os sofrimentos e dores, os enganos e desilusões são experiências e lições duras que nos ensinam a necessidade de procurar as sendas corretas que conduzem à felicidade. Cedo ou tarde aprendemos que as coisas materiais e seus interesses - bens e riquezas da Terra - são transitórios e mutáveis, destinados à satisfação das necessidades da vida material. 
O despertamento do Espírito acontece quando descobre que a perfeição moral é sua meta e seu destino e que seus erros e as consequências deles constituem experiências e lições aproveitáveis no descobrimento da verdade e do roteiro certo. No Universo os seres se ligam e se influenciam reciprocamente. Não somente as galáxias e os sistemas planetários são solidários entre si, mas nas diversas manifestações da vida, a solidariedade está presente em toda parte. Basta um olhar pelos reinos da Natureza para se constatar a solidariedade entre eles. O reino mineral sustenta os seres vegetais; os animais, por sua vez, sustentam-se de elementos vegetais, minerais e animais que lhes asseguram a vida. Com a morte, os elementos materiais voltam ao reino mineral e o princípio espiritual continua sua trajetória. Nós, os Espíritos eternos, qualquer seja o estágio em que nos encontramos, devemos ter presente a solidariedade existente entre todos determinada pela semelhança do seu destino e da sua natureza. Todos começam num estádio de simplicidade e ignorância. Passam pela inferioridade, sujeitos às mesmas leis divinas e eternas que determinam sua ascensão, de conformidade com o esforço de cada um. Por isso, a solidariedade deve estar presente entre todas as criaturas de Deus, independentemente do grau evolutivo em que se encontre cada uma. O amor ao próximo, como ensinou Jesus, é a expressão mais pura da lei de solidariedade. O dever de amar o próximo é a mais bela expressão da lei Divina, ensinada pelo Cristo, que a coloca junto e após o imperativo de amar a Deus, o Criador de todas as coisas. Não há exceção nessa lei geral. Precisamos aprender a amar a todos, a nos solidarizar com todos. Assim como somos auxiliados e socorridos pelos seres superiores, que já alcançaram poderes e graus acima dos nossos, assim também nos cumpre ajudar e auxiliar, sob múltiplas formas, os que se encontram à retaguarda. O exemplo maior vem-nos do Cristo. Sua mensagem, seu sacrifício e sua renúncia são lições permanentes e indeléveis convocando à solidariedade com os semelhantes, especialmente os que se encontram abaixo de sua posição evolutiva. Quando Jesus, o Cristo, guia e governador espiritual da Humanidade; o modelo perfeito que o Pai Celestial oferece aos homens, resume no amor toda a lei divina, está mostrando que a solidariedade é a grande corrente que liga todas as almas. Se deixamos de amar nosso semelhante, seja qual for sua condição, se odiamos, se desprezamos, se desejamos o mal até mesmo aos inimigos e adversários, essa atitude é a quebra de um elo da grande cadeia da solidariedade. Manifestações patentes da lei de solidariedade entre os seres são as revelações que sempre fluíram da Espiritualidade Superior para todos os povos e nações da Terra, em todos os tempos. São também as intuições e as inspirações captadas pelos gênios e pelos missionários encarregados pelo Plano Superior de trazer aos homens novas idéias e novas concepções de vida mais abundante, à medida que sua capacidade se toma apta a entendê-las e assimilá-las. O Espírito encarnado sofre a poderosa influência da matéria. O mundo que o cerca é o império da vida material. Seu corpo material, suas necessidades físicas, seus sentidos físicos induzem o Espírito a só cuidar dos interesses imediatos do mundo material, fazendo-o esquecer sua condição de essência espiritual. Essa é uma característica peculiar dos mundos materiais atrasados como o nosso. A Providência Divina não permite que prevaleça absoluta a influência exclusiva da materialidade. O Espírito guarda sempre a intuição de sua natureza, de sua origem e de seu destino, auxiliado, em todas as épocas, a cultivar suas qualidades latentes, suas aspirações adormecidas. As revelações superiores, os missionários e enviados do Alto são os agentes incumbidos de despertar no homem o interesse pelas coisas espirituais, contrabalançando a poderosa influência da matéria. As grandes religiões da Humanidade tiveram e têm esse papel de extrema importância, que é o de despertar na criatura a consciência da existência de um Ser Supremo, criador do Universo e da essência da vida. Como diz Emmanuel ("A Caminho da Luz"), "as tradições religiosas da antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento". Através das revelações e das religiões homem se furta à exclusiva influência da materialidade, lembrando-se de sua condição de essência espiritual. É, pois, de extrema importância o papel das religiões ao contrabalançar a influência do materialismo, mesmo considerando-se que elas "evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento". As revelações do Mundo Espiritual Superior são sucessivas e gradativas. Sendo o Cristo o Governador Espiritual da Terra, desde sua formação, como executor da vontade de Deus, torna-se evidente que todas as Revelações obedeceram à sua orientação e por isso mantém uma unidade substancial. "A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz dos seus poderosos emissários." ("A Caminho da Luz", pág. 83, 22ª ed. FEB.) Mas é lógico que as Revelações haveriam de atender às possibilidades de percepção de cada raça, de cada povo e às condições de adiantamento de cada época. O próprio Cristo viria, em pessoa, trazer orientações e conhecimentos de extrema importância para a Humanidade. Sabendo, entretanto, das limitações dos homens e dos entraves que iriam atingir sua Mensagem, por desvios no entendimento e na prática de seus ensinamentos, prometeu a vinda posterior do que Ele denominou "O Consolador", destinado a ensinar todas as coisas e a recordar tudo o que já ensinara. (João, 14:15-17 e 26.) O Consolador veio e está entre nós. É a Doutrina dos Espíritos, esclarecedora e consoladora por sua natureza, que nos ensina as coisas transcendentes de que necessitamos no atual estágio da Humanidade, que recorda os ensinos do Cristo para o correto comportamento dos homens perante as leis divinas e que retifica os transvios das religiões nas suas práticas através dos séculos. Mas o Espiritismo não esclarece somente o transcendente, oferecendo-nos noções mais realistas a respeito de Deus, a Inteligência Suprema e sobre o Cristo, o Filho de Deus. Dá-nos a conhecer muitas das leis divinas que já podemos compreender - a evolução contínua, as vidas sucessivas em mundos materiais como o nosso, a lei de causa e efeito, a eternidade da vida do Espírito - leis que mostram ao ser humano suas próprias possibilidades de crescimento, na proporção da aplicação de sua vontade, de sua inteligência e da liberdade de que goza. O homem, Espírito encarnado neste mundo atrasado, vem, há milênios, cumprindo seu destino, aprendendo as coisas rudimentares da vida, aperfeiçoando-se através de trabalhos rudes, repetitivos, através das reencarnações. Por vezes alça altos voos, impelido por ideais elevados resultantes de aprendizado adquirido no núcleo substancial das religiões. Agora, com a Revelação Nova, encontra recursos para desenvolver os valores que jazem no recôndito de seu ser. Sua fé e esperança fundam-se em realidades que ele conhece. Seu futuro torna-se mais claro, na certeza de que é a continuação da vida em outra dimensão, longe da idéia asfixiante do nada ou da ilusão de um céu indefinido, ou de uma condenação eterna. Cumpre-lhe, com a certeza dessa realidade, preparar o porvir, através dos pensamentos e ações presentes, que dizem respeito à sua vida íntima e à sua vida de relações com seus semelhantes. Agora o viajor eterno não anda a esmo. Tem um roteiro a seguir, que lhe é conhecido. Amar e servir resumem esse roteiro. 

