terça-feira, 25 de julho de 2017

Sexo e Obsessão


Nas perguntas número 200, 201 e 202 do Livros dos Espíritos, Allan Kardec pergunta se os Espíritos tem sexo? Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos. Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa? Decerto; são os mesmos os Espíritos que animaram os homens e as mulheres. Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher? Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar. Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que sabem os homens. O sexo é departamento orgânico programado pela vida para a reprodução da espécie. Assexuado, o Espírito renasce numa como noutra polaridade, afim de adquirir experiências e compreensão de deveres, que são pertinentes a ambos os sexos. A intrepidez masculina e a docilidade feminina são capítulos que dão ao Espírito equilíbrio e harmonia. Dessa forma, em uma reencarnação pode o Espírito tomar um corpo masculino e noutra um feminino, ou realizar um vasto programa de renascimento em um sexo para depois começar os processos experimentais em outro, sem qualquer prejuízo emocional para a sua estrutura íntima. Fadado ao progresso, que é ilimitado, o Espírito deve vivenciar cada reencarnação enobrecendo as funções de que se constitui o seu corpo, de modo a desenvolver os valores que lhe dormem em latência. Graças à conduta moral em cada polaridade, mais fácil se lhe torna, quando edificante, escolher o próximo cometimento. No entanto, quando se permite corromper ou desviar-se do rumo das suas funções, gera perturbações emocionais e psíquicas que lhe impõem duros processos de recuperação, de que não se pode furtar com facilidade. A correta aplicação das forças genésicas propicia ao Espírito alegria de viver e entusiasmo no desempenho das tarefas que lhe dizem respeito, constituindo-se emulação para o progresso e a felicidade. Nada obstante, o sexo é um dos capítulos mais complexos de algumas ciências psíquicas, tais a Psicologia, a Psicanálise, a Psiquiatria, em razão das disfunções e dos desconsertos que ocorrem em muitas vidas como resultado das experiências atormentadas próximas ou remotas, que lhes geraram desequilíbrios e desarmonias, hoje refletidos em seu comportamento. Valiosos capítulos da Medicina são dedicados às psicopatologias sexuais, que se apresentam como aberrações morfológicas e psicológicas, levando o indivíduo a estados graves de conduta e de vida. Eminentes estudiosos da sexologia vêm procurando desmistificar as funções sexuais, que a ignorância medieval vestiu de fantasias e de pecados, gerando perturbações emocionais muito graves nas criaturas humanas. Como decorrência da nobre proposta, a liberação sexual, exagerando as suas licenças morais, vem trazendo transtornos graves e desarmonias profundas em muitos indivíduos que vivem conflitivamente em razão das dificuldades para se adaptarem às exigências comportamentais do momento. É natural que, num momento de transição de valores, campeiem o absurdo e o fantasioso, tentando adquirir cidadania moral, ao tempo em que empurram os cidadãos na direção do fosso da promiscuidade e do desespero, da fuga pelo tabaco, pelo álcool, pelas drogas aditivas, pela alucinação, pelo suicídio. Torna-se indispensável quão imediata uma nova ética moral, a fim de que os valores nobres granjeados pela sociedade no curso dos milênios, não se percam no chafurdar das paixões e no desprestígio das instituições, como o matrimônio, a família, a castidade, a saúde comportamental, o grupo social. O matrimônio e a monogamia são conquistas valiosas logradas pelo ser humano após torpes experiências de convivência doentia através dos tempos. Tentar reduzi-los a lembranças do passado, é uma aventura macabra cujas conseqüências são imprevisíveis para a própria sociedade. Vive-se, na Terra, a hora do sexo. O sexo vive na cabeça das pessoas, parecendo haver saído da organização genésica onde se sedia. Naturalmente, o pensamento é força atuante e desencadeadora da função sexual. Reduzir o indivíduo apenas às imposições reais ou estimuladas do sexo em desalinho, conforme vem acontecendo, é transformá-lo em escravo de uma função pervertida pela mente e atormentada pelas fantasias mórbidas. O ser humano são os seus valores éticos, suas aspirações, seus sonhos, suas lutas, suas grandezas e também aprendizagens dolorosas. Graças a todos esses fenômenos do cotidiano, ele cresce e se aprimora, saindo dos limites em que se encarcera para os incomparáveis vôos da amplidão. Sitiá-lo no gozo sexual e asfixiá-lo nos vapores da libido perturbada, constitui agressão injustificável às suas conquistas emocionais, psíquicas e intelectuais, que lhe dão sabedoria para discernir e para realizar. Progredindo sempre, o Espírito jamais retrograda no seu processo reencarnatório. Nada obstante, em razão de conduta irregular pode estacionar, aguardando reparação dos erros graves cometidos, quando já não mais se deveria permiti-los. Nesse desenvolvimento intelecto-moral, vincula-se àqueles a quem ama ou de quem se distanciou pelo crime e pela iniquidade, experimentando o apoio dos afetos e a perseguição dos inimigos, que não o perdoam pelas ofensas de que foram vítimas. É nesse campo de lutas que surgem as lamentáveis e dolorosas obsessões de graves consequências. O sexo, mal conduzido, em razão do envolvimento emocional e das dilacerações espirituais que produz em outrem, como naquele que o utiliza mal, abre campo para terríveis conúbios obsessivos, ao mesmo tempo que, praticado de forma vil atrai Espíritos igualmente atormentados e doentes que se vinculam ao indivíduo, levando-o a processos de parasitose terrível e de difícil libertação. Desvios