segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A raiva destruidora

O homem aprende à custa de muita dor e sofrimento a cuidar do corpo, após conhecer (ou ignorar) a variedade, podemos afirmar, infinita de vermes, bactérias, vírus e micróbios infelicitadores da sua vestimenta carnal. 

Desconhece, no entanto, tudo quanto infelicita a alma, os “bacilos” pestilenciais, causadores de tantos males e distúrbios, cuja patogênese se acha nela própria.

 Nesta oportunidade, iremos deter-nos, um pouco que seja, nesse “bacilo” que é tão nosso conhecido, encontrado com tanta freqüência nas camadas nervosas mais sutis do psiquismo humano. Está alojado lá, e resiste a todos os apelos do bom senso, da medicina terrena e espiritual, malgrado seja a causa de tantas experiências dolorosas que infelicitam a condição somática do ser. 

Queremos referir-nos à raiva. 

Antes de prosseguirmos, notemos onde ela, raiva, se estriba para intoxicar todo o cosmo neurológico da criatura. 

A raiva somente assoma à periferia da criatura porque o orgulho, instalado no seu interior, foi atingido duramente. 

Fosse ela humilde, a raiva não teria como se plantar e espraiar-se por toda a sua estrutura. A raiva tem a sua raiz na forma de julgar as situações e os fatos. 

Escolhemos, impomos e também fantasiamos determinado padrão de comportamento, modelando o de acordo com o nosso ponto de vista. Se a pessoa tem ou não conhecimento desse padrão, para nós pouco importa.

 Não corresponder às expectativas das pessoas é motivo para terem raiva de nós, malgrado sejam as expectativas irreais e irrealizáveis. 

A mãe de uma menina tinha-lhe raiva por ela não ser loura, e um pai exigia que a filha relatasse, com minúcias, grandes tragédias sem mexer as mãos e sem alterar o tom de voz. Não ser atendido em seu desejo o deixava raivoso. 

Estes dois casos foram relatados pelo Dr. Brian Weiss no seu livro A Divina Sabedoria dos Mestres, da GMT Editores Ltda. Dois relatos que mostram até onde chega a doença espiritual motivada pela raiva.

 É bem verdade que os casos acima são mais raros, ou pelo menos somente nos consultórios de psicanalistas, psiquiatras, psicoterapeutas eles chegam ao conhecimento. Os demais motivos de provocação da raiva vividos pelo ser humano são bem conhecidos de todos.

 A irritação é o estopim. Aceso, fica incontrolável. 

Voltando ao “relacionamento pais e filhos”, importa que possa existir um reconhecimento recíproco de que alguém incorreu em erro após se agredirem verbalmente.

 Consertar a atitude errada é próprio de almas enobrecidas pela humildade. 

Os pais que são cultivadores de motivos para sentir raiva, costumam exigir demasiadamente dos filhos, provocando trauma nestes, mais cedo ou mais tarde. 

É costume os pais exigirem de seus filhos que sejam produtivos e inteligentes como eles são, ou, em outros casos, gostariam de ter sido. 

Nessas horas, os pais se realizam em cima dos filhos. É um grande erro porque sabemos, segundo a Doutrina Espírita e a reencarnação, que nossos filhos são herdeiros de si mesmos, trazem para o hoje o que foram ontem. 

Exigir dos filhos o que eles não possuem traumatiza-os, torna-os insatisfeitos e daí para o conflito no relacionamento é um passo. 

Conhecemos certo pai que chegou ao absurdo de não ir ao casamento da filha, não ajudou nada nas despesas desse evento, e culminou o seu despreparo paternal quando, ao ser indagado por alguém da família se iria ao casamento, respondeu com outra pergunta: “Mas que casamento”? 

Outro pai obriga o filho de vinte anos a ser tão diligente e entendido de negócios como ele próprio, chegando ao absurdo de despedir o filho como se ele fora um empregado qualquer, deixando-o desempregado e tendo que se sustentar.

 O salário que pagava ao filho era um minguado salário mínimo de R$ 130,00. Espíritas que somos, é muito importante que olhemos os filhos como Espíritos que na verdade são, estejam em qualquer fase de crescimento. 

Outro motivo de raiva é a preocupação com o que pensam de nós. Não nos importemos com isso, desde que estejamos fazendo o que nos parece certo, agindo sem prejudicar ninguém.

 Assim procedendo evitamos a instalação da raiva em nós. 

