quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O fósforo e a vela


Certo dia o fósforo disse para a vela:
Minha missão é te acender.

Ah, não, disse a vela. Tu não vês que se me acendes
meus dias estarão contados?

O fósforo surpreso perguntou...
Então queres permanecer toda a tua vida assim,
dura, fria, sem nunca ter brilhado?

Mas ter que me queimar... Isso dói!
Consome as minhas forças, murmurou a vela.

Tens toda razão, respondeu o fósforo...
E esse é precisamente o mistério de tua vida.
Tu e eu fomos feitos para ser luz. O que eu, como fósforo,
posso fazer é muito pouco...

Mas se passo a minha chama para ti, cumprirei com o sentido
de minha vida. Eu fui feito justamente para isso: para começar o fogo.
Tu és vela. Tua missão é brilhar...

Toda tua dor, tua energia se transformará em luz e calor.

Podes imaginar que responsabilidade foi confiada a ti???
Ouvindo isso a vela olhou para o fósforo que já se estava
apagando e disse:
- Por favor, acende-me!!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A prece

É chegado o momento de poder a inteligência, suficientemente desenvolvida no homem, compreender a ação, significação e alcance da prece. 

Certo de ser compreendido, posso, pois, dizer: Não mais incredulidade, nem fanatismo! antes a completa segurança da força que Deus concede a todos os seres, quando a Ele se eleva o pensamento.

Na prece, na lembrança volvida a esse Pai, fonte inexaurível de bondade e caridade, longe de vós essas palavras aprendidas, que os lábios pronunciam num hábito adquirido, mas deixam frio o coração em seus impulsos. 

Reanimados e atraídos para Ele pelo conhecimento da verdade, pela fé profunda e a verdadeira luz, enviai ao Eterno os vossos corações num pensamento de amor, de respeito, de confiança e abandono; em um transporte, enfim, de todo o ser, esse veemente impulso interior, único a que se pode chamar prece!

Desde a aurora, a alma que se eleva, pela prece, ao infinito, experimenta uma como primavera de pensamento que, nas circunstâncias diversas da existência, a conduz ao fim preciso, que lhe é designado.

A prece conserva a infância essa inocência em que sentis ainda a pureza, reflexo do repouso que a alma fruiu no espaço. Para o adolescente é o freio repressor da impetuosidade, que nele brota como vigoroso fluxo; seiva geratriz, se é seguida, perda certa em caso de desfalecimento, mas resgate, se a alma pode e sabe retemperar-se na prece.

Depois, na idade em que, na plenitude de sua força e faculdade, o homem sente em si a energia que, muitas vezes, o deve conduzir às grandes coisas, a concentração em que se firma o pensamento, esse grito da consciência que lhe dirige os atos não é ainda a prece?

E do fraco, poderoso amparo, não é a prece o consolo, a luz que o auxilia a dirigir-se, como o prisma do farol que indica ao náufrago a praia salvadora?

No perigo, mediante estas duas palavras proferidas com fé "meu Deus!" - envia o homem toda uma prece ao Criador. Esse brado, essa deprecação ao Todo-Poderoso não exprime, como recordação, o instinto do socorro que ele espera receber?

0 marinheiro exposto aos perigos, a mingua de todo socorro em meio dos elementos desencadeados, formula em sua fé profunda um voto: é prece cuja sinceridade sobe radiosa Àquele que o pode salvar!

E quando ruge na Terra a tempestade, grandes e pequenos tremem ao considerar a própria impotência e, a essa voz poderosa que repercute nas profundezas da terra, oram e confiantes dizem estas palavras: Deus! Preserva-nos de todo perigo! - Abandono completo, na prece, Àquele que, por sua vontade, tudo pode.

Quando chega a idade em que nos desaparece a força em que os anos fazem sentir todo o seu peso, em que a alma ensombrada pelos sofrimentos, pela fraqueza que a invade se sente incapaz de reagir; quando, finalmente, o ser se vê acabrunhado pela inação, a prece, caudal refrigerante, lhe vem acalmar e fortalecer as derradeiras horas que deve permanecer na Terra.

Em qualquer idade, quando vos assediam as provas, quando sofre o corpo e, sobretudo, o coração amargurado já não deixa repousar feliz o pensamento no que consola e atrai, à prece, unicamente à prece, reclamam a alma, o pensamento, o coração, a calma que já não possuem.

Quando o encarnado, na plenitude de suas energias, inspirado pelo desejo do belo e do grande, refere suas aspirações a tudo que o rodeia, pratica o bem, torna-se útil, auxilia os desgraçados e, celeste prece, força do pensamento, em seus atos é amparado pelo fluido poderoso que do Além se lhe associa, constante e invisível cadeia do encarnado com os desencarnados e, para mim, prece!