sexuais, aberrações nas práticas do sexo, condutas extravagantes e desarticuladoras das funções estabelecidas pelas Leis da Vida, geram perturbações de longo curso, que não se recompõem com facilidade, senão ao largo de dolorosas reencarnações expungitivas e purificadoras. Tormentos da libido e da função sexual têm suas matrizes nos comportamentos anteriores que o Espírito se permitiu, quando, em outras reencarnações, abusou da faculdade procriativa, aplicando-a para o prazer exorbitante, ou explorou pessoas que se lhe tornaram vítimas, estimulou abortamentos e se permitiu experiências perversas e anormais, ou derrapou nos excessos com exploração de outras vidas. Todas essas condutas arbitrárias fixaram-se nos tecidos sutis do perispírito, impondo necessidades falsas, que agora os pacientes procuram atender, ampliando o complexo campo de problemas íntimos. O respeito e a consideração pelas funções sexuais constituem a melhor terapia preventiva para a manutenção da saúde moral, assim como o esforço para a recomposição do caráter, quando alguém já se permitiu corromper, ao lado da terapêutica especializada, fazem-se imprescindíveis para a conquista da harmonia. Ninguém se engane quanto aos compromissos do sexo perante a vida e cuide de não enganar a outrem. Cada um responde sempre pelo que inspira e pelo que faz. O sexo não foi elaborado para o prazer vulgar, senão para as emoções superiores na construção das vidas, ou para as sensações compensativas quando amparado pelas dúlcidas vibrações do amor, mantendo a afetividade e a alegria de viver. Neste livro, tentamos fazer um estudo cuidadoso sobre sexo e obsessão, baseado em fatos reais, que vimos acompanhando desde há vários anos. Procuramos suavizar o relato, evitando chocar alguns leitores menos avisados ou desconhecedores da Doutrina Espírita, porém evitamos disfarçar a realidade dos acontecimentos, tirando-lhes a legitimidade, de forma que a nossa mensagem possa alcançar as mentes e os corações desenovelando-os de diversos conflitos e despertando-os para algumas ocorrências de parasitose obsessiva em que talvez se encontrem envolvidos. O padre Mauro ainda se encontra na Terra, havendo recebido os Espíritos que se reencarnaram para resgates imperiosos e inadiáveis conforme comprometera-se em nossa esfera de ação espiritual. O seu lar de crianças deficientes hoje hospeda inúmeras antigas vítimas suas, que lhe recebem carinho e afeto, recuperando-se das alucinações que se permitiram, ele mesmo estando em processo de refazimento espiritual, avançando, porém, para os anos da velhice com paz no coração e com a consciência tranquilizada em razão do bem que vem executando. A cidade perversa vem lentamente sendo esvaziada pelo amor de Deus, já que os seus habitantes, em número bastante expressivo, encontram-se reencarnados, desde há algumas dezenas de anos, dando curso às aberrações e hediondezes que se permitiam, quando lá estavam. A denominada mudança de comportamento dos anos sessenta, com a liberação sexual, tem muito a ver com a inspiração e chegada desses Espíritos que estão retornando à Terra, afim de desfrutarem da oportunidade de renovação antes da grande depuração que experimentará o planeta, transferindo-se de mundo de provas e de expiações para mundo de regeneração. A chance de que desfrutam é-lhes valiosa, porquanto não sendo aproveitada conforme deverá, cassar-lhes-á outros ensejos, que somente serão recuperados em outras penosas situações em Orbes inferiores. Este é, pois, o grande momento para todos nós, que aspiramos por uma vida melhor e mais ditosa. Reflexionar e agir de maneira correta em relação às funções sexuais é dever de todo ser que pensa e que compreende a finalidade da existência humana. Nesta hora de conturbação moral e de violência, de agressividade, de aberrações sexuais, de descontrole geral e de sofrimentos de todo porte, cumpre-nos, a todos, somar esforços em favor dos princípios da dignidade humana e da honradez, do equilíbrio no comportamento e da educação das gerações novas, único meio de oferecer ao futuro uma sociedade menos conturbada e deslindada dos terríveis cipoais da obsessão. À educação moral cabe a tarefa de construir um novo homem e uma nova mulher, que formarão uma nova e saudável sociedade para o porvir. Como doutrina de educação o Espiritismo oferece os melhores recursos e métodos para esse cometimento, colocando à disposição de todo e qualquer investigador o seu patrimônio de informações e o seu excelente laboratório mediúnico, para que ali encontrem o conforto e a coragem necessários para o enfrentamento que se apresenta em todos os instantes, no qual, por enquanto, têm predominado o vulgar e o perverso, embora os nobilíssimos exemplos de dignificação e nobreza de incontáveis cidadãos dedicados ao bem e ao dever. Reconheço que alguns companheiros de lide espírita e outros vinculados a diferentes crenças religiosas e diversas filosofias de comportamento dirão que o nosso é um livro de fantasias e destituído de qualquer sentido literário ou cultural. Não entraremos no mérito da opinião, que todos têm o direito de sentir e mesmo de expressar. Cada qual fala daquilo de que está cheio o seu coração e iluminado o seu sentimento. Havendo fruído a oportunidade das experiências que aqui relatamos em síntese, sentimo-nos felicitados pelo imenso prazer de haver concluído este trabalho, e poder ofertá-lo aos que são simples e puros de coração, que anelam e trabalham por um mundo melhor e por uma sociedade muito feliz, vivendo, desde hoje, os dias venturosos do futuro, porque entregues aos ideais de plenificação sob a égide de Jesus Cristo, o Modelo e Guia da Humanidade. 

