quarta-feira, 24 de julho de 2013

Os bons espíritas

A o analisarmos o item 4, do capítulo XVII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, com o mesmo título do presente artigo, verificamos a grandeza da lição oferecida por Allan Kardec, definindo, com perceptibilidade, as características do autêntico espírita, que se torna legítimo cristão, coerente com os ensinos evangélico-doutrinários que adquire. 

O texto, de notável luminosidade, leva-nos a refletir sobre a importância de promover mudança de rumo em nossa existência, prontos para atender ao chama mento da mensagem libertadora, como oportunidade única de alcançarmos objetivos retificadores.

 Ao conquistarmos as efetivas condições espirituais para evolução de nós mesmos, somos atingidos no coração e reconhecidos como verdadeiros espíritas pela nossa transformação moral e pelos esforços que empregamos para domar nossas inclinações infelizes. 

Desventuradamente, no entanto, nem sempre estamos dispostos a seguir certas lições que o Espiritismo nos proporciona; somos espíritas que, sem entender a essência dos ensinamentos doutrinários, acreditamos poder continuar na ilusão de júbilos engano e nos excessos das satisfações pessoais buscadas com ambição desmedida. 

Ao comentar o problema, em O Livro dos Médiuns, o Codificador, com propriedade e sabedoria, qualifica de espíritas imperfeitos: Os que no Espiritismo veem mais do que fatos; compreendem lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. 
Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse.
 O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e os ciosos sempre hostis. 

Considera a caridade cristã apenas uma bela máxima.  Kardec chegou a essa conclusão após minuciosos estudos do perfil dos inúmeros adeptos que se ligaram à Doutrina, evidenciando que, essencialmente, “os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências” e que “ tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso”, são os espíritas cristãos, aqueles que realmente compreende a necessidade de cumprir com disciplina e nobreza os princípios da Consoladora Revelação.

 Para efeito das reflexões que o tema possa suscitar, é importante encaminhar essas ideias para o trabalho que executamos na seara espírita, onde é preciso cultivar certa austeridade evangélica sem olvidar a humildade ativa. 

Nas ideias expostas pelo escritor espírita Indalício Mendes (1901 - 1988), encontram-se significativas contribuições sobre a questão, ao analisar os antagonismos existentes entre irmãos de um mesmo credo: O Espiritismo é e tem de ser cultivado pela humildade laboriosa. Sem humildade não há espírito evangélico nem há solidez doutrinária. Devemos insistir em que a Doutrina de Kardec seja a pedra de toque da formação moral de todos aqueles que ingressam no Espiritismo e nele permanecem. 

Não podemos ter a veleidade de aspirar posições de relevo, muito menos de adquirir supremacia nisto ou naquilo. Nosso dever, perante Jesus e perante o Espiritismo, é ser humildes de coração, absolutamente fiéis às determinações doutrinárias e ao Evangelho segundo o Espiritismo. 

É indispensável pesar as consequências dos nossos atos e adquirir postura realmente cristã. Enganam-se aqueles que acham que as realizações espíritas existem para disputar lugar nos labirintos do poder religioso. Cumpre-nos, antes, trabalhar no bem e exemplificar, cuidando para que tenhamos a capacidade de cultivar genuínos sentimentos de amor e solidariedade para com os companheiros de jornada. 

A sabedoria consiste em nos aproximarmos cada vez mais uns dos outros, efetuando, em nossas instituições, ações conjuntas que favoreçam a missão do Consolador Prometido em prol da evangelização da coletividade terrestre. A valiosa mensagem dada pelo benemerente Espírito Bezerra de Menezes enfatiza o extraordinário papel do Espiritismo no mundo e exalta a disposição de Kardec, que “experimentou  as incompreensões, fora e dentro dos arraiais do Movimento Espírita (mas), teve a coragem de não desaminar; teve o valor moral de não arremeter contra; soube expor a Doutrina com elevação, mas viveu a cristãmente, santamente, dando nos o legado incorruptível que devemos preservar, para passar à posteridade”. 

Exemplos históricos e da atualidade mostram os grandes erros cometidos em nome do Cristianismo, pois, “infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação”. 

Sabedor das dificuldades encontradas junto aos admiradores espíritas de sua época, o insigne Kardec, ao elaborar o capítulo I de A Gênese, que tem como título “Caráter da Revelação Espírita”, ressalta, em nota ao item: Diante de declarações tão nítidas e tão categóricas, quais as que se contêm neste capítulo, caem por terra todas as alegações de tendências ao absolutismo e à autocracia dos princípios, bem como todas as falsas assimilações que algumas pessoas prevenidas ou mal informadas emprestam à doutrina. Não são novas, aliás, estas declarações; temo-las repetido muitíssimas vezes nos nossos escritos, para que nenhuma dúvida persista a tal respeito. Elas, ao demais, assinalam o verdadeiro papel que nos cabe, único que ambicionamos: o de mero trabalhador. 

Essa advertência nos alerta para as inclinações que surgem do passado longínquo, tornando-nos, vez ou outra, personalistas e ávidos por posições transitórias de destaque, nas instituições espíritas em que atuamos. 

Por que pretensões individuais se o campo edificante a semear desdobra-se para todos? O educador espiritual Emmanuel afirma que: O discípulo não pode ignorar que a permanência na Terra de corre da necessidade de trabalho proveitoso e não do uso de vantagens efêmeras que, em muitos casos, lhe anulariam a capacidade de servir. 

 Onde permanece a atração do interesse pessoal, não é possível o cultivo dos sentimentos de justiça, amor e caridade, expressos nas leis morais. A orientação dada pelos Espíritos reveladores contém preciosos esclarecimentos sobre como devemos aproveitar os ensinos espíritas para que se transformem em abençoadas regras de viver: Toda virtude tem o seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem.

 Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto.

 A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade. 

 Outro ponto a destacar é que o espírita, ciente de sua responsabilidade, se preocupa com a disciplina, com o tempo e passa a ter mais ampla noção do dever, que lhe exige a realização de ações irrepreensivelmente executadas. 

O Espírito Emmanuel aviva-nos para um problema a enfrentar: aquele que assim age, em exatos momentos,  supõe-se com mais vasta provisão de direitos. E, por vezes, leva mais longe que o necessário a faculdade de preservá-los e defende-los, iniciando as primeiras formações de irascibilidade, através da superestimação do próprio valor. 

Instalado o sentimento de auto importância, a criatura abraça facilmente melindres e mágoas, diante de lutas naturais que considera por incompreensões e ofensas alheias.

  Essa característica comporta mental procura solidificar e de clareara sua individualidade, prejudicando, sensivelmente, aqueles que assim agem, colocando-os em posição crítica perante os demais companheiros, que passam a julgá-los intolerantes e excessivamente autoritários. 

A aceitação de pensamentos opostos aos nossos nos leva ao consenso. Essa preocupação, inspirada pela bondade, saberá olhar com equilíbrio para o proceder alheio. Entretanto, “se a nossa consciência jaz tranquila no aproveitamento das oportunidades que o Senhor nos concedeu, estejamos serenos na dificuldade e operosos na prática do bem, à frente de quaisquer circunstâncias”, esforçando-nos para sermos bons espíritas.

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