segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Operações Espirituais

Dos xamãs e feiticeiros dos primórdios da humanidade, ao brasileiro “José Arigó”, as curas e operações espirituais continuam sendo um dos assuntos mais discutidos do Espiritismo e da parapsicologia, ainda que nem sempre tão investigado quanto deveria.

O local pode ser uma casa simples ou um grande galpão. À porta, formam-se filas imensas de pessoas que já tentaram de tudo para se curar, mas sem êxito.

 Movidas basicamente pela fé, quando não pelo desespero, elas vão atrás da solução oferecida pela atuação dos espíritos, que se manifestam através de um médium.

No interior do local de cura, o médium se desloca de uma maca a outra, fazendo incisões com facas de cozinha, tesouras ou com as próprias mãos, sem qualquer tipo de assepsia. 

Nenhuma anestesia é usada, mas as pessoas não sentem dor e, muitas vezes, sequer percebem que o médium as está operando.

As imagens, já mostradas em larga escala nas revistas, jornais e canais de televisão, são impressionantes. Os corpos são abertos com um mínimo de sangramento, tumores são extirpados e problemas que a medicina julgava insolúveis acabam sanados em questão de minutos. 

Até poucos anos atrás, essas operações eram comuns no Brasil e deram origem a algumas das maiores controvérsias envolvendo a atuação de espíritos em nosso planeta.

Com raras exceções, a medicina não aceita a explicação de que os espíritos são responsáveis pelos prodígios e geralmente atribui a eliminação da dor ao chamado "efeito placebo", que consiste na administração de pílulas sem qualquer efeito medicinal, mas que o paciente acredita serem extremamente eficazes, uma auto-sugestão, com resultados positivos comprovados estatisticamente.

 Nesse caso, a fé na cura seria o ingrediente que atua como curador, segundo a ciência.

No entanto, já foram registrados casos de pessoas operadas e curadas com sucesso mesmo não acreditando na atuação dos espíritos. Apesar da descrença da ciência, existem inúmeros cientistas de várias partes do mundo que se dedicaram ao estudo das curas mediúnicas, tanto no Brasil quanto em outros países, especialmente nas Filipinas, onde o fenômeno parece ser tão comum quanto aqui.

Alguns pesquisadores entenderam que o que estava ocorrendo não era apenas um produto da fé das pessoas, mas que algum tipo de ocorrência paranormal, ou espiritual, estava de fato em curso. 

É verdade que a idéia de que os espíritos estejam atuando através de médiuns perdeu um pouco de sua credibilidade depois que vários médiuns foram acusados de estarem fraudando as operações e ganhando dinheiro com a esperança de cura dos pacientes.

Para muitos espíritas, no entanto, aqueles que sempre se colocaram contra a noção de que os espíritos podem interferir em nosso mundo, fazem de tudo para desacreditar esse tipo de acontecimento; independentemente das fraudes, que certamente existem, os casos comprovados seriam numerosos.

O que parece mais certo é que falta um acompanhamento científico mais detalhado e isento sobre as operações e curas espirituais.

 Cientistas americanos que estiveram no Brasil, por exemplo, chegaram a demonstrar interesse em estudar os pacientes supostamente curados, fazendo um levantamento de quantos teriam sofrido uma recaída da doença, e quantos teriam realmente se curado. Não se tem notícia de que essa pesquisa tenha sido realizada.

É difícil saber ao certo a quantidade de médiuns, verdadeiros ou falsos, que continuam realizando curas e operações em todo o Brasil. Sabe-se de alguns que recebem pessoas em suas próprias residências, sem cobrar coisa alguma e sem fazer propaganda de suas atividades; e aqueles que têm intenção de fraudar estão bem mais cuidadosos.

É mais comum se ouvir falar de curas espirituais realizadas sem o auxílio de instrumentos e sem cortes. 

A energização é uma das palavras mais utilizadas, e inúmeras técnicas têm sido apresentadas como capazes de curar males físicos, ainda que poucas vezes estejam associadas à atuação dos espíritos. 

Vários estudiosos do assunto entendem que esse tipo de cura é muito mais antigo do que o Espiritismo, remontando às mais antigas tribos humanas.

As curas realizadas pelos xamãs e feiticeiros seguiam num rumo semelhante; eles atuavam na Terra em nome ou com a permissão dos espíritos ancestrais, sendo responsáveis pela cura de todo tipo de problemas dos habitantes de suas comunidades, inclusive com a aplicação de noções rudimentares de psicologia.