Manoel Philomeno de Miranda

Desapego


Allan Kardec afirma que o egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, deve ser o alvo de todos os esforços do ser humano, caso queira assegurar a sua felicidade tanto neste mundo quanto no futuro. Sábio é aquele que renuncia pela força da verdade a si mesmo, libertando-se do egoísmo – grande causador do apego. Esquecer ou deixar para mais tarde a evolução espiritual, para aquisição das riquezas materiais, é marca inegável de apego e imperfeição. Nós somos almas ainda muito apegadas às pessoas, situações, à matéria e emoções, sentindo grande dificuldade em deixar ir o homem velho, o desnecessário e até mesmo quem precisa partir para continuar seu caminho evolutivo longe de nós, aqui ou em outro plano. Deixando um pouco de lado as questões materiais, vamos refletir sobre o apego às pessoas encarnadas e às desencarnadas. O apego excessivo a toda e qualquer coisa é pernicioso tanto quanto o desapego absoluto pode significar desleixo. O apego é consequência de sentimento de posse, de dependência, de insegurança e ainda, a falta de fé na imortalidade da alma. O que aprendemos com a Doutrina Espírita é que precisamos exercitar amor incondicional para com todos iniciando com a nossa família. A vida é feita em ciclos. É preciso saber quando uma etapa chega ao final e permitir que ela se encerre. O fim de um emprego, de um relacionamento, um filho que parte para longe, pessoas amadas que desencarnam. Uma questão muito difícil de se vivenciar, é amar nossos entes queridos sem apego. Quase sempre nos julgamos insubstituíveis junto àqueles que amamos, achamos que ninguém, vai amá-los, mais do que nós, que somos indispensáveis. Apegamo-nos assim, esquecendo que eles também são amados por Deus e podem ser chamados por Ele a qualquer momento. Infelizmente, nossa cultura não nos prepara para o desencarne. Somos companheiros de viagem, cabendo a cada um caminhar de acordo com o que foi planejado antes da reencarnação. Temos um tempo previsto de permanência no planeta e algumas tarefas que devem ser cumpridas. Muitas vezes, nessas caminhadas, somos levados a nos distanciar um do outro, mas afetos sinceros não se separam. Podem estar ausentes, mas um dia se reencontrarão. Os laços de carne se rompem, mas não os laços de amor! Deixar que nossos amados partam antes de nós, é algo que devemos procurar entender e aceitar com resignação. A ausência do convívio com eles, pode gerar um sofrimento destrutivo para nós mesmos e angustiantes para os que se foram. É claro que sentiremos a dor da saudade, mas um sentimento sem desespero, sem revolta, sem desequilíbrios. Precisamos aprender a amar com desapego, ampliar o número de nossos afetos, sem a ilusão da posse. Se formos chamados pela desencarnação, continuemos a amá-los, respeitando-os e ajudando-os porque, a vida do Espírito após a Morte do Corpo Físico, Continua... Quando se propõe o desapego, não significa abandonar o mundo, mas entender a existência terrena como transitória e passageira; o que é imortal e verdadeiro é o Espírito. É necessário desapegar-se das coisas, das pessoas, das situações e sentimentos que nos algemem, permitindo assim, que uma nova etapa se inicie em nossa vida. Isso não significa amar menos ou descuidar, mas, ao contrário, enquanto o amor liberta e cuida, o apego aprisiona e sufoca. Sabemos que o espírito vivencia experiências para o seu crescimento moral e intelectual, e para isso, ele reencarna. Será que não seria egoísmo de nossa parte, não permitir e não aceitar que nosso ente querido parta para uma nova jornada evolutiva? No cap. XIV do Evangelho temos, muito bem desenvolvido, a passagem bíblica quando Jesus explica a real ordem da família: Quando entra um de seus discípulos e diz: Mestre, estão lá fora sua mãe e seus irmãos! E Jesus estende as mãos apontando seus apóstolos e diz: Eis aqui minha mãe e meus irmãos porque todo aquele que faz a vontade de meu PAI, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe. A Doutrina Espírita vem nos esclarecer que Jesus, nesta passagem, queria mostrar-nos que além de nossa família corporal temos a nossa família espiritual. Lembrando que somos Espíritos vivendo uma experiência na Terra e nossa verdadeira Pátria é a Pátria Espiritual. Portanto a Família Espiritual é formada por Espíritos ligados por laços de afinidade, sintonizados pelos pensamentos e ideais dentro do mesmo padrão vibratório. Isto explica nossa simpatia por esta ou aquela pessoa, muitas vezes, mais até do que um membro próximo de nossa própria família.