Direi, pois, a todos que a bondade inspira, aos que, neste século em que o pensamento inquieto investiga sem firmeza, sentem a necessidade de uma fé profunda e regeneradora: -Ensinai a prece à criança, desde o berço!

Todo ser, mesmo no extravio das paixões, conserva a lembrança da impressão recebida no limiar da vida e torna a encontrar como consolação, no crepúsculo da existência percorrida, o encanto ainda presente dos anos abençoados em que a criança, iniciando-se na vida, respira sem temor, vive sem inquietação, proferindo nos braços de sua mãe este nome tão grande e tão doce - "Deus!" que ela lhe ensina a murmurar.

Haurindo força e convicção nessa piedosa lembrança, ele repetirá com toda a confiança, no último adeus a Terra, a prece aprendida no primeiro sorriso.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Não é permitido

Não é permitido ao homem conhecer o princípio das coisas na sua profundidade absoluta. 

Se o macrocosmo é infinito diante dos sentidos dos seres humanos, o microcosmo igualmente o é, na estrutura que lhe foi dada por Deus. 

O Espírito, na faixa em que se encontra na Terra, não desenvolveu sentidos ainda, para conhecer o que pretende, para pesquisar a infra-estrutura da matéria e desvendar os seus segredos.

A força poderosa que se esconde na forma não poderá, por enquanto, ser conhecida e dominada pelos homens, por lhes faltar amor no coração, o bastante para não usar sua expansão dinâmica nas guerras fratricidas, e contra a própria vida no planeta em que habitam. Basta o que já conhecem, como sendo uma misericórdia.

A fome que se passa na Terra, as necessidades de veste e de instrução, não significa falta, na realidade. Tudo isso existe com abundância em todos os pontos da casa terrena; somente o que falta é a fraternidade entre os povos e a educação entre as criaturas. 

Quando o amor for uma força dominante no seio dos homens, nada faltará na sua expressão de todos os suprimentos. E a vida tomará nova feição em todos os ângulos do mundo, como sendo um reino de Deus florindo no reino dos homens.

A revelação é gradativa e o será sempre. A evolução científica deve acompanhar a moral, para que haja equilíbrio em todos os pontos de elevação e despertar.

 É justo que notemos, neste fechar de século, o interesse que os homens e Espíritos desencarnados têm pela difusão do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e o esforço que se faz em todas as nações para a melhoria do homem, em todos os seus aspectos. 

Só não dá para se notar esse esforço com mais evidência, por estar ele no começo; no entanto, o terceiro milênio que se aproxima revelará essa verdade com acentuação expressiva, pois já existe uma preocupação de certos governantes na educação dos povos, no que se relaciona aos preceitos incomparáveis da Boa Nova do Mestre. 

Sem o Evangelho no coração das criaturas, jamais haverá paz no mundo, porque ele faculta a conquista da paz, em primeiro lugar, na intimidade de cada um.

Podemos observar no ar que respiramos e na luz que nos dá alegria de viver, o anúncio do fim dos tempos, dos tempos de inquietações, para que possa surgir o ambiente de verdadeira paz, aquele que deveremos conquistar juntamente com o Cristo à frente dos nossos destinos. Não é permitido às almas recuarem no tempo e no espaço. As leis de Deus estabelecem e comandam: a ordem é somente de avanço.

A escola do conhecer é infinita e livre na sua conjuntura educativa, entretanto, marca para todos os seres, conforme a sua escala evolutiva, pontos vermelhos, indicando basta, para que não venhamos a cair em novas tentações, pois o conhecimento sem amor pode nos levar à derrocada.

 De agora em diante o cerco está se fechando, para que possamos nos prevenir contra as grandes calamidades, pela força da educação, e aumentar a nossa confiança pelo muito que devemos amar, O Evangelho deve ser conhecido por todos os povos e disseminado para todas as criaturas, porque ele é força que nos garante a paz nos caminhos que percorremos.

Quanto ao interesse de conhecer a intimidade da matéria, não deve ser apagado, porém, esse saber vai surgindo pelo impulso da nossa evolução e as necessidades que forem surgindo no nosso aprendizado. Oremos juntos, homens e Espíritos livres da matéria, para que o equilíbrio não nos falte no nosso despertar para Deus.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Atrás do trio elétrico


“Atrás do trio elétrico só não vai que já morreu...”. 
 Caetano Veloso
“Atrás do trio elétrico também vai quem já “morreu”...”.