Juvanir de Souza
 Reformador 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A Regeneração da Humanidade


Os acontecimentos se precipitam com rapidez, também não vos dizemos mais como outrora: "Os tempos estão próximos"; nós vos dizemos agora: "Os tempos estão chegados". Por estas palavras não entendeis um novo dilúvio, nem um cataclismo, nenhum transtorno geral. 
As convulsões parciais do globo ocorreram em todas as épocas e se produzem ainda, porque se prendem à sua constituição, mas não estão ali os sinais dos tempos. E, no entanto, tudo o que está predito no Evangelho deve se cumprir e se cumpre neste momento, assim como o reconhecereis mais tarde; mas não tomeis os sinais anunciados senão como figuras das quais é preciso tomar o espírito e não a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria, e foi porque os comentaristas se prenderam à letra que se enganaram. Faltou-lhes a chave para compreenderem seu sentido verdadeiro. 
Esta chave está nas descobertas da ciência e nas leis do mundo invisível que vem de nos revelar o Espiritismo. Doravante, com a ajuda destes novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível. Tudo segue a ordem natural das coisas, e as leis imutáveis de Deus não serão modificadas. Não vereis, pois, nem milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural no sentido vulgar dado a estas palavras. Não olheis o céu para nele procurar os sinais precursores, porque ali não os vereis, e aqueles que vo-los anunciaram vos enganaram; mas olhai ao vosso redor, entre os homens, será aí que os encontrareis. Não sentis como um vento que sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O mundo está à espera e como tomado de um vago pressentimento da aproximação da tempestade. Não credes, entretanto, no fim do mundo material; a Terra progrediu depois de sua transformação; ela deve progredir ainda, e não ser destruída. Mais a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação, e a Terra vai se elevar na hierarquia dos mundos. Não é, pois, o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral; é o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que se desmorona; cada dia dele carrega alguns destroços. Tudo acabará para ele com a geração que se vai, e a geração nova erguerá o novo edifício que as gerações seguintes consolidarão e completarão. De mundo de expiação, a Terra está chamada a se tornar um dia um mundo feliz, e sua habitação será uma recompensa em lugar de ser uma punição. O reino do bem, nela, deve suceder ao reino do mal. Para que os homens sejam felizes sobre a Terra, é preciso que ela não seja povoada senão de bons Espíritos, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem. Este tempo tendo chegado, uma grande emigração se cumprirá nesse momento entre aqueles que a habitam; aqueles que fazem o mal pelo mal, e que o sentimento do bem não toca, não sendo mais dignos da Terra transformada, dela serão excluídos, porque lhe trariam de novo a perturbação e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso. Eles irão expiar seu endurecimento nos mundos inferiores, onde levarão seus conhecimentos adquiridos, e terão por missão fazer avançar. Serão substituídos sobre a Terra por Espíritos melhores, que farão reinar entre si a justiça, a paz, a fraternidade. A Terra, dissemos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilaria subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo sem que nada tenha mudado a ordem natural das coisas. Tudo passará, pois, exteriormente como de hábito, com esta única diferença, mas esta diferença é capital, é que uma parte dos Espíritos que aí se encarnam não se encarnarão nela mais. Numa criança que nasça, em lugar de um Espírito atrasado e levado ao mal que nela teria encarnado, será um Espírito mais avançado e levado ao bem. Trata-se, pois, bem menos de uma nova geração corpórea do que de uma nova geração de Espíritos. Assim, aqueles que esperam ver a transformação se operar por efeitos sobrenaturais serão frustrados. A época atual é a da transição; os elementos das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermediário, assistis à partida de uma e à chegada da outra, cada uma já se mostra no mundo pelos caracteres que lhe são próprios. As duas gerações que sucedem uma à outra têm idéias e objetivos inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, mas, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir à qual pertence cada indivíduo. A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, juntadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Ela não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador. O que distingue, ao contrário, os Espíritos atrasados, é primeiro a revolta contra Deus pela negação da Providência e de toda força superior à Humanidade; depois, a propensão instintiva às paixões degradantes, aos sentimentos anti-fraternos do egoísmo, do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância do apego a tudo o que é material. São esses vícios, dos quais a Terra deve ser purgada pelo afastamento daqueles que recusam se emendar, porque são incompatíveis com o reino da fraternidade e que os homens de bem sofrerão sempre com o seu contato. A Terra deles estará livre, e os homens caminharão sem entraves para o futuro melhor que lhes está reservado neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, à espera de que uma depuração ainda mais completa lhes abra a entrada dos mundos superiores. Por essa emigração de Espíritos não é preciso entender que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados aos mundos inferiores. Muitos, ao contrário, a ela retornarão, porque muitos cederam ao arrastamento de circunstâncias e do exemplo. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do mundo corpóreo, a maioria verá as coisas de maneira toda diferente de quando viviam, assim como tendes visto numerosos exemplos. Nisto, eles são ajudados pelos Espíritos benevolentes que se interessam por eles e que diligenciam de esclarecê-los e lhes mostrar o falso caminho que seguiram. Por vossas preces e vossas exortações, vós mesmos podeis contribuir para a sua melhoria, porque há uma solidariedade perpétua entre os mortos e os vivos. Aqueles poderão, pois, retornar, e com isto serão felizes, porque será uma recompensa. Que importa o que foram e o que fizeram, se estão animados dos melhores sentimentos! Longe de serem hostis à sociedade e ao progresso, serão auxiliares úteis, porque pertencerão à nova geração. Não haverá, pois, exclusão definitiva senão para os Espíritos essencialmente rebeldes, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais do que a ignorância, tornam surdos à voz do bem e da razão. Mas aqueles mesmos não são votados a uma inferioridade perpétua, e virá um dia em que eles repudiarão o seu passado e abrirão os olhos à luz. Orai, pois, por esses endurecidos, a fim de que se emendem enquanto para isso é tempo ainda, porque o dia da expiação se aproxima. Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá em sua cegueira, e sua resistência marcará o fim de seu reino por lutas terríveis. Em seu desvio, correrão eles mesmos para a sua perda; levarão à destruição que engendrará uma multidão de flagelos e de calamidades, de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era da renovação. E como a destruição não caminhará com muita rapidez, ver-se-ão os suicídios se multiplicarem numa proporção estranha, até entre as crianças. A loucura jamais terá atingido um maior número de homens que serão, antes da morte, riscados do número dos vivos. Aí estão os verdadeiros sinais dos tempos. E tudo isto se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, assim como o dissemos, sem que seja em nada derrogada uma lei da Natureza. No entanto, através da nuvem sombria que vos envolve, e no seio da qual ribomba a tempestade, já vedes despontar os primeiros raios da era nova! A fraternidade põe seus fundamentos sobre todos os pontos do globo e os povos se estendem a mão; a barbárie se familiariza ao contato da civilização; os preconceitos de raças e de seitas, que têm feito verter ondas de sangue, se extinguem; o fanatismo e a intolerância perdem terreno, ao passo que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito. Por toda a parte as idéias fermentam; vê-se o mal e se experimentam os remédios, mas muitos caminham sem bússola e se perdem nas utopias. O mundo está num imenso trabalho de parto que terá durado um século; desse trabalho, ainda confuso, vê-se, ainda, no entanto, dominar uma tendência para um objetivo: o da unidade e da uniformidade que predispõe à confraternização. Estão ainda ali os sinais do tempo; mas, ao passo que os outros são os da agonia do passado, estes últimos são os primeiros vagidos da criança que nasce, os precursores da aurora que verá se levantar o século próximo, porque então a nova geração estará em toda a sua força. Tanto a fisionomia do século dezenove difere da do século dezoito em certos pontos de vista, tanto a do século vinte será diferente do século dezenove em outros pontos de vista. Um dos caracteres distintivos da nova geração será a fé inata; não a fé exclusiva e cega que divide os homens, mas a fé raciocinada que esclarece e fortalece, que os une e os confunde num comum sentimento de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue, desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social. O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque arruínam os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o fanatismo. Ele dá uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e todas as idéias que correspondem aos objetivos da nova geração; é porque é como inato e no estado de intuição no coração de seus representantes. A era nova o verá, pois, crescer e prosperar pela própria força das coisas. Tomar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições. Daqui até lá, quantas lutas ter-se-á ainda que sustentar contra estes dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que, coisa estranha, se dão a mão para abatê-lo! Pressentem seu futuro e sua ruína: é porque o temem, porque o vêem já plantar, sobre as ruínas do velho mundo egoísta, a bandeira que deve ligar todos os povos. Na divina máxima: Fora de caridade não há salvação, lêem a sua própria condenação, porque é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se mostra a eles como as palavras fatais do festim de Baltazar. E, no entanto, esta máxima deveria bendizê-la, porque os garante de todas as represálias da parte daqueles que persegue. Mas não, uma força cega os impele a rejeitar a única coisa que poderia salvá-los! Que poderão contra o ascendente da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, disto não duvideis, porque ele está nas leis da Natureza, e por isto mesmo imperecível. Vede por que multidão de meios a idéia se difunde e penetra por toda a parte; crede bem que esses meios não são fortuitos, mas providenciais; o que, à primeira vista, parecia dever prejudicá-lo, é precisamente o que ajuda a sua propagação. Logo se verão surgir os combatentes altamente devotados entre os homens mais consideráveis e os mais acreditados, que o apoiarão com a autoridade de seu nome e de seu exemplo, e imporão silêncio aos seus detratores, porque não se ousará mais tratá-los de loucos. Estes homens o estudam no silêncio e se mostrarão quando o momento propício tiver chegado. Até lá, é útil que se mantenham à parte. Logo também vereis as artes dele tirar como de uma mina fecunda, e traduzir seus pensamentos e os horizontes que descobre pela pintura, pela poesia e pela literatura. Foi vos dito que haveria um dia a arte espírita, como houve a arte paga e a arte cristã, e é uma grande verdade, porque os maiores gênios nele se inspirarão. Logo disto vereis os primeiros esboços, e, mais tarde, tomará o lugar que deve ter. Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e de devotamento. Não temais os obstáculos, porque deles não há nenhum que possa entravar os desígnios da Providência. Trabalhai sem descanso, e agradecei a Deus por vos ter colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos pedistes, e do qual é preciso vos tornar dignos pela a vossa coragem, vossa perseverança e devotamento. Felizes aqueles que sucumbirem nessa luta contra a força; mas a vergonha será, no mundo dos Espíritos, para aqueles que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade. As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contato do mal faz apreciar melhor as vantagens do bem. Sem as lutas que estimulam as faculdades, o Espírito se deixaria ir a uma negligência funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais. 