Atmosfera Espiritual


O Espiritismo nos ensina que os Espíritos constituem a população invisível do globo, que estão no espaço e entre nós, nos vendo e nos acotovelando sem cessar, de tal sorte que, quando, nos acreditamos sós, temos constantemente testemunhas secretas de nossas ações e de nossos pensamentos. Isto pode parecer incômodo para certas pessoas, mas uma vez que assim é não se pode impedir que o seja; cabe a cada um fazer como o sábio que não tinha medo de que sua casa fosse de vidro. Sem dúvida nenhuma, é a esta causa que é preciso atribuir a revelação de tantas torpezas e más ações que se cria enterradas na sombra. Além disso sabemos que, além dos assistentes corpóreos, há sempre ouvintes invisíveis; que sendo a permeabilidade uma das propriedades do organismo dos Espíritos, estes podem se encontrar em número ilimitado num espaço dado. Frequentemente, nos foi dito que, em certas sessões, estavam em quantidades inumeráveis. Na explicação dada ao Sr. Bertrand a propósito das comunicações coletivas que obteve, foi dito que o número dos Espíritos presentes era tão grande, que a atmosfera estava, por assim dizer saturada de seus fluidos. Isto não é novo para os Espíritas, mas não se deduziu disto talvez todas as conseqüências. Sabe-se que os fluidos emanados dos Espíritos são mais ou menos salutares segundo o grau de sua depuração; conhece-se o seu poder curativo em certos casos, e também seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo. Ora, uma vez que o ar pode estar saturado desses fluidos, não é evidente que segundo a natureza dos Espíritos que proliferam em um lugar determinado, o ar ambiente se acha carregado de elementos salutares ou malsãos, que devem exercer uma influência sobre a saúde física tão bem quando sobre a saúde moral? Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem, pode-se admirar daquela que deve resultar de uma aglomeração de centenas ou de milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem no meio dado um fluido benfazejo ou malfazejo, agindo à maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se esparramam no ar. Assim podem se explicar certos efeitos coletivos produzidos sobre as massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar que se sente em certos meios, e que não têm nenhuma causa aparente conhecida, o arrastamento coletivo para o bem ou o mal, os impulsos gerais, o entusiasmo ou o desencorajamento, por vezes espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia, de todo um povo mesmo. Cada indivíduo, em razão do grau de sua sensibilidade, sofre a influência dessa atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece fora de dúvida, e que confirmam, ao mesmo tempo, a teoria e a experiência, encontramos nas relações do mundo espiritual com o mundo corpóreo, um novo princípio de higiene que a ciência, sem dúvida um dia fará entrar em linha de conta. Podemos, pois, subtrair-nos a essas influências emanando de uma fonte inacessível aos meios materiais? Sem nenhuma dúvida; porque do mesmo modo que saneamos os lugares insalubres destruindo-lhes a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a atmosfera moral que nos cerca, subtraindo-nos às influências perniciosas dos fluidos espirituais malsãos, e isto mais facilmente do que não podemos escapar às exalações pantanosas, porque isto depende unicamente de nossa vontade, e ali não estará um dos menores benefícios do Espiritismo quando for universalmente compreendido e sobretudo praticado. Um princípio perfeitamente averiguado por todo Espírita, é que as qualidades do fluido perispiritual estão em razão direta das qualidades do Espírito encarnado ou desencarnado; quanto mais seus sentimentos são elevados e livres das influências da matéria, mais seu fluido é depurado. Segundo os pensamentos que dominam num encarnado, ele irradia raios impregnados desses mesmos pensamentos que os viciam ou os saneiam, fluidos realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis para os sentidos perispirituais, e visíveis para os olhos da alma, uma vez que impressionam fisicamente e tomam aparências muito diferentes para aqueles que estão dotados da visão espiritual. Unicamente pelo fato da presença dos encarnados numa assembléia, os fluidos ambientes serão, pois, salubres ou insalubres, segundo os pensamentos dominantes sejam bons ou maus. Quem traz consigo pensamentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de animosidade, de cupidez, de falsidade, de hipocrisia, de maledicência, de malevolência, em uma palavra, pensamentos hauridos na fonte das más paixões, espalha ao seu redor eflúvios fluídicos malsãos, que reagem sobre aqueles que o cercam. Numa assembléia, ao contrário, onde todos não trouxessem senão sentimentos de bondade, de caridade, de humildade, de devotamento desinteressado, de benevolência e de amor ao próximo, o ar estará impregnado de emanações saudáveis no meio das quais sente-se