      Ao contrário do que reza o frevo de Caetano Veloso, não são somente os “vivos” que formam a multidão de foliões que se aglomera nas ruas das grandes cidades brasileiras ou de outras plagas onde se comemore o Carnaval. 

      O Espiritismo nos esclarece que estamos o tempo todo em companhia de uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. Essa massa de espíritos cresce sobremaneira nos dias de realização de festas pagãs, como é o Carnaval. 

      Nessas ocasiões, como grande parte das pessoas se dá aos exageros de toda sorte, as influências nefastas se intensificam e muitos dos encarnados se deixam dominar por espíritos maléficos, ocasionando os tristes casos de violência criminosa, como os homicídios e suicídios, além dos desvarios sexuais que levam à paternidade e maternidade irresponsáveis. 

Se antes de compor sua famosa canção o filho de Dona Canô tivesse conhecido o livro “Nas Fronteiras da Loucura”, ditado ao médium Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, talvez fizesse uma letra diferente e, sensível como o poeta que é, cuidaria de exortar os foliões “pipoca” e aqueles que engrossam os blocos a cada ano contra os excessos de toda ordem. 

Mas como o tempo é o senhor de todo entendimento, hoje Caetano é um dos muitos artistas que pregam a paz no Carnaval, denunciando, do alto do trio elétrico, as manifestações de violência que consegue flagrar na multidão.

      No livro citado, Manoel Philomeno, que quando encarnado desempenhou atividades médicas e espiritistas em Salvador, relata episódios protagonizados pelo venerando Espírito Bezerra de Menezes, na condução de equipes socorristas junto a encarnados em desequilíbrios.

      Philomeno registra, dentre outros pontos de relevante interesse, o encontro com um certo sambista desencarnado, o qual não é difícil identificar como Noel Rosa, o poeta do bairro boêmio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, muito a propósito, integrava uma dessas equipes socorristas encarregadas de prestar atendimento espiritual durante os dias de Carnaval. 

      Interessado em colher informações para a aprendizagem própria (e nossa também!), Philomeno inquiriu Noel sobre como este conciliava sua anterior condição de “sambista vinculado às ações do Carnaval com a atual, longe do bulício festivo, em trabalhos de socorro ao próximo”. 

Com tranqüilidade, o autor de “Camisa listrada” respondeu que em suas canções traduzia as dores e aspirações do povo, relatando os dramas, angústias e tragédias amorosas do submundo carioca, mas compreendeu seu fracasso ao desencarnar, despertando “sob maior soma de amarguras, com fortes vinculações aos ambientes sórdidos, pelos quais transitara em largas aflições”.

      No entanto, a obra musical de Noel Rosa cativara tantos corações que os bons sentimentos despertados nas pessoas atuaram em seu favor no plano espiritual; “Embora eu não fosse um herói, nem mesmo um homem que se desincumbira corretamente do dever, minha memória gerou simpatias e a mensagem das músicas provocou amizades, graças a cujo recurso fui alcançado pela Misericórdia Divina, que me recambiou para outros sítios de tratamento e renovação, onde despertei para realidades novas”. 

      Como acontece com todo espírito calceta que por fim se rende aos imperativos das sábias leis, Noel conseguiu, pois, descobrir “que é sempre tempo de recomeçar e de agir” e assim ele iniciou a composição de novos sambas, “ao compasso do bem, com as melodias da esperança e os ritmos da paz, numa Vila de amor infinito...”.

      Entre os anos 60 e 70, Noel Rosa integrava a plêiade de espíritos que ditaram ao médium, jornalista e escritor espírita Jorge Rizzini a série de composições que resultou em dois discos e apresentações em festivais de músicas mediúnicas em São Paulo.

      O entendimento do Poeta da Vila quanto às ebulições momescas, é claro, também mudou: 
- “O Carnaval para mim, é passado de dor e a caridade hoje, é-me festa de todo, dia, qual primavera que surge após inverno demorado, sombrio”.

A carne nada vale:

      O Carnaval, conforme os conceitos de Bezerra de Menezes, é festa que ainda guarda vestígios da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre os encarnados, marcado pelas paixões do prazer violento. Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um dia tudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. 

      Em seu lugar, então, predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade.

 A folia em que pontifica o Rei Momo já foi um dia a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica, quando a festa se chamava bacanalia; na velha Roma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão, chamou-se saturnalia e nessas ocasiões se imolava uma vítima humana.