Culpar-nos e ficar girando mentalmente em torno da raiva por havermos errado é uma forma trágica de ter raiva de nós mesmos. 

Nunca nos culpemos, doentiamente. Uma coisa é reconhecer o erro, prometer não incidir nele; outra, bem diferente, é permitir encharcar-se do sentimento de culpa, da monoidéia culposa e cultivá-la. 

A criatura está sujeitando-se a todas as suas seqüelas; uma delas a obsessão, a participação perniciosa, infecciosa de mentes doentias na casa mental do raivoso.

 O desapontamento leva à raiva de nós mesmos. Duas atitudes existem para o desapontamento: perseverar ou desistir. 

Cabe analisar a causa do desapontamento e de forma detalhada, consciente, sem paixão.

 A raiva, como vamos percebendo, é perniciosa, inútil, destrutiva. Somente pode ser dissolvida pela compreensão e pelo amor. 

O Dr. Brian Weiss narra outro caso de muita beleza, no livro supracitado, que lhe foi contado por uma avó. 

A neta de quatro anos era sistematicamente agredida pela outra mais velha. Reagia, no entanto, assim: “Não faz isso comigo, não. Eu sou sua irmãzinha e fico triste com seu modo de me tratar!” Afirmou a avó que, passado algum tempo, a mais velha de suas netas mudou o comportamento diante da reação amorosa da mais nova. 

Quando sentirmos raiva, perguntemos se ela resolve a questão que nos aborrece. 

Veremos sempre que não. Pelo contrário, sempre prejudica. Por quê? Ora, a raiva é sintoma de estresse que provoca uma mudança do nosso ritmo cardíaco, da pressão sangüínea e dos níveis de açúcar no sangue, ocasionando desequilíbrio fisiológico. 

É aconselhável que, ao sentirmos raiva, respiremos profundamente, tentemos descobrir os motivos que a desencadearam e busquemos como resolver a questão. 

Com toda a certeza desaparecerá o apego à raiva.

 Isto tem a sua razão de ser porque existem criaturas que são verdadeiras fomentadoras da raiva, cultivam-na, só sabem viver sob a sua influência. 
Agem e falam sempre com raiva. 

Nestas criaturas a doença não demora a instalar-se. 

Quem ama não sente raiva, porque o amor é o seu antídoto. A raiva somente se apropria de quem não ama.

 O ritmo vibratório de quem ama é eficaz eliminador de qualquer emoção nociva desequilibrante. Dissolve-a, antes dela instalar-se. É difícil um sistema imunológico resistir por muito tempo a quem constantemente se irrita, se enraivece. 

A desarmonia vibratória logo explode nas paredes do estômago, nos vasos sangüíneos do coração e da cabeça e vai por aí afora destruindo toda reserva de resistência interior do organismo.

 O ser humano não sabe que é o seu emocional em desequilíbrio que lhe provoca tanta dor e sofrimento, tanta desarmonia para viver em paz. 

É notório o papel desempenhado pela mídia: o de projetar para o homem modelos de pessoas vencedoras, verdadeiros heróis possuidores da “raiva justa”. 

São eles os Rambos, os Exterminadores do Futuro, os Ninjas, os Policiais imbatíveis, os Heróis de Ficção e toda uma gama de falsos modelos. 

São figuras que se vão tornando arquetípicas e forjam cada vez mais a raiva, o ódio, a frieza dos sentimentos diante da dor alheia. 

São imagens em desserviço para a nossa sociedade, principalmente por impressionarem fortemente a formação das crianças, as quais, em boa maioria, não encontram em seus lares, com raras exceções, os bons exemplos de amor ao próximo. 

No fundo, a raiva só possui uma função: destruir-nos pelo funcionamento destrambelhado da química do nosso sistema imunológico ou pela bala disparada por quem for alvo de nossa raiva. 

Compreensão e amor, vamos repetir, destroem a raiva, trazem-nos saúde e bem-estar físico, emocional, psicológico e espiritual. 

O amor é sempre um alívio para todo e qualquer tipo de dor. 

Ele vivido, sentido em plenitude imuniza, cria barreiras intransponíveis contra as causas e os efeitos da raiva. 

Amemo-nos muito, mais um pouco, em nome e por amor a Jesus, Ele que fez do que poderia ser a sua dor, a sua raiva, um hino de Amor para a Humanidade.

 ADÉSIO ALVES MACHADO

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