 Compilado da Revista Espírita – Allan Kardec Publicado em dezembro de 1866

Bataclan

Os atentados terroristas em Paris são como uma febre no organismo social. Dói, incomoda e leva a procurar um remédio. E a febre é apenas o sintoma de um drama de natureza moral e espiritual que nunca esteve tão elevado em toda a história da humanidade terrena.
 O terrorismo nada mais é que a velha necessidade do homem de anular a diferença para preponderar. No caso, usando a lamentável atitude de violência. 
O nome desse sentimento é poder. Poder é a coroa de ouro das organizações mais sombrias de todos os tempos. É a mais antiga doença do ser espiritual que faz seu aprendizado nessa escola de provas e expiações onde o egoísmo ainda é soberano. 
 Uma espessa camada miasmática se forma na chamada psicosfera, a parte astral do planeta mais próxima da matéria física. Esse cinturão de sombras é o resultado dos dejetos mentais da mente encarnada e desencarnada. Culpa, medo, ódio e poder se aglutinam junto a outras matérias mentais formando essa nuvem cinzenta e com vida própria.
 A Terra não colhe o fruto indigesto proveniente apenas das cabeças terroristas orientadas pela ganância extremista de grupos de poder. Cada vez que alguém tenta anular a diferença, é uma bomba lançada no fortalecimento desse cinturão de trevas em torno do planeta. Anular a diferença significa todo ato no qual não se consegue respeitar e reconhecer que o que pertence ao outro é de responsabilidade dele. Existe uma compulsiva e desastrosa necessidade no coração humano de convencer, controlar, mudar, transformar e moldar o outro aos seus modelos de viver. Isso é poder. Isso é terrorismo nos relacionamentos por meio de micro violências. 
 O terrorismo que explode no Bataclan é o efeito dessa onda miasmática milenar que assola nossa casa planetária. Quando você respeita o outro, quando você reconhece o direito do outro de viver a experiência que lhe convém, quando você percebe que só tem poder real é sobre você mesmo, as relações vão mudar, o mundo começará também a mudar. Tenham esperança. A febre social em Paris leva todos os continentes a procurarem ajuda na erradicação de suas doenças. Em meio às dolorosas convulsões nasce uma nova ordem que não tardará. 
 Quer colaborar com esse novo tempo?
 Comece a desarmar-se. Retire esses explosivos de pretensões e endurecimento na conduta. 
Liberte-se dessa ânsia de preponderar seja onde for. 
Melhor que dominar é ser feliz. 
Contribua com a diminuição do terrorismo no nosso planeta abençoado.
 Deixe de querer ter razão sempre.

 Autor: Maria Modesto Cravo (espirito), amante do Cristo e servidora do bem, lhes abençoo com paz. 14/11/15. Psicografia de Wanderley Oliveira.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Colônias espirituais sobre o Brasil