      Na Idade Média, entretanto, é que a festividade adquiriu o conceito que hoje apresenta, o de uma vez por ano é lícito enlouquecer, em homenagem aos falsos deuses do vinho, das orgias, dos desvarios e dos excessos, em suma.

      Bezerra cita os estudiosos do comportamento e da psique da atualidade, “sinceramente convencidos da necessidade de descarregarem-se as tensões e recalques nesses dias em que a carne nada vale, cuja primeira silaba de cada palavra compõe o verbete carnaval”. 

      Assim, em três ou mais dias de verdadeira loucura, as pessoas desavisadas, se entregam ao descompromisso, exagerando nas atitudes, ao compasso de sons febris e vapores alucinantes. Está no materialismo, que vê o corpo, a matéria, como inicio e fim em si mesmo, a causa de tal desregramento. 

      Esse comportamento afeta inclusive aqueles que se dizem religiosos, mas não têm, em verdade, a necessária compreensão da vida espiritual, deixando-se também enlouquecer uma vez por ano.

Processo de loucura e obsessão:

      As pessoas que se animam para a festa carnavalesca e fazem preparativos organizando fantasias e demais apetrechos para o que consideram um simples e sadio aproveitamento das alegrias e dos prazeres da vida, não imaginam que, muitas vezes, estão sendo inspiradas por entidades vinculadas às sombras. 

Tais espíritos, como informa Manoel Philomeno, buscam vitimas em potencial “para alijá-las do equilíbrio, dando inicio a processos nefandos de obsessões demoradas”. 

      Isso acontece tanto com aqueles que se afinizam com os seres perturbadores, adotando comportamento vicioso, quanto com criaturas cujas atitudes as identificam como pessoas respeitáveis, embora sujeitas às tentações que os prazeres mundanos representam, por também acreditarem que seja lícito enlouquecer uma vez por ano.

      Esse processo sutil de aliciamento esclarece o autor espiritual, dá-se durante o sono, quando os encarnados, desprendidos parcialmente do corpo físico, fazem incursões às regiões de baixo teor vibratório, próprias das entidades vinculadas às tramas de desespero e loucura. 

Os homens que assim procedem não o fazem simplesmente atendendo aos apelos magnéticos que atrai os espíritos desequilibrados e desses seres, mas porque a eles se ligam pelo pensamento, “em razão das preferências que acolhem e dos prazeres que se facultam no mundo íntimo”. Ou seja, as tendências de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são o imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do desequilíbrio, o qual, em suma, não existiria se os homens se mantivessem no firme propósito de educar as paixões instintivas que os animalizam.

      Há dois mil anos. Tal situação não difere muito dos episódios de possessão demoníaca aos quais o Mestre Jesus era chamado a atender, promovendo as curas “milagrosas” de que se ocupam os evangelhos. 

Atualmente, temos, graças ao Espiritismo, a explicação das causas e conseqüências desses fatos, desde que Allan Kardec fora convocado à tarefa de codificar a Doutrina dos Espíritos. 

Conforme configurado na primeira obra da Codificação – O Livro dos Espíritos -, estamos, na Terra, quase que sob a direção das entidades invisíveis: “Os espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações?”, pergunta o Codificador, para ser informado de que “a esse respeito sua (dos espíritos) influência é maior do que credes porque, freqüentemente, são eles que vos dirigem”. Pode parecer assustador, ainda mais que se se tem os espíritos ainda inferiorizados à conta de demônios.

      Mas, do mesmo modo como somos facilmente dominados pelos maus espíritos, quando, como já dito, sintonizamos na mesma freqüência de pensamento, também obtemos, pelo mesmo processo, o concurso dos bons, aqueles que agem a nosso favor em nome de Jesus.

 Basta, para tanto, estarmos predispostos a suas orientações, atentos ao aviso de “orar e vigiar” que o Cristo nos deu há dois mil anos, através do cultivo de atitudes salutares, como a prece e a praticada caridade desinteressada. Esta última é a característica de espíritos como Bezerra de Menezes, que em sua última encarnação fora alcunhado de “o médico dos pobres” e hoje é reverenciado no meio espírita como “o apóstolo da caridade no Brasil”.





sábado, 11 de fevereiro de 2012

Posse Espírita

O Espírita é o companheiro da humanidade que possui:

Tanta compreensão, que ainda mesmo nas situações difíceis, contra si próprio, jamais descamba na suscetibilidade ou na queixa;

Tanta energia de ideal, que nunca se dobra às sugestões do desânimo, por piores sejam as crises que atravesse;

Tanto otimismo que, mesmo nas mais escabrosas provações, sabe sempre sorrir e encorajar os seus irmãos;