viver mais comodamente. Se se considera agora que os pensamentos atraem os pensamentos da mesma natureza, que os fluidos atraem os fluidos similares, compreende-se que cada indivíduo conduz consigo um cortejo de Espíritos simpáticos, bons ou maus, e que assim o ar está saturado de fluidos em relação com os pensamentos predominantes. Se os maus pensamentos estão em minoria, eles não impedirão as boas influências de se produzirem, mas as paralisam. Se eles dominam, enfraquecem a irradiação fluídica dos bons Espíritos, ou mesmo por vezes, impedem os bons fluídos de penetrar nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do sol. Qual é, pois, o meio de se subtrair à influência dos maus fluidos? Este meio ressalta da própria causa que produz o mal. Que se faz quando se reconheceu que um alimento é contrário à saúde? É rejeitado, e se os substitui por um alimento mais sadio. Uma vez que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e os atraem, é preciso se esforçar e deles não ter senão bons, repelindo tudo o que é mau, como se repele um alimento que pode nos tornar doentes, em uma palavra, trabalhar pela sua melhoria moral, e, para nos servir de uma comparação do Evangelho, "não só limpar o vaso por fora, mas limpá-lo, sobretudo, por dentro". A Humanidade, em se melhorando, verá se depurar a atmosfera fluídica no meio da qual ela vive, porque não a rodeará senão de bons fluidos, e que estes últimos oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser povoada senão por homens praticando entre eles as leis divinas, de amor e de caridade, ninguém duvida que não se encontrem nas condições de higiene física e moral diferentes daquelas que existem hoje. Esse tempo está ainda longe sem dúvida, mas em esperando-o, estas condições podem existir parcialmente, e é nas assembléias espíritas que cabe dar-lhe o exemplo. Aqueles que tiverem possuído a luz, serão um tanto mais repreensíveis quanto terão tido entre as mãos os meios de se esclarecer; incorrerão na responsabilidade dos atrasos que seu exemplo e sua má vontade terão levado na melhoria geral. Isto é uma utopia, uma má declamação? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos que o Espiritismo nos revela a cada dia. Com efeito, o Espiritismo nos prova que o elemento espiritual, que, até o presente, foi considerado como antítese do elemento material, tem, com este último, uma conexão íntima, de onde resulta uma multidão de fenômenos inobservados ou incompreendidos. Quando a ciência tiver assimilado os elementos fornecidos pelo Espiritismo, ela nele haurirá novos e importantes recursos para a própria melhoria material da Humanidade. Assim, cada dia vemos se estender o círculo das aplicações da doutrina que está longe, como alguns o crêem ainda, de estar restrita ao pueril fenômeno das mesas girantes ou outros efeitos de pura curiosidade. O Espiritismo, realmente, não foi tomado em seu vôo, senão do momento em que entrou na via filosófica; é menos divertido para certas pessoas, que nele não procuravam senão uma distração, mas é melhor apreciado pelas pessoas sérias, e o será ainda mais, à medida que for melhor compreendido em suas conseqüências. 

Fonte.: Revista Espírita – Allan Kardec Maio de 1867

A vida no Além


O ser humano, dissemos, pertence desde esta vida a dois mundos. Pelo corpo físico está ligado ao mundo visível; pelo corpo fluídico ao invisível. O sono é a separação temporária dos dois invólucros; a morte é a separação definitiva. A alma, nos dois casos, separa-se do corpo físico e, com ela, a vida concentra-se no corpo fluídico. A vida de além-túmulo é simplesmente a permanência e a libertação da parte invisível do nosso ser. A antiguidade conheceu esse mistério, mas, desde muito tempo, sobre as condições da vida futura os homens apenas possuíam noções de caráter vago e hipotético. As religiões e as filosofias nos transmitem, acerca desses problemas, dados muito incertos, absolutamente desprovidos de observação, de sanção e, sobre quase todos os pontos, em desacordo completo com as idéias modernas de evolução e continuidade. A Ciência, por seu lado, não estudou nem conheceu, até aqui, no homem terrestre mais do que a superfície, a parte física. Ora, esta é para o ser inteiro quase o que a casca é para a árvore. Quanto ao homem fluídico, etéreo, de que o nosso cérebro físico não pode ter consciência, ela o tem ignorado inteiramente até nossos dias. Daí a sua impotência para resolver o problema da sobrevivência, pois que é só o ser fluídico que sobrevive. A Ciência nada tem compreendido das manifestações psíquicas que se produzem no sono, no desprendimento, na exteriorização, no êxtase, em todas as fugas da alma para a vida superior. Ora, é unicamente pela observação desses fatos que chegaremos a adquirir, já nesta vida, um conhecimento positivo da natureza do “eu” e das suas condições de existência no Além. Só a experiência podia resolver a questão. Tratava-se