quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O médico das almas


Jesus curava o corpo, pretendendo com isso curar a alma. 
A enfermidade, disse ele, é herança do pecado. 
Por esta expressão simples, porém profunda, concluímos que a origem das doenças está no Espirito.
 As manifestações exteriores são efeitos de uma causa interna. Coerente com este critério, Jesus disse ao paralítico que padecera 38 anos e a quem havia curado: “Olha, já estás bom; portanto, toma cuidado, não peques mais, para que não te suceda coisa pior”. Pecar é tentar contra as leis naturais, que tudo abrangem, envolvendo os planos físico e moral. Deus criou o Espirito e criou o corpo, sujeitando ambos ao imperativo daquelas leis. 
A higiene é a religião do corpo; a Religião é a higiene da alma. Toda cura opera-se de dentro para fora, precisamente porque, as raízes do mal que afeta o corpo estão no Espírito.  Ha causas cujos efeitos são imediatos; outras existem de con­sequências remotas; mas, o fato incontestável é que o principio de causalidade rege á Vida. 
As enfermidades constituem anomalias, pois o natural é que o homem seja são. Para remi-lo da servidão do pecado, origem dos distúrbios físicos e psíquicos, veio Jesus ao mundo. Por isso, quando deu a vista aos cegos, audição aos surdos, voz aos mudos, etc, não agiu em desacordo com as leis naturais, mas de plena conformidade com elas, de vez que, restituindo a vitalidade aqueles orgãos, restabeleceu as suas legitimas funções.
 Os olhos foram feitos para ver, os ouvidos para ouvir, as cordas vocais para articularem a palavra. 
Aprendemos no Evangelho que o corpo não é coisa desprezível. Jesus atendeu sempre com solicitude e bondade ás suplicas de todos os enfermos que o procuravam, restaurando-lhes a saúde. Encarando as mazelas humanas com piedade e comiseração, Ele não se enojava delas. Estendeu, por vezes suas mãos benfazejas sobre os estigmas e as deformidades ocasionadas pela lepra, restabelecendo o corpo doente na sua conformação natural e nas suas linhas de harmonia e de beleza.
 Jamais deu a entender a qualquer enfermo que não convinha zelar do físico e curar da sua conservação. Ensinou, pelo exemplo, que a matéria, como instrumento do Espirito, deve ser convenientemente cuidada, de modo a prestar-se aos fins a que se destina. 
Instrumentos desafinados e faltos de zelo comprometem a obra dos melhores artistas. As reações entre o físico e o moral, o moral e o físico, são reciprocas e continuas, decorrendo desse fenômeno a necessidade do Espirito trazer o corpo debaixo do seu domínio. 
Governar e dirigir a matéria, nunca, porém, despreza-la e, menos ainda, abandona-la aos caprichos e aos arrastamentos do instinto. 
O corpo, disse S. Paulo, é templo de Deus. Para que o seja de fato, acrescentamos nós, é preciso que esteja sob o impeério do Espirito. Das curas operadas pelo Divino Escu­lapio resultam dois benefícios: um de ordem material, outro de natureza espiritual. 
O primeiro consiste em sarar o corpo, que é geralmente o que todo doente procura; o segundo revela-se na comunhão que então se estabelece entre o beneficiado e o benfeitor, isto é, entre o paciente restabelecido e aquele que promoveu a cura. Desta relação decorre o supremo bem para o Espirito, a sua redenção, ou, seja, a conquista da saúde permanente do ser imperecível. Tal a meta visada pelo Cristo de Deus. 

Vinícius Fonte: Reformador – abril, 1936 

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