Tanto espírito de serviço, que não se cansa, em tempo algum, de repetir a doação do auxílio que possa fazer, em benefício dos semelhantes;

Tanta fé na Providência Divina, que jamais se permite mergulhar no desespero ou na aflição;

Tanto anseio de luz, que não cessa de estudar, sejam quais sejam as circunstâncias;

Tanto entendimento, que nunca se deixa enredar por intriga ou maledicência, encontrando sempre algum meio de amparar as vítimas das trevas, no caminho da reabilitação;

Tanto devotamento à fraternidade, que nada sabe acerca de revide ou desforra, por viver constantemente no clima da caridade e do perdão;

Tanta dedicação ao trabalho, que não se compraz na ociosidade, ainda quando disponha de avançados recursos materiais;

Tanta vontade de seguir os exemplos do Cristo de Deus, que não encontra qualquer prazer em comentar o mal, em vista de trazer o coração incessantemente voltado para o exercício do bem;

Em suma, o espírita é proprietário de valores e bênçãos no reino da alma, capaz de ser feliz na abastança ou na carência, na elevação social ou no lugar mais singelo do mundo, de vez que carrega em si e por si os tesouros da vida eterna.

Albino Teixeira


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Para afastar os maus espíritos

 

A intromissão dos Espíritos enganadores nas comunicações escritas é uma das maiores dificuldades do Espiritismo. 

Sabe-se, por experiência, que eles não têm nenhum escrúpulo em tomar nomes supostos e até mesmo nomes respeitáveis.

 Há meios de os afastar? Eis a questão. 

Para isto, certas pessoas empregam aquilo que poderíamos chamar processos, isto é, fórmulas particulares de evocação, ou espécies de exorcismo, como por exemplo, faze-los jurar em nome de Deus que dizem a verdade, fazê-los escrever alguma coisa, etc. 

Conhecemos alguém que, a cada frase, obriga um Espírito a assinar o nome. Se este é o verdadeiro, escreve-o sem dificuldade, se não o é, pára ao meio, sem poder concluí-lo. 

Vimos essa pessoa receber comunicações as mais ridículas, de Espíritos que assinavam um nome falso com grande aprumo. 

Outras pessoas pensam que um meio eficaz é fazer confessar Jesus encarnado ou outros princípios da religião.

Pois bem, declaramos que se alguns Espíritos um pouco mais escrupulosos se detêm ante a idéia de um perjúrio ou de uma profanação, outros juram tudo o que quisermos, assinam todos os nomes, riem-se de tudo e afrontam a presença dos mais venerados signos, de onde se conclui que entre as coisas que podem ser chamadas processos não há nenhuma fórmula e nenhum expediente material que possa servir de preservativo eficaz.

Neste caso dir-se-á que nada há a fazer, senão deixar de escrever.  Este meio não seria melhor.  Longe disto, em muitos casos seria pior. Dissemos, e nunca seria demais repeti-lo, que a ação dos Espíritos sobre nós é incessante e não é menos real pelo fato de ser oculta.

 Se ela deve ser má, será ainda mais perniciosa, por isso que o inimigo estará escondido. Pelas comunicações escritas este se revela, se desmascara, ficamos sabendo com quem tratamos e podemos combate-lo.

Mas, se não há nenhum meio de o desalojar, que então? Não dissemos que não haja nenhum meio, mas unicamente que a maior parte dos meios empregados são inoperantes. Eis a tese que nos propomos desenvolver.

É preciso não perder de vista que os Espíritos constituem todo um mundo, toda uma população que enche o espaço, circula ao nosso lado, mistura-se em tudo quanto fazemos. 

Se se viesse a levantar o véu que no-los oculta, vê-los-íamos em redor de nós, indo e vindo, seguindo-nos, ou nos evitando, segundo o grau de simpatia. Uns indiferentes, verdadeiros vagabundos do mundo oculto, outros muito ocupados, quer consigo mesmos, que com os homens aos quais se ligam, com um propósito mais ou menos louvável, segundo as qualidades que os distinguem. 

Numa palavra, veríamos uma réplica do gênero humano, com suas boas e más qualidades, com suas virtudes e seus vícios. Esse acompanhamento, ao qual não podemos escapar, porque não há recanto bastante oculto para se tornar inacessível aos Espíritos, exerce sobre nós, malgrado nosso, uma influência permanente. Uns nos impelem para o bem, outros para o mal.

 Muitas vezes as nossas determinações são resultado de sua sugestão. Felizes de nós, quando temos juízo bastante para discernir o bom e o mau caminho por onde nos procuram arrastar.