de estudar no homem atual o que o pode esclarecer sobre o homem futuro. Não há outra saída para o pensamento humano, que a Religião, a Filosofia e a Ciência, na sua insuficiência, encurralaram no materialismo. É esse o preço da salvação social, porque o materialismo conduzir-nos-ia fatalmente à anarquia. Foi somente depois do aparecimento do Espiritualismo experimental que o problema da sobrevivência entrou no domínio da observação científica e rigorosa. O mundo invisível pôde ser estudado por meio de processos e métodos idênticos aos adotados pela Ciência contemporânea nos outros campos de investigação. E começamos por verificar que, em vez de cavar um fosso, de estabelecer uma solução de continuidade entre os dois modos de vida, terrestre e celeste, visível e invisível, como o faziam as diferentes doutrinas religiosas, esses estudos nos mostraram na vida do Além o prolongamento natural, a continuidade do que observamos em nós. A persistência da vida consciente, com todos os atributos que comporta, memória, inteligência, faculdades afetivas, foi estabelecida pelas numerosas provas de identidade pessoal recolhidas no decurso de experiências e investigações dirigidas por sociedades de estudos psíquicos em todos os países. Os Espíritos dos defuntos têm-se manifestado, aos milhares, não somente com o cunho de caráter e a totalidade das recordações que constituem a sua personalidade moral, mas também com as feições físicas e as particularidades da sua forma terrestre, conservadas pelo perispírito ou corpo etéreo. Este, sabemos, não é mais do que o molde do corpo terrestre e é por isso que as feições e as formas humanas reaparecem nos fenômenos de materialização. Ademais, o conhecimento das variadas condições da vida do Além foi exposto pelos próprios Espíritos, com o auxílio dos meios de comunicação de que dispõem. Suas indicações, recolhidas e consignadas em volumes inteiros de autos, servem de base precisa à concepção que atualmente podemos fazer das leis da vida futura. Na falta das manifestações dos defuntos, entretanto, as experiências sobre o desdobramento dos vivos fornecer-nos-iam já preciosos indícios sobre o modo de existência da alma no domínio do invisível. Na anestesia e no sonambulismo, como experimentalmente o demonstrou o coronel de Rochas, a sensibilidade e as percepções não são suprimidas, mas simplesmente exteriorizadas, transportadas para fora. Daqui, já podemos deduzir logicamente que a morte é o estado de exteriorização total e de libertação do “eu” sensível e consciente. O nascimento é como que uma morte para a alma, que por ela é encerrada com o seu corpo etéreo no túmulo da carne. O que chamamos morte é simplesmente o retorno da alma à liberdade, enriquecida com as aquisições que pôde fazer durante a vida terrestre; e vimos que os diferentes estados do sono são outros tantos regressos momentâneos à vida do espaço. Quanto mais profunda for a hipnose, tanto mais a alma se emancipa e afasta. O sono mais intenso confina com a primeira fase da vida invisível. Na realidade, as palavras sono e morte são impróprias. Quando adormecemos para a vida terrestre, acordamos para a vida do espírito. Produz-se o mesmo fenômeno na morte; a diferença está só na duração. O nosso mundo e o Além não estão separados um do outro; provam-no esses fatos aos quais se podiam juntar muitos outros da mesma ordem. Estão um no outro; de alguma sorte se enlaçam e estreitamente se confundem. Os homens e os Espíritos misturam-se. Testemunhas invisíveis associam-se à nossa vida, compartilhando de nossas alegrias e provações. A situação do Espírito depois da morte é a conseqüência direta das suas inclinações, seja para a matéria, seja para os bens da inteligência e do sentimento. Se as propensões sensuais dominam, o ser forçosamente se imobiliza nos planos inferiores que são os mais densos, os mais grosseiros. Se alimenta pensamentos belos e puros, eleva-se a esferas em relação com a própria natureza dos seus pensamentos. Swedenborg disse com razão: “O Céu está onde o homem pôs o seu coração”; todavia, não é imediata a classificação, nem súbita a transição. Se o olhar humano não pode passar bruscamente da escuridão à luz viva, sucede o mesmo com a alma. A morte faz-nos entrar num estado transitório, espécie de prolongamento da vida física e prelúdio da vida espiritual. É o estado de perturbação de que falamos, estado mais ou menos prolongado segundo a natureza espessa ou etérea do perispírito do defunto. Livre do fardo material que a oprimia, a alma acha-se ainda envolvida na rede dos pensamentos e das imagens – sensações, paixões, emoções – por ela geradas no decurso das suas vidas terrestres; terá de familiarizar-se com a sua nova situação, entrar no conhecimento do seu estado, antes de ser levada para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade. A princípio, para o maior número, tudo é motivo de admiração nesse outro mundo onde