quarta-feira, 6 de novembro de 2013

É muito simples

Não sou feliz! 
A felicidade não foi feita para mim! 
Exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. 

Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”. 

Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. 

Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram. 

Estas observações constam de uma manifestação registrada no capítulo V, item 20, de O Evangelho segundo o Espiritismo, recebida em 1863, assinada pelo Espírito Morlot, que foi importante prelado católico, cardeal e arcebispo de Paris. 

Desencarnou em 1862. Leia a manifestação por inteiro, leitor amigo, e constatará que suas virtudes eram compatíveis com seus títulos, justificando a autêntica glória de participar da Codificação da Doutrina Espírita, meses após o retorno à vida espiritual.

 Ele se reporta a algo que qualquer pessoa de bom senso pode constatar: não existe a felicidade em plenitude na Terra, até porque seria uma incoerência.

 Não estagiamos em celeste paraíso. A Terra está muito mais para purgatório, mundo de expiação e provas, habitado por Espíritos orientados pelo egoísmo.

 Concebem alguns psicólogos interessante ideia: O anseio de felicidade seria um truque da Natureza, que nos faz pensar, trabalhar, estudar, produzir, casar, ter filhos... Sempre objetivando essa suprema realização. 

Lembra a imagem do burro diante da cenoura pendurada à sua frente, numa vara presa à carroça que vai puxando, movido pela ânsia de alcançá-la. 

Podemos, de vez em quando, com o balanço da carroça existencial, dar uma mordiscada na cenoura – conseguir algo do que desejamos –, mas não podemos nunca abocanhar a cenoura inteira, o que equivaleria a perder o estímulo para novas realizações. Conclusão: não é interessante alcançar a felicidade em plenitude. Cairíamos na inércia, marcando passo nos caminhos da evolução.

 Talvez o problema maior esteja no fato de que nem mesmo conseguimos definir com precisão o que é a felicidade. 

Não raro, julgando caminhar em sua direção, desembocamos no extremo oposto – a infelicidade. 

Dentre esses caminhos equivocados, o cardeal Morlot cita três, que devem merecer nossa atenção: riqueza, poder e juventude.

 Riqueza.
 As pessoas dizem, jocosamente: Dinheiro não traz felicidade, manda buscar. Em princípio parece verdadeiro. Quem herda uma fortuna ou acerta a Mega-Sena acumulada, experimenta alto nível de satisfação, antessala da felicidade. No entanto, pesquisas demonstram que logo retorna aos níveis costumeiros, automaticamente.
 Pior: não raro, o rico tem tantas preocupações com a administração de seus bens, que resvala para patamares inferiores de inquietação, porta fechada para a satisfação. 

Poder. 
Vamos simplificar a expressão, situando-a como a capacidade de mandar nas pessoas. 

Suprema realização seria o absolutismo monárquico do passado.

 Os reis eram situados como representantes divinos para gerir os destinos dos súditos, até com poder de vida e morte sobre eles. 
Palavra de rei era a vontade de Deus. 

Hoje as pessoas devem contentar-se com menos. Mandar na família, por exemplo. O problema é que nos tempos atuais, de expansão da liberdade individual, fica complicado governar cônjuge e filhos, sempre dispostos a cometer a ousadia de não acatar nossas ordens, furtando-se às nossas expectativas.

 Se a pessoa espera demasiado da família, querendo moldá-la às suas conveniências, vai decepcionar-se. 

É preciso respeitar o direito de cada um ser o que é, e tudo o que podemos fazer, no sentido de mudar algo do cônjuge e filhos, é mudar a nós mesmos, oferecendo um padrão do que julgamos o comportamento ideal.

 Hoje como ontem e sempre, a melhor influência é a do exemplo. 

Juventude.
 Define Goethe, o grande poeta e escritor alemão: 
A juventude é a embriaguez sem vinho. Perfeito! 

Podemos considerar essa embriaguez sob dois aspectos: A inconsequência que marca o jovem, empenhado em usufruir do momento que passa, as noitadas alegres que hoje começam no horário em que deviam terminar; ficar, o prazer sem compromisso dos relacionamentos amorosos fugazes, o sexo sem amor; a busca do paraíso nas drogas... 

Por outro lado, a insegurança de quem balança na indefinição do próprio futuro, em relação à profissão e ao lugar que deve ocupar na vida social. 

Os anseios viram receios, e fica a felicidade para o futuro, quando se formarem, quando obtiverem sucesso na profissão, quando se casarem, quando tiverem filhos... 

Teólogos medievais ensinavam que somente no céu, o paraíso das almas eleitas, é possível a felicidade perfeita, em contemplação eterna. 

Tenho minhas dúvidas, porquanto, há de ser muito enjoado um lugar assim, sem chance para a felicidade.

 No rescaldo dessas ideias todas, resta a ideia fundamental, básica, de quem veio até nós justamente para nos mostrar o caminho da felicidade: Jesus. 
Relata o evangelista Lucas (17:20-21): E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o Reino de Deus, respondeu-lhes Jesus: O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! 

Porque eis que o Reino de Deus está dentro de vós. Ensina Morlot que a felicidade perfeita não existe na Terra, este rigoroso estabelecimento de ensino, que funciona também como doloroso purgatório ou tormentoso inferno para os alunos rebeldes. 

Realmente, seremos sempre felizes fracionariamente, digamos, quando consideradas as condições do Mundo em que vivemos.

 Não obstante, seremos felizes por inteiro no mundo que construirmos na intimidade de nossas almas, a partir do momento em que estivermos dispostos a cumprir o que Deus espera de nós. 

É tão simples, amigo leitor, que só o egoísmo exacerbado, entranhado em nossas almas, nos impede de entender e cumprir isso. 

O que nosso Pai espera de nós, como não se cansou de ensinar Jesus, é que nos amemos uns aos outros e façamos pelo próximo exatamente o que gostaríamos que o próximo fizesse por nós.

 Richard Simonetti Reformador Set.09

Nenhum comentário:

Postar um comentário