Muitos espíritas afirmam que a questão já foi devidamente tratada por Allan Kardec em vários textos. No capítulo XIV do livro “A Gênese”, por exemplo, ele se refere à ação dos fluidos sobre a matéria, e ao pensamento lógico de que esse conhecimento espírita deveria ser aplicado para ajudar o corpo físico dos seres humanos, ou seja, na cura de doenças.

A idéia geral é que os espíritos têm a capacidade de manipular os chamados fluidos, que podem ser entendidos como energias existentes tanto neles quanto nos seres encarnados, nos quais passa a ser chamado de “fluido vital, fluido magnético ou ectoplasma”.

As doenças são vistas, então, como um problema no “perispírito”, com repercussão no “corpo físico” e, através da transmissão de fluidos do espírito para o perispírito dos encarnados, ocorreria a cura do corpo. 

O fato de que essas curas acontecem por meio dos médiuns é explicado: eles são as pessoas mais preparadas para realizar o contato entre nossa dimensão e a outra.

A vontade torna-se elemento fundamental no processo, pois é através dela que o desencarnado pode agir sobre a matéria. E a cura ainda envolveria a “qualidade do fluido”, que está diretamente ligada ao padrão moral e orgânico do doador. 

Assim também se explica por que nem todas as pessoas podem efetuar curas.

No Brasil, o caso que mais chamou a atenção foi, sem dúvida, o de “Zé Arigó” (1921–1971), médium que realizava operações inacreditáveis sob a direção de um espírito. Segundo ele, tratava-se de um médico alemão falecido na Primeira Guerra Mundial, a quem chamou de Adolf Fritz.

Apesar de, segundo as informações, ele ter realizado uma série de curas com sucesso, os céticos jamais aceitaram a situação, alegando que Fritz não é um sobrenome alemão e que as pesquisas realizadas nos arquivos da época foram infrutíferas: o suposto médico não existe nos registros da Alemanha, mesmo quando foi dito que seu nome verdadeiro era “Adolph Yeperssoven”.

Outros já disseram que o nome que ele forneceu era de pouca importância, uma espécie de disfarce utilizado pelo espírito do médico, assim como o sotaque alemão que Arigó e outros depois dele apresentavam quando o doutor assumia o comando das operações.

 O início das atividades do médium segue um padrão mais ou menos comum nos paranormais de vários países.

A partir de 1950, ele começou a sentir dores de cabeça fortíssimas, insônia e a ter visões que o perturbavam bastante, além de ouvir uma voz que se repetia constantemente. 

Para a medicina, tais sinais são distúrbios que precisam ser tratados, talvez pela neurologia, mas, no mundo dos fenômenos espíritas, são encarados como indícios de atividade parapsíquica, de um contato que se inicia.

Foi o que aconteceu quando o suposto espírito que lhe falava tomou seu corpo e ele pôde ver a figura de um homem de avental branco supervisionando um grupo de médicos numa sala de cirurgia. Começava assim a convivência de Arigó com o Dr. Fritz que, segundo disse, escolhera o médium para realizar curas na Terra, guiando suas mãos nas atividades mais complexas.

O sucesso de Arigó levou milhares de pessoas a visitá-lo em Congonhas do Campo, Minas Gerais, em busca de auxílio. 

A notoriedade lhe rendeu, igualmente, um processo por curandeirismo movido pela Associação Médica de Minas Gerais, tendo sido condenado a quinze meses de prisão, mas recebendo o indulto do então presidente Juscelino Kubitschek. Foi preso novamente em 1962, mas continuou atuando dentro do presídio.

Ainda que, como já foi dito, poucas pesquisas tenham sido realizadas com o pós-operatório dos pacientes, vários pesquisadores, cientistas ou não, puderam confirmar que cerca de 95% dos diagnósticos fornecidos por Arigó estavam corretos.

Após a morte de Zé Arigó, num acidente automobilístico, o Dr. Fritz voltaria a se apresentar e realizar mais curas. O escolhido foi o médico “Edson Queiroz” que, ao contrário de Arigó, afirmava receber a visita de espíritos desde criança, ele brincava com pessoas que ninguém mais conseguia enxergar, apesar de seus pais ouvirem vozes desconhecidas pela casa.

Aos dez anos, Queiroz começou a ver seres que se diziam índios ou caboclos. Segundo o médium, ele só ingressou na faculdade de medicina porque recebeu uma mensagem do plano espiritual mandando que fizesse isso, no momento em que se preparava para cursar engenharia. Diziam que ele tinha uma missão a cumprir, o que de fato aconteceu.