as coisas diferem essencialmente do meio terrestre. As leis da gravidade são mais brandas; as paredes não são obstáculos; a alma pode atravessá-las e elevar-se aos ares. Não obstante, continua retida por certos estorvos que não pode definir. Tudo a intimida e enche de hesitação, mas os seus amigos de lá vigiam-na e guiam-lhe os primeiros vôos. Os Espíritos adiantados depressa se libertam de todas as influências terrestres e recuperam a consciência de si mesmos. O véu material rasga-se ao impulso dos seus pensamentos e abrem-se perspectivas imensas. Compreendem quase logo a sua situação e com facilidade a ela se adaptam. Seu corpo espiritual, instrumento volitivo, organismo da alma, do qual ela nunca se separa, que é a obra de todo o seu passado, porque pessoalmente o construiu e teceu com a sua atividade, flutua algum tempo na atmosfera; depois, segundo o seu estado de sutileza, de poder, corresponde às atrações longínquas, sente-se naturalmente elevado para associações similares, para agrupamentos de Espíritos da mesma ordem, Espíritos luminosos ou velados, que rodeiam o recém-chegado com solicitude para o iniciarem nas condições do seu novo modo de existência. Os Espíritos inferiores conservam por muito tempo as impressões da vida material. Julgam que ainda vivem fisicamente e continuam, às vezes durante anos, o simulacro das suas ocupações habituais. Para os materialistas o fenômeno da morte continua a ser incompreensível. Por falta de conhecimentos prévios confundem o corpo fluídico com o corpo físico e conservam as ilusões da vida terrestre. Os seus gostos e até as suas necessidades imaginárias como que os amarram à Terra; depois, devagar, com o auxílio de Espíritos benfazejos, sua consciência desperta, sua inteligência abre-se à compreensão do seu novo estado; mas, assim que procuram elevar-se, sua densidade os faz recair imediatamente na Terra. As atrações planetárias e as correntes fluídicas do espaço os reconduzem violentamente para as nossas regiões, como folhas secas varridas pelo vendaval. Os crentes ortodoxos vagueiam na incerteza e procuram a realização das promessas do sacerdote, o gozo das beatitudes prometidas. Por vezes é grande a sua surpresa; precisam de longo aprendizado para se iniciarem nas verdadeiras leis do espaço. Em vez de anjos ou demônios, encontram os Espíritos dos homens que, como eles, viveram na Terra e os precederam. Viva é a sua decepção ao verem suas esperanças malogradas, suas convicções transformadas por fatos para os quais a educação que haviam recebido de nenhum modo os preparara; mas, se sua vida foi boa, submissa ao dever, não podem essas almas ser infelizes, por terem mais influência sobre o destino os seus atos do que as crenças. Os Espíritos cépticos e, com eles, todos aqueles que se recusaram a crer na possibilidade de uma vida independente do corpo, julgam-se mergulhados em um sonho que só se dissipa quando acaba o erro em que esses Espíritos laboram. As impressões variam infinitamente, com o valor das almas. Aquelas que, desde a vida terrestre, conheceram a verdade e serviram à sua causa, recolhem, logo que desencarnam, o benefício de suas investigações e trabalhos. O perispírito é como o espelho de todas as suas ações, e sua alma, se foi má sua vida, contempla com tristeza suas faltas, inscritas, ao que parece, nas dobras do corpo perispiritual. Não tive dificuldade alguma em reconhecer minha vida, tal qual ela fora. Verifiquei com evidência que eu não havia sido infalível. Quem pode gabar-se disso na Terra? Devo, porém, dizer-vos que, depois de feito o exame, senti grande satisfação e felicidade com o que havia feito na Terra. Lutei, trabalhei e sofri pela causa do Espiritismo. A luz que dele dimana ofereci, juntamente com a esperança, a muitos irmãos da Terra por meio da palavra, dos meus estudos e obras; por isso, torno a encontrar essa luz. Sou feliz por ter trabalhado em reerguer a fé, os corações e a coragem. A todos, pois, recomendo a fé inabalável que eu tinha e que se vai haurir no Espiritismo. Tenho de continuar a desenvolver-me para rever o passado das minhas encarnações anteriores. É um estudo, um trabalho completo que tenho de fazer. Vejo bem uma parte desse passado, mas não a posso definir muito bem, conquanto esteja completamente desperto. Dentro de pouco tempo, espero, essas vidas passadas hão de aparecer-me com clareza. Possuo luz bastante para poder caminhar com segurança, vendo o que está na minha frente, o meu futuro, e presto já o meu auxílio a Espíritos infelizes. A lei dos agrupamentos no espaço é a das afinidades. A ela estão sujeitos todos os Espíritos. A orientação de seus pensamentos leva-os naturalmente para o meio que lhes é próprio, porque o pensamento é a própria essência do mundo espiritual, sendo a forma fluídica apenas o vestuário. Onde quer que seja, reúnem-se os que se amam e compreendem. Herbert Spencer, num momento de intuição, formulou um