Dado que os Espíritos são apenas os próprios homens despojados do seu invólucro grosseiro, ou almas que sobrevivem aos corpos, segue-se que há Espíritos desde que há seres humanos no Universo. 

São uma das forças da Natureza e não esperaram que houvesse médiuns escreventes para agir. 

A prova disso é que, em todos os tempos, os homens cometeram inconseqüências, razão por que dizemos que sua influência independe da faculdade de escrever. Esta faculdade é um meio de conhecer aquela influência; de saber quais são os que vagueiam em redor de nós, que se ligam a nós.

 Pensar que nos podemos subtrair a isto, abstendo-nos de escrever, é fazer como as crianças que fechando os olhos pensam escapar a um perigo. 

Ao nos revelar aqueles que temos por companheiros, como amigos ou inimigos, a escrita nos oferece, por isso mesmo, uma arma para os combater, pelo que devemos agradecer a Deus. 

Em falta da visão para reconhecer os Espíritos, temos as comunicações escritas, pelas quais eles mostram o que são. Isto é para nós um sentido que nos permite julgá-los. Repelir esse sentido é comprazer-se em ficar cego e exposto ao engano sem controle.

A intromissão dos maus Espíritos nas comunicações escritas não é, portanto, um perigo do Espiritismo, pois, se perigo há, não depende dele e é permanente. Nunca estaríamos suficientemente persuadidos desta verdade. Há apenas uma dificuldade, da qual, entretanto, fácil é triunfar, se a isto nos dedicarmos de maneira conveniente.

Podemos estabelecer como principio que os maus Espíritos aparecem onde alguma coisa os atrai. Assim, quando se intrometem nas comunicações, é que encontram simpatias no meio onde se apresentam ou, pelo menos, lados fracos que esperam aproveitar. 

Em todo caso está visto que não encontram uma força moral suficiente para repeli-los. Entre as causas que os atraem devemos colocar, em primeiro lugar, as imperfeições morais de toda espécie, porque o mal sempre simpatiza com o mal. E em segundo lugar, a demasiada confiança com que são acolhidas as suas palavras.

Quando uma comunicação denota uma origem má, seria ilógico inferir daí uma paridade necessária entre o Espírito e os evocadores.

 Freqüentemente vemos pessoas muito honestas expostas às velhacarias dos Espíritos enganadores, como acontece no mundo com as pessoas decentes, enganadas pelos patifes. Mas quando tomamos precauções, os patifes nada têm a fazer; é o que acontece também com os Espíritos.

 Quando uma pessoa honesta é por eles enganada, pode sê-lo por duas causas. 
A primeira é uma confiança absoluta, que a leva a prescindir de todo exame. A segunda é que as melhores qualidades não excluem certos lados fracos, e dão entrada aos maus Espíritos desejosos de descobrir as menores falhas da couraça.

  Não falamos do orgulho e da ambição, que são mais do que entraves: falamos de uma certa fraqueza de caráter e, sobretudo, dos preconceitos que esses Espíritos sabem explorar com habilidade, lisonjeando-os. É por isto que eles usam todas as máscaras, a fim de inspirar mais confiança.

As comunicações francamente grosseiras são as menos perigosas, pois a ninguém podem enganar. As que mais enganam são as que têm uma falsa aparência de sabedoria ou de seriedade, numa palavra, a dos Espíritos hipócritas e pseudo-sábios. Uns podem enganar de boa-fé, por ignorância, ou por fatuidade; outros só agem por astúcia. Vejamos qual o meio de nos desembaraçarmos deles.

A primeira coisa é não os atrair e evitar tudo quanto lhes possa dar acesso. Como vimos, as disposições morais são uma causa preponderante. Entretanto, abstração feita dessa causa, o modo empregado não deixa de ter influência. 

Há pessoas que têm por princípio jamais fazer evocações e esperar, a primeira comunicação espontânea saída do lápis do médium. Ora, se nos recordamos daquilo que ficou dito sobre a massa muito variada dos Espíritos que nos cercam, compreendemos sem dificuldade que isso é colocar-se à disposição do primeiro que vier bom ou mau.

 E como nesta multidão os maus predominam em número sobre os bons, há mais oportunidade para os maus. É exatamente como se abríssemos a porta a todos os que passam pela rua, ao passo que pela evocação fazemos a escolha e, cercando-nos de bons Espíritos, impomos silêncio aos maus, que poderão, apesar disto, procurar por vezes insinuar-se. Os bons chegam mesmo a permiti-lo a fim de exercitar a nossa sagacidade em reconhecê-los. Neste caso sua influência será nula.