A técnica da paciência

A paciência é virtude muito ensinada, mas dificilmente vivida nos momentos em que ela se torna imprescindível. Recomenda-se lhe o uso desde tempos imemoriais. Dela tratam as religiões, as filosofias e, hodiernamente, a psicologia. Evidentemente, para que algo possa ser conscientemente usado é necessário que seja conhecido. Já é tempo de aprofundar-se o estudo desse estado emocional produtivo, a fim de que seus benefícios sejam dilatados. 
Ante difícil problema, forte emoção, profunda tristeza ou qualquer frustração, o antídoto recomendado é: Paciência! Mas, como encontrar a paciência?
 Deverá ser buscada interiormente ou exteriormente? 
Muitas são as questões que o tema propõe. Evidentemente não pretendemos equacioná-los. Todavia, urge comentá-lo, analisá-lo com maior profundidade. Começamos nossa ilação interrogando: paciência encontra-se ou se desenvolve? Acreditamos que a paciência é um estado mental positivo que se desenvolve. Porém, esse desenvolvimento, em face do próprio processo evolutivo a que o espírito está subordinado, pode ser natural, espontâneo, empírico, por isso mais lento; ou planejado, estudado, preparado e exercido conscientemente, no processo da auto-educação, consequentemente mais rápido. 
Como o homem, através do estudo e da técnica, pode melhorar o rendimento até do vegetal, o que não alcançará ele se a mesma coisa fizer na estruturação da sua felicidade? Portanto ensaiemos em torno da paciência. Absolutamente não pode ela ser confundida com o desanimo, a inércia, o desinteresse, a acomodação ou outros estados emocionais que, exteriormente indicam certa tranquilidade por parte daquele que enfrenta exacerbada dificuldade. Não é paciente aquele que ignora propositadamente o problema. Exige uma atitude positiva, verdadeira e realista ante o fato, ato, sentimento ou emoção frustrante. É preciso conhecer o problema, suas causas e efeitos. Delimitá-lo em seu real território. Consequentemente, a paciência é a conscientização que, clarificando o obscuro e aterrador, proporciona visão clara e posição íntima, serena, para a movimentação de forças solucionadoras. Ela pode ser: ativa ou passiva. Ativa quando, para a solução do problema, ela determina comportamento e atitudes atuantes na remoção do obstáculo, de forma enérgica, persistente e confiante. Passiva, quando a omissão e a inércia se impõem a fim de que o comportamento e a atitude ante o fato obstruidor não seja irracional, infringindo os princípios equilibrantes da Lei Divina. Diante dessas duas formas de dispor da energia mental é que reside a importância de “como” ser paciente. Nessa aplicação torna-se necessário profundo estudo para conhecer: se houve liberação de forças instintivas, oriundas da animalidade irracional, ou forças superiores conscientemente aplicadas para o engrandecimento do homem. Outro aspecto que merece analisado é a reação interiormente sentida, sob a forma de irritação, revolta, despeito, cólera e, até mesmo, ódio ante o evento desagradável. Isto porque, às vezes, a causa do desajustamento não está no exterior; fato, acontecimento ou pessoa, mas em raízes neuróticas que a personalidade traz em si. Então, essa causa faz explodir, na personalidade, as reações improdutivas, egoísticas e destruidoras. Por isso, é necessário que, ante o problema, a reação por ele produzida seja “facionalmente” compreendida (se tem um sentido construtivo ou destrutivo). O que jamais ocorre é a paciência constituir-se em emoção imponderável. Ela é um feixe de energias mentais positivas e atuantes.  
Concluímos que a paciência é uma posição mental construtiva, a ser conquistada. Para tal, caminharemos ganhando terreno aos poucos, pois, como verdadeira técnica, exige esforço, persistência e prática. Não é conquistável de uma vez, nem por um “golpe de força de vontade”. Até sua conquista definitiva e exercício natural, conforme a situação, ela será exercida ou não de modo perfeito ou imperfeito. 
O que importa é seu conhecimento e aplicação pois a paciência constitui condição para a saúde mental e processo de desenvolvimento espiritual. 

Airton Paiva Reformador (FEB) Fevereiro 1970

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Reforma íntima


 Quanto puderes, posterga a prática do mal até o momento que possas vencer essa força doentia que te empurra para o abismo. Provocado pela perversidade, que campeia a solta, age em silêncio, mediante a oração que te resguarda na tranqüilidade. Espicaçado pelos desejos inferiores, que grassam, estimulados pela onde crescente do erotismo e da vulgaridade, gasta as tuas energias excedentes na atividade fraternal. Empurrado para o campeonato da competição, na área da violência, estuga o passo e reflexiona, assumindo a postura da resistência passiva. Desconsiderado nos anseios nobres do teu sentimento, cultiva a paciência e aguarda a bênção do tempo que tudo vence. Acoimado pela injustiça ou sitiado pela calúnia, prossegue no compromisso abraçado, sem desânimo, confiando no valor do bem. Aturdido pela compulsão do desforço cruel, considera o teu agressor como infeliz amigo que se compraz na perturbação. Desestimulado no lar, e sensibilizado por outros afetos, renova a paisagem familiar e tenta salvar a construção moral doméstica abalada.   É muito fácil desistir do esforço nobre, comprazer-se por um momento, tornar-se igual aos demais, nas suas manifestações inferiores. Todavia, os estímulos e gozos de hoje, no campo das paixões desgovernadas, caracterizam-se pelo sabor dos temperos que se convertem em ácido e fel, a requeimarem por dentro, passados os primeiros momentos. Ninguém foge aos desafios da vida, que são técnicas de avaliação moral para os candidatos à felicidade. O homem revela sabedoria e prudência, no momento do exame, quando está convidado à demonstração das conquistas realizadas. Parentes difíceis, amigos ingratos, companheiros inescrupulosos, co-idealistas insensíveis, conhecidos descuidados, não são acontecimentos fortuitos, no teu episódio reencarnacionista. Cada um se movimenta, no mundo, no campo onde as possibilidades melhores estão colocadas para o seu crescimento. Nem sempre se recebe o que se merece. Antes, são propiciados os recursos para mais amplas e graves conquistas, que darão resultados mais valiosos. Assim, aprende a controlar as tuas más inclinações e adia o teu momento infeliz. Lograrás vencer a violência interior que te propele para o mal, se perseverares na luta.  Sempre que surja oportunidade, faze o bem, por mais insignificante que te pareça. Gera o momento de ser útil e aproveita-o. Não aguardes pelas realizações retumbantes, nem te detenhas esperando as horas de glorificação. Para quem está honestamente interessado na reforma íntima, cada instante lhe faculta conquistas que investe no futuro, lapidando-se e melhorando-se sem cansaço. Toda ascensão exige esforço, adaptação e sacrifício. Toda queda resulta em prejuízo, desencanto e recomeço. Trabalha-te interiormente, vencendo limite e obstáculo, não considerando os terrenos vencidos, porém, fitando as paisagens ainda a percorrer. A tua reforma íntima te concederá a paz por que anelas e a felicidade que desejas. 