Segundo alguns, tratava-se de mais uma fraude, aproveitando o sucesso da presença do Dr. Fritz; para outros, era o mesmo fenômeno se repetindo, e as operações eram tão bem-sucedidas e procuradas quanto as de Arigó. Edson Queiroz também chegou a ser processado e acusado de fraude. Ele faleceu em 1991.

Mais recentemente, o Dr. Fritz voltou a ser o centro das atenções quando o engenheiro eletrônico “Rubens de Faria” ganhou notoriedade por realizar o mesmo tipo de operações, dizendo estar em contato com o médico alemão, e falando com o mesmo sotaque. 

Curiosamente, o médium “José Penuz”, do Paraná, também disse operar em nome do Dr. Fritz; ele estaria em contato com seu espírito desde a morte de Queiroz, e o próprio Dr. Fritz lhe teria dito que Rubens de Faria nunca foi utilizado por ele nas operações que realiza.

Rubens de Faria chegou a ser preso e processado, acusado de tomar dinheiro das pessoas que o procuravam. Ele atuava principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro e, após um período afastado da mídia, voltou às atividades.

 A briga entre os dois representantes do Dr. Fritz deixou ainda mais suspeitas de fraude no ar, tornando quase impossível qualquer tipo de investigação científica do fenômeno, se é que ele está ocorrendo de fato.

Diz-se que Faria realizou uma cirurgia na coluna do ex-presidente Figueiredo e que foi procurado por Leandro, da dupla Leandro e Leonardo. Alguns também afirmaram que o ator Christopher Reeve procurou a intervenção do médium.

Fraude ou não, o fato é que o fenômeno das operações espirituais ocorre em todo o planeta, com maior ou menor intensidade e divulgação.

 O caso do Dr. Fritz já foi muito comentado como sendo provavelmente o único de um espírito que se manifesta em diferentes médiuns.

O Brasil também costuma ser visto como um campo fértil para o surgimento de curadores, alguns com menor notoriedade que Arigó, como Ivan Trilha e outros menos cotados, mas que também contam com um esperançoso grupo de seguidores.

Os curadores das Filipinas também já fizeram sua história de operações tidas como milagrosas, que chegaram a ser gravadas em vídeo e apresentadas num congresso de parapsicologia. 

Nos Estados Unidos, que possui um campo mais aberto para atividades da chamada “Nova Era e curas espirituais”, também surgem operadores espirituais de renome, como Harry Edwards, falecido em 1976, e que deixou montada uma organização razoável, ainda em atividade.

O que se comprova em todos esses casos, sem sombra de dúvida, é que está em curso um tipo de fenômeno ligado aos estudos da parapsicologia.

 Com ou sem êxito nas operações metafísicas, o fato é que os curadores conseguem realizar suas atividades sem causar dor nos pacientes, o que por si só já é algo a ser estudado com cuidado. Da mesma forma, o fato das operações serem realizadas sem qualquer tipo de assepsia e não apresentarem conseqüências, como infecções, já é, por si só, um fenômeno.

Apesar dos pesares, hoje em dia, grande número de pesquisadores na área médica já presta atenção aos fenômenos paranormais, tentando incorporar os conhecimentos daí obtidos a técnicas já consagradas da medicina. Se dessas investigações forem descobertos métodos eficazes de realizar operações sem o uso de anestésicos, já será um imenso sucesso.

A maior dificuldade talvez seja incorporar aos estudos científicos a noção da intervenção dos espíritos, que ainda encontra uma resistência imensa.

Médiuns de várias partes do mundo e diferentes épocas parecem ter muito em comum quando se trata de incorporar espíritos e se preparar para uma operação.

 É verdade que alguns entram em transe e, após a operação, pouco ou nada sabem do que aconteceu, enquanto outros mantêm uma semi-consciência. Uns afirmam que podem ver o espírito antes que ele tome conta de seu corpo, enquanto outros apenas têm a sensação de perder a consciência.

Um aspecto sempre comentado é que os médiuns que realmente estão querendo servir ao próximo não cobram coisa alguma pelas consultas, daí serem habituais as acusações de fraude sempre que existe algum tipo de pagamento.

Também é comum os espíritos dizerem que assepsia e anestesia são desnecessárias, e até mesmo que os instrumentos utilizados servem mais para conforto do paciente, que precisa sentir que "alguma coisa" está sendo feita: na verdade, o médium poderia operar apenas com as próprias mãos, o que às vezes de fato ocorre.

O próprio Dr. Fritz dizia, quando manifestado, que a cura deve ser realizada no “corpo espiritual”, uma vez que o “corpo físico” é apenas um reflexo daquele, tornando os instrumentos desnecessários.

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