As comunicações espontâneas têm uma grande utilidade quando temos a certeza da qualidade dos nossos acompanhantes. Então freqüentemente nos devemos felicitar pela iniciativa deixada aos Espíritos. O inconveniente está apenas no sistema absoluto, que consiste em nos abstermos do apelo direto e das perguntas.

Entre as causas que influem poderosamente sobre a qualidade dos Espíritos que freqüentam os Centros, não deve ser omitida a natureza das coisas de que ali se trata.  

Aqueles que se propõem um fim sério e útil atraem por isso mesmo Espíritos sérios. Os que não visam senão a satisfazer uma vã curiosidade ou seus interesses pessoais, expõem-se pelo menos a mistificações, senão a algo pior. Em resumo, das comunicações espíritas podemos tirar os mais sublimes e os mais úteis ensinamentos, desde que os saibamos dirigir.

 Toda a questão está em não nos deixarmos levar pela astúcia dos Espíritos zombadores ou malévolos. Ora, para isto o essencial é saber com quem tratamos. Para começar, ouçamos a respeito os conselhos que o Espírito de São Luís dava à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, através do Sr. R..., um dos seus bons médiuns. Trata-se de uma comunicação espontânea, recebida em sua casa, com a missão de transmiti-la à Sociedade:

"Por maior que seja a legítima confiança que vos inspiram os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, é recomendação nunca por demais repetida que deveis ter sempre presente em vossa mente, quando aos entregardes aos vossos estudos: pesai e refleti; submetei ao controle da razão a mais severa todas as comunicações que receberdes; desde que uma resposta vos pareça duvidosa ou obscura, não vos esqueçais de pedir os necessários esclarecimentos para vos orientardes.

Sabeis que a revelação existiu desde os tempos mais remotos, mas foi sempre apropriada ao grau de adiantamento dos que a recebiam. 

Hoje não se trata de vos falar por imagens, e parábolas: deveis receber nossos ensinamentos de uma maneira clara, precisa, e sem ambigüidades. 

Seria, entretanto, muito cômodo nada ter que perguntar para esclarecer; aliás, isto seria fugir às leis do progresso, que presidem a evolução universal. Não vos admireis, pois, se, para vos deixar o mérito da escolha e do trabalho, e também para punir as infrações que possais cometer aos nossos conselhos, seja por vezes permitido que certos Espíritos, mais ignorantes que mal intencionados, venham responder, em certos casos, às vossas perguntas. 

Em vez de ser isto um motivo de desencorajamento, deve ser um poderoso excitante para que procureis ardentemente a verdade. Ficai, pois, bem convictos de que, seguindo este caminho, não podereis deixar de chegar a resultados felizes. Sede unidos de coração e de intenção; trabalhai todos; procurai, procurai sempre e achareis".



Revista Espírita, setembro de 1859.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A alegria de ser espírita



“Querem escravos para os sistemas falaciosos que mentalizam, quando Jesus deseja te faças livre para a conquista da própria felicidade.” – Emmanuel


“Mãe estou aqui!” A psicografia, assinada por uma garota que desencarnara aos 14 anos e voltava para amparar a inconsolável mãezinha, é o retrato da era que começa a se delinear na Terra.

O próprio Allan Kardec fez a evocação e registrou a conversa na edição de lançamento da Revista Espírita,2 em janeiro de 1858.

Ante as provas contundentes da identidade de Júlia, o Codificador indagou aos leitores: “ quem ousaria falar do vazio do túmulo, quando a vida futura se nos revela assim tão palpável?”.

O Espiritismo é o sol de nossas vidas. Alegremo-nos em saber que não estamos sós, pois a morte foi desmistificada e todos os dias – na bendita seara espírita – temos provas da justiça e da perfeição absoluta das leis divinas. 

Cansados do vazio secular que nos invadia a alma em turvação, entre erros crassos, viciações e crimes, ora desperdiçando encarnações, ora malbaratando o tempo na erraticidade, fomos chamados à iluminação de nós mesmos. Eis a fonte de alegria perene dos nossos dias...

Retirados dos escombros morais, resgatados por almas afins ou mentores espirituais, percorremos longos caminhos e estudos para estarmos aqui hoje, irmanados no grande ideal tão bem expressado nas obras básicas da Codificação. 

O Evangelho hoje, renasce das cinzas a que foi relegado pela nossa própria ignorância, em tempos não tão longínquos...

Incitam-nos Emmanuel e Bezerra de Menezes, entre outros benfeitores, a aplicarmos as lições de Jesus a nós, primeiramente, depois ao lar, por fim ao mundo...