Divaldo Franco. Da obra: Vigilância. 
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Caminhos do coração

Multiplicam-se os caminhos do processo evolutivo, especialmente durante a marcha que se faz no invólucro carnal. Há caminhos atapetados de facilidades, que conduzem a profundos abismos do sentimento. Apresentam-se caminhos ásperos, coalhadas de pedrouços que ferem, na forma de vícios e derrocadas morais escravizadores. Abrem-se, atraentes, caminhos de vaidade, levando a situações vexatórias, cujo recuo se torna difícil. Repontam caminhos de angústia, marcados por desencantos e aflições desnecessárias, que se percorrem com loucura irrefreável. Desdobram-se caminhos de volúpias culturais, que intoxicam a alma de soberba, exilando-a para as regiões da indiferença pelas dores alheias. Aparecem caminhos de irresponsabilidade, repletos de soluções fáceis para os problemas gerados ao longo do tempo. Caminhos e caminhantes! Existem caminhos de boa aparência, que disfarçam dificuldades de acesso e encobrem feridas graves no percurso. Caminhos curtos e longos, retos e curvos, de ascensão e descida, estão por toda parte, especialmente no campo moral, aguardando ser escolhidos. 
 Todos eles conduzem a algum lugar, ou se interrompem, ou não levam a parte alguma... São, apenas, caminhos: começados, interrompidos, concluídos... 
Tens o direito de escolher o teu caminho, aquele que deves seguir. Ao fazê-lo, repassa pela mente os objetivos que persegues, os recursos que se encontram à tua disposição íntima assinalando o estado evolutivo, a fim de teres condição de seguir. Se possível, opta pelos caminhos do coração. Eles, certamente, levarão os teus anseios e a tua vida ao ponto de luz que brilha à frente esperando por ti. 
 O homem estremunha-se entre os condicionamentos do medo, da ambição, da prepotência e da segurança que raramente discerne com correção. O medo domina-lhe as paisagens íntimas, impedindo-lhe o crescimento, o avanço, retendo-o em situação lamentável, embora todas as possibilidades que lhe sorriem esperança.
 A ambição alucina-o, impulsionando-o para assumir compromissos perturbadores que o intoxicam de vapores venenosos, decorrentes da exagerada ganância. 
 A prepotência anestesia-lhe os sentimentos, enquanto lhe exacerba as paixões inferiores, tornando-o infeliz, na desenfreada situação a que se entrega. 
 A liberdade a que aspira, propõe-lhe licenças que se permite sem respeito aos direitos alheios nem observância dos deveres para com o próximo e a vida; destruindo qualquer possibilidade de segurança, que, aliás, é sempre relativa enquanto se transita na este física. 
 Os caminhos do coração se encontram, porém, enriquecidos da coragem, que se vitaliza com a esperança do bem, da humildade, que reconhece a própria fragilidade, e satisfaz-se com os dons do espírito - ao invés do tresvariado desejo de amealhar coisas de secundário importância - os serviços enobrecedores e a paz, que são a verdadeira segurança em relação às metas a conquistar. 
 Os caminhos do coração encontram-se iluminados pelo conhecimento da razão, que lhes clareia o leito, facilitando o percurso. 
 Jesus escolheu os caminhos do coração para acercar-se das criaturas e chamá-las ao reino dos Céus. Francisco de Assis seguiu-Lhe o exemplo e tornou-se o herói da humildade. 
 Vicente de Paulo optou pelos mesmos e fez-se o campeão da caridade. Gandhi redescobriu-os e comoveu o mundo, revelando-se como o apóstolo da não-violência. Incontáveis criaturas, nos mais diversos períodos da humanidade e mesmo hoje, identificaram esses caminhos do coração e avançam com alegria na direção da plenitude espiritual. Diante dos variados caminhos que se desdobram convidativos, escolhe os caminhos do coração, qual ovelha mansa, e deixa que o Bom Pastor te conduza ao aprisco pelo qual anelas. 

 Divaldo Franco
 Da obra: Momentos de Felicidade. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. 

Prece de Agradecimento (vídeo)


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A evolução da Terra


Na obra de Deus reina a perfeição, nela tudo é útil e harmonioso, o Universo infinito é algo sublimado e transcendental, que jamais poderá ser descrito pela linguagem humana. 
 Já se eclipsou na voragem do tempo, a época em que se supunha ser a Terra o centro do Universo. A teoria geocêntrica foi suplantada pela heliocêntrica e, após Galileu, as teologias terrenas tiveram que rever seus dogmas e seus conceitos, Jesus Cristo definiu esses mundos como sendo outras tantas moradas para o Espírito em sua escalada evolutiva rumo à perfeição. 
 A casa do Pai é o Universo todo, e as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, oferecendo aos Espíritos estações apropriadas ao cumprimento de um prolongado processo evolutivo. 
 Os diversos mundos possuem condições muito diferentes uns dos outros, no tocante ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes, pois nem todos desfrutam do mesmo grau de progresso, existem mundos inferiores à Terra, tanto física como moralmente, outros estão no mesmo nível e outros lhe são mais, ou menos, superiores em todos os aspectos.
 Os Espíritos, ao longo do seu processo evolutivo, habitam as diferentes moradas da Casa do Pai, tendo como ponto inicial o estado de simplicidade e ignorância; caminham através de uma escala bastante prolongada, possuindo como meta a angelitude, nos mundos que já atingiram um grau superior de evolução, as condições da vida moral são muito diferentes daquelas que se verificam na Terra. 
 O corpo nada tem da materialidade terrena e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às enfermidades e às deteriorações oriundas da prevalência da matéria, a menor densidade específica torna mais fácil a locomoção. 
 A Doutrina Espírita propicia aos homens uma visão bem mais clara e ampla do Universo, fazendo com que eles descortinem novos horizontes, animando-os da certeza da imortalidade da alma e do futuro radiante e grandioso que os aguarda. Embora seja tarefa sumamente difícil fazer uma classificação absoluta dos mundos, os Espíritos estabeleceram uma escala com cinco categorias distintas: 