axioma igualmente aplicável ao mundo visível e ao mundo invisível. “A vida – disse ele – é uma simples adaptação às condições exteriores”. Se é propenso às coisas da matéria, o Espírito fica preso à Terra e mistura-se com os homens que têm os mesmos gostos, os mesmos apetites; quando é levado para o ideal, para os bens superiores, eleva-se sem esforço para o objeto dos seus desejos, une-se às sociedades do espaço, toma parte nos seus trabalhos e goza dos espetáculos, das harmonias do infinito. O pensamento cria, a vontade edifica. A causa de todas as alegrias e de todas as dores está na consciência e na razão; por isso é que, cedo ou tarde, encontramos no Além as criações dos nossos sonhos e a realização das nossas esperanças. Mas o sentimento da tarefa incompleta, ao mesmo tempo que os afetos e as lembranças, trazem novamente a maior parte dos Espíritos à Terra. Todas as almas encontram o meio que os seus desejos reclamam e hão de viver nos mundos sonhados, unidos aos seres que estimam; mas também aí encontrarão os prazeres ou os sofrimentos que o seu passado gerou. Nossas concepções e nossos sonhos seguem-nos por toda parte. No surto dos seus pensamentos e no ardor de sua fé, os adeptos de cada religião criam imagens nas quais supõem reconhecer os paraísos entrevistos. Depois, pouco a pouco, se apercebem de que essas criações são fictícias, de pura aparência e comparáveis a vastos panoramas pintados na tela ou a afrescos imensos. Aprendem, então, a desprender-se deles e aspiram a realidades mais elevadas, mais sensíveis. Sob nossa forma atual e no estreito limite de nossas faculdades, não poderíamos compreender as alegrias e os arroubos reservados aos Espíritos superiores, nem as angústias profundas experimentadas pelas almas delicadas que chegaram aos limites da perfeição. A beleza está por toda parte; só os seus aspectos variam ao infinito, segundo o grau de evolução ou depuração dos seres. O Espírito adiantado possui fontes de sensações e percepções infinitamente mais extensas e mais intensas do que as do homem terrestre. Nele, a clarividência, a clariaudiência, a ação a distância, o conhecimento do passado e do futuro coexistem numa síntese indefinível, que constitui, segundo a expressão de F. Myers, “o mistério central da vida”. Falando das faculdades dos Invisíveis de situação média, esse autor assim se exprime: “O Espírito, sem ser limitado pelo espaço e pelo tempo, tem do espaço e do tempo conhecimento parcial. Pode orientar-se, achar uma pessoa viva e segui-la. É capaz de ver no presente coisas que aparecem para nós como situadas no passado e outras que estão no futuro. O Espírito tem conhecimento dos pensamentos e emoções que, da parte dos seus amigos, se referem a ele”. Quanto à diferença de acuidade nas impressões, já podemos fazer uma idéia pelos sonhos chamados “emotivos”. A alma, quando desprendida, embora incompletamente, não só percebe, mas também sente com intensidade muito mais viva que no estado de vigília. Cenas, imagens, quadros, que, quando estamos acordados, nos impressionam fracamente, tornam-se no sonho causa de grande satisfação ou de vivo sofrimento. Isso nos dá uma idéia do que podem ser a vida dos Espíritos e seus modos de sensação, quando, separados do invólucro carnal, a memória e a consciência recuperam a plenitude de suas vibrações. Compreendemos desde logo como pode a reconstituição das recordações do passado converter-se em fonte de tormentos. A alma traz em si mesma o seu próprio juiz, a sanção infalível de suas obras, boas ou más. Tem-se reconhecido isso em acidentes que podiam ter causado a morte. Em certas quedas, durante a trajetória percorrida pelo corpo humano a partir de um ponto elevado acima do solo, ou então na asfixia por submersão, a consciência superior da vítima passa em revista toda a vida gasta, com uma rapidez espantosa. Revê-a completamente em seus mínimos pormenores em poucos minutos. Tudo o que o Espírito fez, quis, pensou, em si reverbera. Semelhante a um espelho, a alma reflete todo o bem e todo o mal feito. Essas imagens nem sempre são subjetivas. Pela intensidade da vontade, podem revestir uma natureza substancial; vivem e manifestam-se para nossa felicidade ou nosso castigo. Tendo se tornado transparente, depois de desencarnada, a alma julga-se a si mesma, assim como é julgada por todos aqueles que a contemplam. Só, na presença do seu passado, vê reaparecerem todos os seus atos e as suas consequências, todas as suas faltas, até as mais ocultas. Para um criminoso não há descanso, não existe esquecimento. Sua consciência, justiceira inflexível, persegue-o sem cessar. Debalde procura ele escapar-lhe às obsessões; o suplício só poderá acabar se, convertendo-se o remorso em arrependimento, ele aceita novas provações terrestres, único meio de reparação e regeneração. Compilado por Harmonia Espiritual do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor. 

Autor.: Léon Denis