Quanta alegria em saber que até os espinhos colaboram em nossa ascensão, ainda quando provenientes dos que mais amamos!

A mentora do médium Divaldo Pereira Franco, Joanna de Ângelis, na obra Alegria de Viver,  nos faz um apelo sublime, mas não pela alegria estúrdia dos que riem sem saber o porquê. 

A referida obra concita-nos à alegria existencial, inspirada nas bem-aventuranças que o Cristo proclamou. A alegria do dever cumprido, da quitação, de conviver em sociedade, de saber obedecer a Deus.

A bandeira de luz que levamos adiante é rota segura. Ainda nos momentos de dor suprema, termo inspirado em obra homônima do Espírito Victor Hugo, a misericórdia do Pai estende-se aos filhos sequiosos do pão da vida. 

Não há existência sem motivo, não há um homem sequer criado para a inutilidade, nada que nos alcance sem objetivo providencial e útil, quando vemos o mundo pela ótica espírita. As aflições são justas, ensina-nos O Evangelho segundo o Espiritismo, mas não cultuemos a dor e a expiação.

Que falar da justiça? O escritor Vinícius (Pedro de Camargo) escreveu que a lei mosaica era “prelúdio de justiça”, limitando a vingança a ato equivalente ao mal sofrido. Ou seja, visava impedir reações desproporcionais. “Nosso orbe não chegou sequer a integrar-se no vetusto e rude dispositivo da legislação hebraica”, diz. 

Quanta alegria em conhecermos a justiça mais branda, inspirada na lição inesquecível do Mestre de nossas vidas, de fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fizessem!

Que estejamos sendo veículos do prelúdio dessa outra justiça, mais espiritualizada, a do Cristo!

Amando e reconstruindo vidas, em vez de apenas cumprir leis e regras para cercear e punir. Cultuando pensamentos, palavras e atos voltados ao bem, ainda que por ora sejamos meros vasos de barro, na acepção evangélica.

 Façamo-nos a pergunta: servimos a quem, sob a luz retumbante que rasgou os dogmas e o academicismo, iluminando-nos como ao peixinho vermelho, citado por Emmanuel em Libertação?

Quanta gratidão à Doutrina de nossas vidas, que nos elucidou, após séculos de procuras infrutíferas, o verdadeiro sentido da caridade que salva! A definição surge em O Livro dos Espíritos, questão 886: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”.

Aprendemos que a caridade não se faz apenas com a moeda que sobra nos bolsos e aplicações financeiras, mas também no sorriso generoso, que se torna verdadeiro cartão de visita do espírita e dos ideais que professa.

Quantas benesses e quanto refrigério em saber que nossa elevação não depende de indulgências e favores, mas apenas de nós mesmos!

Quanta justiça! Não se compra um céu de fantasias nem se herda um inferno injusto, mas se conquista a evolução, dia a dia, com a renovação moral. Que importam, então, as pequenas diferenças?

Aprendamos a servir amando, unidos, como uma família disciplinada ante o “dirigente” maior, Jesus.

Quantas bênçãos temos colhido tão-só com o Evangelho no lar, evitando desastres!...

Tenhamos em mente o desfavor das queixas. Quanto deixamos de sofrer com isso! Há uma justiça subliminar que a tudo permeia, em tudo conspirando a nosso favor... Kardec abriu a trincheira pela qual tantos bandeirantes da nossa Doutrina, abusando do codinome aplicado ao precursor paulista Cairbar Schutel, semearam ou estão semeando um futuro melhor para a humanidade terrena. 

Hoje, como nos tempos de Jesus, tudo parece desvirtuado, incorrigível. Mas o exército do bem nos sustentará, firmemente.

Os benfeitores estão por todos os lados, amparando-nos. Nunca estivemos sós. Quanta consolação nessa verdade! Quanto a isso, a plêiade do Espírito de Verdade não deixa dúvidas, em O Evangelho segundo o Espiritismo:

 Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.

Os que não alcançaram o oásis do Evangelho são os cegos, como já fomos um dia. Irmãos estorcegam aniquilados, outros zombam da realidade espiritual, mas no íntimo amargam o vazio existencial, sinal dos tempos que varrerão o egoísmo e o orgulho do planeta-escola.

Espíritas, herdeiros dos mártires à excelsa Codificação, amparemos o próximo! Felizes pelo despertar gradual, mas compungidos ante a dor alheia, recordemos a menina Júlia e Kardec, há 152 anos, testemunhando:

Jesus! Estou aqui!



Reformador Junho 2010