 1. Mundo Primitivo: Onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana. 
 2. Mundo de Expiação e Provas: Onde o mal predomina. 
 3. Mundo de Regeneração: Onde as almas que ainda têm algo a expiar adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta. 
 4. Mundos Felizes: Onde o bem predomina sobre o mal. 
 5. Mundos Divinos ou Celestes: Onde moram os Espíritos purificados e o bem reina plenamente. 
 A Terra está situada na faixa dos mundos de expiações e de provas, nela ainda predominando o mal; entretanto, afirmam os Espíritos Benfeitores que, futuramente, ela ascenderá à categoria de mundo de regeneração. 
 Espíritos que habitam os mundos mais adiantados podem reencarnar na Terra para o desempenho de determinadas missões. 
 Os apóstolos de Jesus, sem sombra de dúvida, eram Espíritos de elevada hierarquia, que aqui vieram com a missão grandiosa de acompanhar o Mestre no seu sublime messiado. 
 Espíritos elevados que eram, encarnaram num mundo denso, onde predominava a maldade; eles sentiram-se deslocados e por isso, Jesus lhes disse: "Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim", acrescentando logo a seguir: "Há muitas moradas na Casa de meu Pai, se assim não fosse eu vo-lo teria dito". (João 14:1-2) Como se pressentindo que aqueles homens se sentiriam desprotegidos e desamparados após a sua partida para as regiões celestiais, o Mestre lhes acenou com a afirmativa de que "Ele iria na frente para lhes preparar o lugar". Isso naturalmente, para lhes demonstrar que, dada a elevação de seus Espíritos, eles não eram deste mundo e a eles estavam reservadas moradas nas regiões mais sublimes, este ensinamento de Jesus não era exclusivamente destinado aos apóstolos, mas extensível a todas as criaturas.

Transição Planetária


Estamos no limiar da grande transição, em que o nosso planeta passará da condição de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração. 
Isso já constava no planejamento celestial há muito tempo e não se dará, obviamente, num passe de mágica, pois se trata de um processo de transformação lento e gradual, porém, impostergável. 
 As tragédias naturais, como o tsunami do Oceano Índico, objeto de nossas considerações, fazem parte desse processo, pois elas têm o objetivo de fazer a Humanidade progredir mais depressa, através do expurgo daqueles Espíritos calcetas, refratários à ordem e à evolução moral e espiritual, que já não podem mais ser retardadas.
 Eles passarão algum tempo em outras esferas, aprendendo as leis do Amor e do Bem, até que tenham condições de retornar ao nosso planeta, para dar seu contributo em benefício do progresso da Humanidade. 
  Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Substitui-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. 
A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares.

(A GÊNESE, de Allan Kardec – A geração nova, Cap. XVIII – Itens 27 e 28)

Transição Planetária - Bezerra de Menezes (vídeo)


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Livre Arbítrio

Para a Doutrina Espírita não há destino, não há predestinação, não há sorte ou azar.
 O futuro é construído todos os dias. Através de pensamentos e ações, o espírito e seu grupo cultural escolhem e determinam seus caminhos, exercitando uma característica indissociável do ser inteligente: o livre-arbítrio. A evolução é o fundamento da vida e ocorre pela aquisição de conhecimentos em sentido amplo: técnico, afetivo, emocional, moral, filosófico, científico, religioso. O espírito adquire conhecimentos novos através das experiências, vivências e convivências acumuladas ao longo de sucessivas situações pelas quais passa, tanto no polissistema espiritual como no material. Ao somar conhecimentos novos, o ser modifica a visão que tem de si mesmo, dos outros, do mundo e de Deus, ou seja, amplia a sua consciência, evolui. O conhecimento e o comportamento resultantes das situações enfrentadas delimitam um caminho próprio para cada ser inteligente. De acordo com as suas escolhas, ele tem experiências diferentes e, em consequência, conhecimentos diferentes, que desenham uma sequência própria que lhe confere individualidade. Na construção do perfil que caracteriza como único cada espírito (inteligência, afeto, sentimento, valor, consciência) a liberdade de escolha, o exercício do livre-arbítrio, é o que permite ao ser inteligente alcançar os objetivos da vida. Os segmentos de conhecimento acumulados pelo espírito no decorrer de suas experiências determinam, proporcionalmente, uma capacidade de entendimento, compreensão e construção. O conhecimento que o espírito possui permite que ele solucione várias situações da vida. Dentro do limite do que já é conhecido pelo espírito as situações não se constituem em dificuldade e a sua resolução contribui para que os que convivem com o espírito alcancem, também, o conhecimento que ele domina. Entretanto, como as experiências vividas são limitadas, o que o espírito sabe também é limitado. As dificuldades apresentadas na superação de algumas situações indicam as limitações do espírito. A solução, o conhecimento capaz de resolver a dificuldade, no entanto, não se encontra pronta; deve ser construída, adaptada às características únicas da situação e das pessoas envolvidas. A construção da resposta se faz da própria experiência do espírito ou da experiência acumulada pelo outro, encarnado ou desencarnado, que será adaptada ao edifício de conhecimentos do espírito, de acordo com a sua capacidade de raciocínio, seus sentimentos, seus valores e seu entendimento. É a liberdade de escolha que determina quais segmentos de conhecimento, tanto em qualidade como em quantidade, serão assimilados e como serão acomodados e equilibrados em relação aos conhecimentos que já constituem o ser, de forma coerente, para sustentar comportamentos. As situações que o espírito enfrenta ao longo de sua trajetória, tanto no polissistema espiritual como no material, podem ser uma consequência direta de suas atitudes anteriores, ou podem ser condicionadas por variáveis além do seu controle. Entretanto, a escolha que o espírito adota diante da situação apresentada é de sua completa responsabilidade. Dentro dos limites de seu entendimento, o espírito é responsável pelas consequências, efeitos, desdobramentos e novas situações geradas a partir de suas decisões. Diante do desafio e de acordo com sua liberdade de escolha, a resposta do espírito poderá estar situada entre o "hediondo" e o "sublime". No entanto, com maior probabilidade, a resposta será compatível, coerente, com as decisões anteriores que a pessoa já tomou. Haverá escolhas mais ou menos adequadas para um certo espírito em um dado momento. Como os caminhos são múltiplos e as situações enfrentadas são diferentes, as respostas deverão ser diversas. O critério para se encontrar a resposta mais adequada será sempre individual. A coerência entre a verdade alcançada e a sua prática deverá nortear a escolha consciente. Quanto maior o cruzamento de experiências que puder ser mobilizado e considerado antes da tomada de decisão, maior a probabilidade dela estar coerente com a história de vida da pessoa até então; maior a chance da decisão preencher a necessidade do espírito naquele momento. O autoconhecimento, portanto, é fundamental, para o exercício pleno do livre-arbítrio. Escolhas que afastem o ser inteligente da coerência com sua história propiciam desdobramentos com menor qualidade ou quantidade de experiências e, consequentemente, reduzem o aproveitamento daquela sequência de experiências. Muitas vezes, no entanto, as consequências de uma atitude ou pensamento podem não ser tão significativas. A escolha pode alterar a ênfase e a direção da trajetória, modificando as possibilidades existentes, mas sem conotação positiva ou negativa. As experiências possíveis, após a decisão, passam a ser diferentes das planejadas, mas igualmente significativas para a evolução do espírito na medida em que segmentos diferentes de conhecimento são explorados. As consequências que se seguem ao exercício de escolha, propiciam experiências que vão contribuir para o crescimento do espírito na medida em que ele, consciente, se empenhe em aproveitá-las. O espírito cresce na medida em que se esforça por preservar ou ampliar as experiências que são favoráveis ou modificar as que não são adequadas. O exercício do livre-arbítrio sofre a influência dos chamados paradigmas da cultura, da inteligência e da contingência, que podem potencializar ou dificultar o seu exercício pleno. As influências sobre o livre-arbítrio são em primeiro lugar relativas ao conhecimento alcançado. Quanto maior o domínio sobre um segmento de conhecimento, tanto maior será o entendimento e a responsabilidade sobre as decisões. As decisões tomadas por uma pessoa, no exercício de seu livre-arbítrio, podem alterar, potencializar ou limitar o exercício do livre-arbítrio de outras pessoas. O exercício do livre-arbítrio é tanto uma atividade individual como do grupo social. As limitações e as capacidades do espírito se relacionam com as do grupo. As limitações e as capacidades do grupo refletem a soma da mentalidade de seus membros, determinando uma massa crítica que sustenta ou inibe algum tipo de comportamento. O meio cultural, no qual um espírito está encarnado, determina um quadro dentro do qual ele passa a se mover. Este quadro facilita atitudes e comportamentos na medida em que algumas soluções já experimentadas estão à disposição como exemplo. Em contrapartida, pode limitar, ao aceitar apenas comportamentos com características aceitas pelo grupo, dificultando a exteriorização das potencialidades do espírito. Atitudes que atuem contra a mentalidade dominante do meio cultural exigem maior esforço para a sua sustentação, necessitando do apoio de um referencial diferenciado. O grupo cultural evolui, muda seu comportamento, na medida em que seus membros evoluem, ou seja, esforçam-se para romper suas limitações, que também são, em parte, as do grupo. O grupo, não esquecendo de considerar aqui a família, pode determinar, criticar, inibir, sustentar, reforçar, permitir, propiciar, direcionar, induzir, limitar e estimular pensamentos e atitudes. O meio cultural é a maneira pela qual uma pessoa compartilha suas experiências com os outros. A inteligência, como capacidade de resolver problemas, determina uma ou algumas abordagens preferenciais que selecionam o que será considerado como problema, as respostas alcançadas e os caminhos que serão utilizados. Se há facilidade por um lado, por outro limitam-se as opções. A forma pela qual a cultura, associada às características biológicas estruturou a inteligência, direciona a solução de problemas. Há ainda, afetando o livre-arbítrio, as chamadas contingências, entendidas como incertezas sobre se uma coisa acontecerá ou não, o que pode ou não suceder, o eventual, o incerto, determinado por variáveis fora do controle da vontade da pessoa ou grupos envolvidos. O espírito que reencarna se submete a algumas condições pelo fato de estar na Terra que também afetam o exercício do livre-arbítrio. A alimentação, o sono, o envelhecimento, as limitações do físico, da visão, da audição, as formas de comunicação, as condições do meio ambiente, etc. Dentre os conceitos fundamentais que compõe o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento.